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segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Convite!


Caros leitores,

Viemos convidá-los ao Webinar "O Futuro da ONU e sua importância para o Brasil", promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e pela Fundação Fernando Henrique Cardoso (FFHC). O evento ocorrerá no dia 29/10/2020 a partir das 18:00 e contará com a participação de:

Embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti (ONU);

Ministro Celso Lafer (CEBRI e FFHC);

Embaixador Gelson Fonseca (CEBRI);

Julia Dias Leite (CEBRI);

Sergio Fausto (FFHC).

Nos 75 anos da Organização das Nações Unidas, enfrentamos uma significativa crise do conceito de multilateralismo, em que a ONU ocupa o papel central.  O Brasil, enquanto um dos Estados fundadores da instituição, constituíra histórica posição em defesa de temáticas como direitos humanos, bem como a propositura de reformas como a do Conselho de Segurança.

É nesse contexto que o Webinar propõe uma análise sobre o futuro da ONU nesse cenário de questionamentos ao ambiente multilateral, bem como a importância da instituição para o País.

Esperamos que gostem e participem!

Lucas Pessoa e Ygor Alonso são membros do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).


Inscreva-se no Webinar aqui

domingo, 25 de outubro de 2020

Maioria dos brasileiros relativizou democracia durante a pandemia



Caros Leitores,

É certo que a pandemia do novo coronavírus resulta em diferentes consequências ao convívio social, bem como ao próprio ambiente econômico. No entanto, conforme passamos por este período e vimos a ascensão de projetos de recuperação e ideários questionáveis, fatos preocupantes como a própria sustentabilidade do ambiente democrático surgem e ilustram consequências nefastas que encontram-se subentendidas. 

Nessa matéria, percebemos como a pandemia resultou em relativização da própria democracia, como isso pode decorrer da construção social latino-americana e como as fake news e a difusão de conhecimentos inverídicos participam de todo esse processo. 

Esperamos que gostem e compartilhem!

Lucas Pessoa e Ygor Alonso são membros do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF) 

Em algum grau, 82,5% dos brasileiros aceitam a relativização do regime democrático desde que o objetivo do governo seja resolver os problemas e melhorar a vida da população. Foi o que apontou a primeira etapa da pesquisa "Valores em Crise 2020", conduzida pelo Instituto Sivis e pelo Instituto Votorantim em meio à pandemia de covid-19.

O objetivo do levantamento, explica a gerente de Pesquisa e Impacto do Instituto Sivis, Thaise Kemer, é descobrir como a percepção dos entrevistados sobre a crise do coronavírus se transformou ao longo da pandemia e como essas mudanças de perspectiva afetaram seus valores morais e orientações sociais.

Para tanto, o estudo será conduzido em três etapas: a primeira, no meio da crise, foi aplicada em maio e junho de 2020 e já teve seus resultados divulgados; a segunda, será realizada no momento em que a vida pública começar a voltar à normalidade, o que se espera que aconteça ainda nos meses finais de 2020; e a terceira deve ocorrer um ano após a primeira, em meados de 2021.

"A pandemia oferece uma oportunidade única para estudar como os valores morais das pessoas se comportam em tempos de crise. Esse cenário de incerteza levanta várias questões importantes de pesquisa: as pessoas mudam seus valores em um contexto de crise? Se sim, como essas mudanças de valores se manifestam?", comenta a pesquisadora.

Segundo Kemer, a relativização da democracia demonstra um grave problema, indicando que falta conhecimento sobre as implicações desse regime para a vida em sociedade.

Ela também diz que a pandemia aprofundou desigualdades já existentes no país: aproximadamente 40% dos entrevistados receberam dinheiro de algum auxílio emergencial, enquanto 34,6% sofreram impactos econômicos severos, como perda de emprego ou fechamento do negócio próprio.

"Esse cenário pode ter consequências deletérias para a democracia brasileira, ao tornar mais difícil que parcelas expressivas da sociedade tenham acesso a ferramentas e conhecimentos relevantes para o exercício democrático”, pontua.

‪Amélia do Carmo Sampaio Rossi, doutora em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e professora do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), afirma que há várias crises ocorrendo simultaneamente. Na visão da docente, a baixa adesão ao regime democrático lhe parece ligada de forma estreita a uma crise econômica mundial, agravada pela pandemia da Sars-CoV-2. ‬‬

Ela também ressalta que o regime democrático não pode ser visto apenas como a vontade da maioria, ou autogoverno popular, mas como o respeito intransponível a todos os direitos fundamentais. Nesse ponto, ela diz acreditar que as democracias atuais têm falhado.

"O medo, a insegurança para com os rumos da vida, as exclusões e assimetrias, a crise das democracias representativas – muitas vezes sequestradas pelo poder econômico-financeiro aliado aos dados digitais – tudo isso colabora para que o valor democrático fique em segundo plano", esclarece.

