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sexta-feira, 28 de maio de 2021

Por que a Petrobras é estratégica?


Caros Leitores,

Com o acirramento das discussões sobre privatizações de companhias tal como a Eletrobrás, retoma-se análises sobre o papel destas estatais e sociedades de economia mista para o pleno andamento do campo econômico e a competitividade de mercado. Diante disso, hoje trazemos uma notícia que busca traçar o papel exercido pela Petrobrás no ambiente nacional, trazendo consigo repercussões em esfera política e mesmo social. 


Esperamos que gostem e compartilhem!


Ygor Alonso é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).


É preciso perguntar para os críticos das estatais porque consideram a Petrobras uma empresa passível de ser desnacionalizada e descapitalizada. Duvide, leitor, da palavra privatização toda vez que seu interlocutor a usar como panaceia para os problemas da estrutura produtiva e social no Brasil. No início deste século, os Estados Unidos ascenderam à posição de poder global assentando sua hegemonia sobre o tripé: armas, dólar e petróleo. O ouro negro é um produto estratégico para qualquer economia, imagine, para a maior de todas. Prova disso é que o arranjo econômico-institucional norte-americano para a gestão petrolífera nunca foi matéria exclusiva das autoridades energéticas e regulatórias, sempre foi tema do aparato de defesa e política externa, conformando uma conurbação entre estratégias nacionais e interesses empresariais.


A ascensão do shale gas americano, por exemplo, teve uma profunda conexão com o governo americano que adotou uma série de medidas não só apoiando as empresas privadas, mas formulando programas específicos para o desenvolvimento de novas formas de energia desde os anos 1970. Com a criação do Departamento de Energia dos Estados Unidos (Departament of Energy – DOE) no final daquela década, que surgiu com o objetivo de centralizar o planejamento e promover a autossuficiência energética americana. Desde então houve um significativo crescimento das inovações e investimentos no setor de energia. Junto à criação do DOE, o Ato de Segurança Energética (em 1980) lançou medidas e programas de incentivos à eficiência e conservação energética, além de combustíveis alternativos. Nesse período, foram desenvolvidas 139 novas fontes de energia alternativas ou não convencionais, dentre elas o shale gas.


No Brasil, a construção da Petrobras foi resultado da convergência de interesses de forças sociais, políticas, econômicas, civis e militares que desaguaram na campanha “O petróleo é nosso” (em 1953). Quem conhece a história da indústria no Brasil sabe que, em um primeiro momento, a assessoria econômica de Getúlio Vargas propôs a criação de uma empresa petrolífera formada por capital privado. No entanto, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, nos EUA, nessas plagas não tivemos nenhum J. D. Rockefeller verde-amarelo disposto a desbravar uma frente com riscos elevados e retornos incertos.


Sendo assim, se impôs a necessidade de formação de uma empresa estatal. Mais ainda, ao contrário do que ocorreu em outros países do Oriente Médio, onde a presença de petróleo se sabia certa, e, portanto, a consolidação da atividade de exploração e produção (E&P) era mais segura, no Brasil o desafio primeiro passou pela busca de autossuficiência em derivados e refinados, para só depois o país se lançar diante de atividades de E&P absolutamente incertas. Esse risco foi assumido pelo Estado e por uma empresa estatal, com o apoio de trabalhadores e de uma sociedade vibrante, prova disso é que nessa mesma época pulsavam movimentos pela educação popular e pela saúde pública, hoje infelizmente esquecidos pela memória curto-prazista de liberais provincianos.


A Petrobras não foi criada apenas por ousadia do poder público, mas também por timidez da iniciativa privada. Aqueles que hoje reivindicam a privatização da Petrobras demandam os retornos da concorrência depois que o mercado já foi constituído, difícil mesmo é assumir os riscos empresariais quando o mercado ainda está em constituição. Se o empresariado brasileiro se constrangeu diante das atividades de prospecção de petróleo em terra, é impensável que tivesse o ímpeto de se lançar no desbravamento da descoberta de petróleo no mar, área em que a petrolífera brasileira encontrou sua vocação, desde o início da produção na Bacia de Campos (em 1977) até as descobertas em águas ultra-profundas do pré-sal (em 2007).


