Caros leitores,
É lógico que uma das prioridades sentidas neste momento é o processo de retomada econômica decorrente do avanço da vacinação em diferentes países, ainda que a variante ômicron tenha causado alguns empecilhos em sua concretização.
Nesse sentido, trazemos hoje uma notícia que destaca a redução das projeções do Fundo Monetário Internacional à economia brasileira nos próximos anos, que demonstram uma dificuldade do País em garantir uma retomada célere e efetiva, inclusive como uma forma de reduzir o desemprego e a desigualdade que se ampliaram com o contexto de crise.
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Ygor Alonso é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).
O Fundo Monetário Internacional (FMI) derrubou suas previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2022 de 1,5% (em outubro passado) para 0,3%. A revisão consta do relatório Perspectiva Econômica Mundial, divulgado nesta terça-feira (25/1) em Washington D.C.
No documento, o órgão também reduz sua expectativa para o país em 2023: agora, prevê que o Brasil crescerá 1,6% no próximo ano, contra 2% da estimativa anterior.
Dentre 15 grandes economias que tiveram as métricas revistas (entre as quais, China, EUA, México, África do Sul e Índia), o Brasil sofreu proporcionalmente o pior tombo e foi o único a ficar abaixo da taxa de 1% de crescimento em 2022.
Na média, embora a expectativa de crescimento para a América Latina também tenha recuado (menos 0,6 ponto percentual), a região deve crescer 2,4% em 2022, índice oito vezes maior do que o do Brasil. Se comparada à projeção feita pelo fundo para os mercados emergentes, a desvantagem do país é ainda mais significativa: países em desenvolvimento devem crescer 4,8% ante a 0,3% do Brasil.
"A expectativa (de crescimento) se enfraqueceu no Brasil, onde a luta contra a inflação levou a uma resposta forte de política monetária, que pesará na demanda do mercado interno. Dinâmica semelhante ocorre no México, embora em menor escala", afirmou o FMI em seu relatório.
O fundo faz alusão ao aumento da pressão inflacionária: segundo o IBGE, a alta de preços média no Brasil fechou o ano de 2021 em 10,06%. Essa é a maior taxa acumulada desde 2015, bem acima da meta de 3,75% definida pelo Conselho Monetário Nacional.
Em resposta, o Banco Central acionou ferramentas da chamada "política monetária": em dezembro, aumentou a taxa básica de juros, a Selic, para 9,25% ao ano. Com isso, o mercado consumidor brasileiro deve desacelerar, o que esfria a alta de preços mas também a atividade econômica nacional.
Reduções em série no Brasil
Em outubro, o FMI já havia sinalizado para uma redução na expectativa de crescimento do Brasil. À época, a taxa saiu de 1,9% para 1,5%. A economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, disse na ocasião que a revisão vislumbrava os "efeitos esperados com o aumento dos juros na política monetária, diante da inflação alta no Brasil".
Em resposta, o ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou duramente a revisão do FMI. "Eles vão errar de novo. Vamos crescer o dobro do que eles estão dizendo", afirmou Guedes em outubro, durante visita à capital americana Washington. Pelos cálculos de Guedes, o Brasil cresceria ao menos 2% em 2022.
Segundo o ministro, o FMI perdeu credibilidade depois de estimar que o PIB do Brasil despencaria mais de 9% em 2020. O recuo, na verdade, ficou em 4,1%, graças às medidas de transferência de renda na pandemia e de preservação de emprego.
Em dezembro, após assinar a dispensa da missão do FMI do Brasil, Guedes afirmou que "já há muitos anos (os técnicos do FMI) não precisavam estar aqui. Ficaram porque gostam de feijoada, futebol, conversa boa, e de vez em quando criticar um pouco e fazer previsão errada".
No fim do ano, Guedes e a equipe econômica lidaram com forte pressão externa devido à decisão da gestão Bolsonaro de rever a regra do teto de gastos para acomodar despesas com o novo programa social do governo e com o pagamento de emendas parlamentares. A manobra fiscal, que exigiu alteração das regras de pagamento dos precatórios para gerar caixa, foi mal recebida pelo mercado internacional.
O mundo crescerá menos em 2022
Em termos globais, o novo relatório do FMI prevê que a economia mundial crescerá 4,4% - 0,5 ponto percentual a menos do que a previsão de outubro.
A redução foi puxada por quedas na expectativa de crescimento das duas maiores forças econômicas do mundo - EUA e China. No caso americano, a redução do escopo do pacote de investimento em infraestrutura proposto pelo presidente americano, Joe Biden, e a falta de insumos para indústria e de mão de obra explicam a redução de 1,2 ponto percentual no ritmo de crescimento (agora em 4%).
Já na China, problemas no mercado imobiliário e a retomada mais lenta do que o esperado no consumo doméstico são a explicação para o recuo de 0,8 ponto percentual na projeção de crescimento para 2022, em 4,8%.
Gopinath afirmou que "a recuperação global enfrenta vários desafios à medida que a pandemia entra em seu terceiro ano. A rápida disseminação da variante Ômicron levou a novas restrições de mobilidade em muitos países e aumentou a escassez de mão de obra. As interrupções no fornecimento ainda pesam sobre a atividade econômica e estão contribuindo para o aumento da inflação de alimentos e energia".
Segundo ela, as altas dívidas públicas dos países e também a inflação, alta no mundo todo, reduzem a capacidade de resposta das nações para amortecer esses choques na economia.
Gopinath, no entanto, ressalta que apesar do enorme número de casos causados pela Ômicron, a aparente menor severidade da doença e o fato de que alguns países já estão na descendente da onda de infecções levam o FMI a acreditar que seus impactos negativos devem ser superados já no segundo trimestre de 2022.