E isso não é uma especificidade do caso brasileiro: (i) porque quase 90% das reservas mundiais estão nas mãos de governos ou de estatais, que são também, responsáveis por grande parte da produção mundial e por suas descobertas; (ii) porque as áreas promissoras de exploração estão sob controle das estatais; (iii) porque as grandes reservas se localizam em países onde as estatais desempenham papel fundamental.


Infelizmente a visão subalterna sobre o Brasil produziu uma elite econômica e intelectual sempre disposta a culpar o povo pelas mazelas do país e sempre disponível para absolver os grupos dominantes de sua responsabilidade, tudo bem regado a uma idealização da história norte-americana e um profundo desconhecimento da história brasileira. O desenvolvimento econômico, industrial, científico e tecnológico, tanto lá quanto cá, contou com o apoio e o investimento estatal, seja por meio, por exemplo, das compras públicas no caso do complexo militar-econômico dos EUA, seja por meio de políticas de conteúdo local na estrutura empresarial-industrial do Brasil.


No entanto, há ainda em pleno século XXI quem queira enquadrar a economia brasileira dentro de uma ideia frágil de patrimonialismo, como se a mistura entre as esferas pública e privada fosse uma singularidade brasileira e não uma característica da economia de mercado em geral. Apenas para ficarmos no período mais recente, nos EUA o Departamento de Estado dos governos Bush e Trump foi ocupado por figuras ligadas à indústria petrolífera, Condoleezaa Rice oriunda da Chevron e Rex Tillerson ligado à ExxonMobbil utilizaram os seus cargos públicos para arbitrar em favor de interesses petrolíferos privados inúmeras vezes, o mesmo se deu com o próprio vice-presidente Dick Cheney que utilizou sua influência para beneficiar empresas como a Halliburton, para não mencionar as diversas revelações de lobby, corrupção e tráfico de influência que vieram à lume com as divulgações feitas por Julian Assange ou Edward Snowden.


A despeito de todas as evidências há no Brasil quem insista em tratar a relação entre indústria petrolífera e corrupção como uma especificidade local. A questão não é o patrimonialismo, o problema “é o liberalismo, estúpido!” que se deixa seduzir pela falsa livre-concorrência dos países centrais e se curva de cócoras para a criminalização da política industrial e para o desmonte da indústria nacional em países periféricos. 


Sem a Petrobras não haveria campos do pré-sal, refinarias, infraestrutura e logística de gás dentre tantas outras frentes do setor energético, sem a petrolífera brasileira o que há é desindustrialização, apagões em regiões do país, preços proibitivos de combustíveis e gás, por isso se trata de uma empresa estratégica. Nem a quebra do monopólio da petrolífera brasileira em 1997 serviu para que empresas privadas fizessem investimentos novos nos montantes exigidos por um país com as dimensões do Brasil. O que os apologetas da privatização desejam não é a livre-competição, mas sim o desmonte da petrolífera brasileira para que possam construir seus oligopólios privados.


Se aos olhos dos neoliberais a Petrobras parece sofrer de gigantismo talvez isso digo menos sobre o tamanho da empresa brasileira e mais sobre o nanismo de setores que insistem em tratar o país não como Nação, mas como negócio.

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sexta-feira, 21 de maio de 2021

Convite - Webinar GPEIA Maio

Caros leitores, 

É certo que a temática ambiental assume importância ímpar no calendário político global. Com a insurgência de questões atinentes ao aquecimento global e a necessidade de um desenvolvimento sustentável, novos assuntos que permeiam inclusive a democracia ambiental e a coparticipação no trati para com a natureza se tornam campos relevantes de debate.

Nesse sentido, gostaríamos de convidar a todos para a terceira palestra da Série de Webinars do Grupo de Pesquisa Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF), que ocorrerá de forma virtual via Google Meet. 

Neste webinar conversaremos sobre "Gestão democrática ambiental e metodologias participativas" com Celso Maran , que é Professor do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, apresentando ainda como debatedora a Professora Giulia Parola do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO. 

O webinar será realizado no dia 26 de maio, às 18h (Horário de Brasília) e será realizado em Português.  As inscrições podem ser feitas no link a seguir:


bit.ly/webinar-gpeia4


Participe conosco e traga seu ponto de vista sobre essa discussão!

Ygor Alonso é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).

domingo, 16 de maio de 2021

Mundo rejeita a austeridade como solução para crise


Caros Leitores,

Com o advento do impacto econômico ocasionado pela pandemia, se dá início à uma reflexão das atitudes dos governos em relação à dívida e aos gastos públicos, o que traz a tona o debate da política de austeridade fiscal como uma possível solução para a crise. Neste sentido, trazemos a notícia de hoje que coloca em debate tal questão, fazendo um diálogo entre diferentes escolas de pensamento econômico.

Esperamos que gostem e compartilhem!

Ygor Alonso é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).

Sentei à frente do computador para escrever a primeira coluna de 2021 depois de assistir a um episódio da série Chicago PD. O episódio trata de um policial negro que contou a verdade sobre um tiroteio entre negros pobres e policiais brancos à cata de drogas.


Um policial branco foi atingido no tiroteio e morreu. As investigações foram deflagradas sob o suposto da inexorável culpabilidade dos negros “traficantes”. O policial negro da inteligência, Distrito 21, comandado pelo controvertido sargento Voight, teve o desassombro de contar a verdade e acusar o policial branco de iniciar o tiroteio “sem causa provável”.


O episódio termina com a matilha de policiais brancos tentando atemorizar o colega negro quando chegava à sua casa, com um desfile noturno de carros oficiais, faróis acesos. No meio da rua, desafiando as viaturas, o policial negro exclamava: “Podem vir, estou aqui!”


Escrevi esse preâmbulo para homenagear o editor-executivo do jornal Valor, Pedro Cafardo. Em seu artigo na edição de 5 de janeiro, Cafardo teve o desassombro de furar a nuvem espessa de conformidades economicistas e amorais que guiam o debate curupira acerca da política fiscal austericida, seríssima ameaça às condições de vida de milhões de brasileiros.


Vou citar o trecho que considero o mais expressivo: “Trata-se de uma situação excepcionalíssima que, aqui e em qualquer outro lugar, exige decisões excepcionais. É inegável que o auxílio emergencial teve e terá, se for prorrogado, impacto positivo no consumo e na produção, o que tende a melhorar a relação dívida/PIB, preocupação-mor dos falcões. Segundo DeLong, ‘a lição mais importante (da atual crise) que ainda não foi absorvida é que, em uma economia profundamente deprimida, os empréstimos e gastos do governo aumentam a prosperidade de curto e longo prazo do país’. Por isso, esses gastos mais expandem a capacidade fiscal do que aumentam o peso da dívida”.


Entre as pérolas lapidadas pelos corifeus do pensamento economicista figura com aplomb a austeridade expansionista. Esse prodígio da inventividade dos economistas apoia-se na suposição de efeitos virtuosos acarretados pelo equilíbrio fiscal sobre as expectativas dos agentes relevantes.


A economia é autorregulada pelas forças da racionalidade do homo economicus. Deixada aos desígnios da racionalidade dos agentes, ela tende naturalmente ao equilíbrio de longo prazo, proporcionando o máximo de bem-estar para os cidadãos, resguardadas as limitações da escassez de recursos e as possibilidades oferecidas pelo avanço tecnológico. Na visão economicista, a política fiscal deve estar encaminhada para uma situação de equilíbrio intertemporal sustentável, dito estrutural. A política monetária assentada na coordenação das expectativas dos indivíduos racionais (regime de metas) controlada por um banco central independente.


Nas angústias e tropelias da pandemia, diz meu companheiro Gabriel Galípolo: ”Nada como a visão da forca para clarear a mente”. Assim seja: a economista-chefe da OCDE, Laurence Boone, em entrevista ao Financial Times, disse que o impacto econômico da pandemia deve mudar a atitude dos governos em relação aos gastos públicos e à dívida. Ele teme que uma nova onda de austeridade poderia provocar uma reação popular. Os governos devem assumir o controle dos Bancos Centrais como o principal motor do estímulo econômico.


AURENCE BOONE, ECONOMISTA-CHEFE DA OCDE, DEFENDE OUTRA ATITUDE EM RELAÇÃO AOS GASTOS PÚBLICOS E À DÍVIDA


Não foi outra a orientação do economista conservador Glenn Hubbard aos senadores republicanos. Em meados de março, Hubbard conversou com Marco Rubio, da Flórida, Susan Collins, do Maine, e Roy Blunt, do Missouri. Apenas Collins tinha mandato na crise financeira de 2008, quando o Congresso aprovou 700 bilhões de dólares para resgatar ativos podres. Agora, a encrenca estava na casa dos trilhões. Ampliar o déficit e expandir o gasto do governo federal eram anátemas para a bancada republicana. Para alguns integrantes, isso cheirava socialismo. Rubio sinalizou que nunca apoiaria tais gastos em tempos normais. “Você precisa fazer alguma coisa”, advertiu Hubbard. “Estamos debatendo há décadas o tamanho do governo. O debate mais interessante é, no entanto, o escopo do governo.” Ele falou de Abraham Lincoln, presidente republicano: “Lincoln decidiu editar o Homestead Act, a lei de concessão de terras, e estabelecer as bases para a Ferrovia Transcontinental. Se Lincoln, no meio da Guerra Civil, teve a ideia de usar o governo como um instrumento, por que não podemos fazer isso hoje?”


Nos primeiros meses de avanço do vírus, o jornalista da Bloomberg Peter Coy entrevistou Hubbard, ex-reitor da Columbia Business School e também conselheiro econômico-chefe de Bush, além de Alberto Alesina, de Harvard, patrono da austeridade expansionista, recentemente falecido. Hubbard foi incisivo: “Embora a política não possa compensar o choque de oferta, ela pode garantir que a demanda não afunde. Enviar cheques para indivíduos de baixa e moderada renda seria útil e deveria ser possível. Os mercados estão precificando cenários terríveis por causa da queda da confiança. Um grande programa de infraestrutura tranquilizaria as empresas a respeito da demanda futura – os projetos não precisam estar ‘prontos’ para que isso funcione… Embora a profanação das regras fiscais não seja o objetivo, os formuladores de políticas devem priorizar a segurança sobre o déficit de curto prazo”.


O austero expansionista Alesina emendou: “Eu não sou um falcão do déficit. Sou um economista que entende as prescrições de uma política fiscal ideal: executar déficits maciços quando há uma necessidade temporária, como agora com o vírus, e reduzi-los em períodos normais de crescimento… A questão da austeridade e seu efeito é irrelevante agora porque não precisamos de austeridade”.

Aqui, na desditosa Pindorama, o presidente da República declara: “O País está quebrado. Não posso fazer nada. A culpa é da imprensa”. Na contramão do policial negro da série Chicago PD, ele explicou aos apoiadores: “Não estou aqui, não sou capaz de tomar decisões”


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sexta-feira, 7 de maio de 2021

Convite - Webinar FGV


Caros leitores,

Uma das temáticas do momento, indubitavelmente, é a Reforma Tributária. Pauta antiga do cenário nacional, a ideia de modificação do sistema tributário brasileiro, alvo de críticas por especialistas de diferentes correntes econômicas, tornou-se prioridade no âmbito das reformas econômicas dos últimos anos, trazendo consigo pontos controvertidos que se tornam fontes de análise crítica.

Nesse sentido, convidamos a todos para o Webinar "Análise Econômica da Reforma Tributária", promovido pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ) em parceria com o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3). Ocorrendo no dia 12 e 14 de maio de 2021, de 10 às 12:00, traz consigo nomes relevantes do assunto, inclusive do Poder Judiciário, para analisar a temática.

O link para inscrição pode ser encontrado a seguir:


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Ygor Alonso é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Vacina contra covid: fortuna dos 10 mais ricos 'pagaria imunização para o mundo todo', diz Oxfam

Caros Leitores,

Diante da discussão sobre o processo de patentes envolvendo os essenciais imunizantes para o combate da pandemia da COVID-19. Com a nova posição tomada pelos Estados Unidos no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), tem-se diferentes nuances inclusive em termos geopolíticos diante da escassez de oferta de vacinas em cenário global.

Dessa forma, trazemos hoje uma notícia que busca combater, sob o prisma da desigualdade de renda, a possibilidade de aquisição destes imunizantes, tendo como base uma pesquisa realizada pelo reconhecido instituto Oxfam.

Esperamos que gostem e compartilhem!

Ygor Alonso é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).

A riqueza combinada dos 10 homens mais ricos do mundo aumentou durante a pandemia do coronavírus em US$ 540 bilhões (R$ 2,9 trilhões), segundo a Oxfam (organização que trabalha pela redução da desigualdade).

Segundo a entidade, essa quantia seria suficiente para pagar por uma vacina para todos os 7,5 bilhões de seres humanos no planeta e ainda evitar que pessoas caiam na pobreza por causa da pandemia. 

O relatório mostra que a riqueza estimada dos bilionários é equivalente a todos os gastos de todos os governos do G20 (o grupo de 20 países mais ricos) no combate à pandemia.

A instituição está pedindo aos governos mundiais que considerem criar impostos sobre os super-ricos para financiar o combate ao coronavírus.

Comparação simbólica

O relatório da Oxfam, chamado O Vírus da Desigualdade, foi publicado enquanto os líderes globais se reuniam virtualmente para uma reunião do Fórum Econômico Mundial.

Os pacotes de auxílio bilionários lançados por diferentes países para amortecer os efeitos da pandemia de covid-19 sobre a economia acabaram promovendo um boom nas bolsas de valores. Com os juros baixos e a grande liquidez, muitos investidores migraram para a renda variável em busca de maior rentabilidade.

Isso levou a uma valorização das ações de diferentes empresas — e, por consequência, do valor de mercado dessas companhias e da fortuna daqueles que detêm uma parcela delas.

Assim, em parte por decorrência desse efeito, a fortuna dos bilionários do planeta saltou de US$ 3,9 trilhões (R$ 21,32 trilhões) para US$ 11,95 trilhões (R$ 65,33 trilhões) entre 18 de março e 31 de dezembro de 2020 — aumento equivalente ao aporte feito pelos governos dos países membros do G20 para fazer frente à pandemia, de acordo com o relatório.

O objetivo do levantamento da Oxfam é evidenciar as desigualdades de renda globais. Na prática, parte da fortuna dos bilionários do mundo não necessariamente pode ser convertida em dinheiro vivo no curto prazo. No caso dos investimentos em ações, por exemplo, a riqueza pode flutuar a depender do desempenho do mercado e só entra na conta corrente de seus detentores caso eles se desfaçam dos papéis.

As 10 pessoas mais ricas do mundo incluem o fundador da Amazon, Jeff Bezos, o cofundador da Tesla, Elon Musk, e o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg.

O relatório diz que Bezos lucrou tanto em setembro de 2020 que poderia ter dado a todos os 876 mil funcionários da Amazon um bônus de US$ 105 mil (R$ 574 mil) e ainda ser tão rico quanto antes da pandemia.

Enquanto isso, para os mais pobres a recuperação dos efeitos da pandemia pode demorar mais de uma década. A Oxfam estima que entre 200 milhões e 500 milhões de pessoas estavam vivendo na pobreza em 2020, revertendo o declínio da pobreza global visto nas últimas duas décadas.

"Achamos que esta é uma oportunidade para fazer algo radical, para reconsiderar a taxação de grandes fortunas e os impostos corporativos", diz Danny Sriskandarajah, CEO da Oxfam no Reino Unido.

"Precisamos considerar aumentar a renda básica de cada cidadão."

Os mais ricos do mundo não estão fazendo a sua parte?

Desde o início da pandemia houve um número considerável de mega-doações de celebridades, atletas famosos e empresários para o combate ao vírus.

Em um relatório de outubro de 2020, o banco UBS disse que 209 bilionários destinaram um total equivalente a US$ 7,2 bilhões (R$ 40 bilhões) entre março e junho de 2020 para lutar contra a covid-19.

"Eles reagiram rapidamente, da forma como se faz ajuda humanitária em desastres, fornecendo subsídios e permitindo que as entidades que receberam decidam a melhor forma de usar dinheiro", acrescentou o relatório.

No entanto, essa contribuição dependeu da vontade individual de cada um — apesar do grande debate sobre o assunto, houve poucas iniciativas de países de fato taxando grandes fortunas no meio da crise. A Argentina foi um deles: o país aprovou um imposto que tributa uma única vez fortunas acima de 200 milhões de pesos (R$ 13 milhões) em até 3,5%.

Quem doou?

No mês passado, MacKenzie Scott, a ex-mulher de Jeff Bezos, anunciou que doou mais de US$ 4 bilhões (R$ 21,87 bilhões) para bancos de alimentos e fundos de ajuda emergencial em quatro meses.

Em junho do ano passado, Bezos disse que doou US$ 125 milhões (R$ 683 milhões) para a luta contra o coronavírus.

O cofundador do Twitter, Jack Dorsey, anunciou em abril que estava transferindo US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões) de seus ativos para um fundo de apoio ao combate à pandemia e a outras causas. Isso era cerca de um quarto de seu patrimônio líquido, de US$ 3,9 bilhões (R$ 21,3 bilhões).

A escritora JK Rowling, autora de Harry Potter, destinou 1 milhão libras (R$ 7,5 milhões) para ajudar moradores de rua e vítimas de violência doméstica durante a pandemia.

Enquanto isso, o fundador da Microsoft, Bill Gates, e sua mulher, Melinda, destinaram US$ 305 milhões (R$1,6 bilhões) para vacinas, tratamento e desenvolvimento de métodos de diagnóstico por meio de sua fundação de caridade. A Fundação Bill e Melinda Gates também é o terceiro maior doador da Organização Mundial de Saúde (OMS).

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sábado, 1 de maio de 2021

Convite

Caros leitores,

O multilateralismo tende a ser analisado de forma mais enfática diante do contexto que vivenciamos, diante das mudanças vividas e a necessidade de se pensar sua aplicabilidade, bem como propor mudanças, em uma perspectiva futura que envolve uma forma de viver diversa daquela anteriormente vivida, em que se enfrentam novos desafios.

Diante disso, viemos convidá-los ao Webinar "Multilateralismo hoje: novas condições políticas e narrativas dos diferentes atores", promovido pelo Núcleo Multilateralismo do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) em parceria com a Fundação Konrad Adenauer. 

O Evento ocorrerá à partir das 9:00 do dia 03 de maio, e trará nomes renomados no assunto tal como Kishore Mahbubani, Distinguished Fellow do Asia Research Institute, National University of Singapore e Richard Haass, Presidente do Council of Foreign Relations (CFR), contando ainda com a presença de Celso Lafer.

As inscrições podem ser feitas no link a seguir:


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Ygor Alonso é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).