Rossi diz ainda que não há como precisar se o dado apontado pela pesquisa do Instituto Sivis seria diferente em tempos de "normalidade", vez que o conceito é relativo – não há, por exemplo, subjetividade na fome. Só poderia ser considerada "normal" uma sociedade com plena justiça social e acesso a bens básicos, como saúde, educação, segurança alimentar, assistência social, entre outros.

"Não é possível gozar de uma efetiva liberdade para uma comunidade se esta não está associada ao acesso aos bens básicos e à ideia de dignidade e mínimo existencial. Melhorar a vida deve significar criar maiores planos de igualdade material. Ou devemos acreditar que falta dinheiro no mundo?", questiona a docente.

Fragilidade histórica

Para Marília Veronese, docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), existe uma fragilidade histórica em relação à consolidação da democracia no continente americano.

"O colonialismo ibero-americano a partir do ‘descobrimento' resultou em um encontro colonial extremamente violento, calcado na relação de exploração e extração das riquezas naturais, que foram drenadas e impulsionaram a revolução industrial europeia" diz. "Aqui, porém, tivemos um genocídio da população indígena e uma destruição dos conhecimentos e culturas originários da América Latina. Mais tarde, tivemos mais violência com a escravização dos africanos."

A cientista social também aponta que a instabilidade democrática verificada ao longo do século 20, com períodos ditatoriais, como o Estado Novo e o regime militar no Brasil e as demais ditaduras do Cone Sul, é um fator que contribuiu para essa fragilidade.

O fato de os brasileiros aceitarem que o governo passe por cima do Congresso, das leis e das instituições em tempos de crise, como apontaram os resultados da pesquisa "Valores em Crise 2020", demonstra um comportamento que é sintomático dos déficits existentes na cultura democrática brasileira, diz Kemer.

"A cultura democrática passa por uma internalização dos significados sociais e institucionais da democracia para a vida dos cidadãos. Nesse sentido, ao relegar as bases do regime democrático a um segundo plano, é possível que a pandemia esteja demonstrando fragilidades da democracia brasileira que têm natureza estrutural", opina.

Fake news

Outro fenômeno atual que pode gerar impactos significativos na democracia são as fake news. Um estudo realizado pela Avaaz, rede para mobilização social global através da internet, apontou que sete em cada dez brasileiros acreditaram em pelo menos uma notícia falsa sobre a pandemia do coronavírus.

Rossi afirma que a digitalização da política e as fake news criaram modos de estabelecer uma pós-verdade. "A manipulação e o uso de informações por meio de algoritmos influenciam as escolhas políticas. Estamos diante de um novo ‘voto de cabresto digital'; não somos obrigados a escolher este ou aquele candidato, mas a manipulação escolhe por nós", considera. "Há muitos e novos problemas para pensarmos no século 21, muitas perguntas que levam a reflexão, mas, por enquanto, nenhuma resposta."

Já para Kemer, o índice trazido pela pesquisa da Avaaz é reflexo da desinformação e impacta prejudicialmente o jogo democrático: uma população mal informada, diz a especialista, não tem elementos pertinentes para fiscalizar o trabalho dos governantes e exigir seus direitos.

"Trabalhar contra a desinformação é um requisito fundamental para fortalecer a democracia brasileira, e esse combate passa tanto pela valorização de diálogos plurais quanto pela busca em assegurar que cidadãs e cidadãos brasileiros tenham os conhecimentos necessários para tomar decisões conscientes sobre o futuro", conclui.

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quinta-feira, 22 de outubro de 2020

"O Dilema das Redes": documentário da Netflix é ponta do iceberg de problemas muito maiores.


Caros leitores,

O debate envolvendo as redes sociais e o papel exercido por estas encontra-se cada vez mais profundo no ambiente acadêmico e na sociedade em geral. A participação, voluntária ou não, destas no espectro político e na disseminação de discursos culmina em controvérsia que produz efeitos, inclusive, no próprio cenário econômico. 

É perante esse contexto e diante do debate proposto pelo documentário "O Dilema da Redes"que Marina Martini Lopes destrincha, com apoio de especialistas de diferentes áreas, o papel das redes sociais no mundo atual e se o cenário apresentado pelo documentário condiz com aquele faticamente atestável.

Esperamos que gostem e compartilhem!

Lucas Pessoa e Ygor Alonso são membros do Grupo de Pesquisas Estados Instituições e Análise Econômica do Direito" (GPEIA/UFF).  

Uma família norte-americana se vê diariamente mergulhada em discussões e problemas relacionados ao uso exagerado do celular e das redes sociais: no jantar, não conversam mais. A mãe tenta controlar o tempo de uso do celular por parte dos filhos; que parecem zumbis sem propósito quando não estão com o aparelho nas mãos - não têm outras distrações ou interesses. O filho mais velho é, num piscar de olhos, absorvido por vídeos do YouTube que o empurram cada vez mais na direção de um movimento político duvidoso, batizado "Radicais de Centro". A filha mais jovem chora em frente ao espelho depois de receber um comentário negativo sobre sua aparência após postar uma selfie cheia de filtros.

Confesso que não fiquei muito impressionada com O Dilema das Redes, documentário da Netflix que tomou conta das conversas no WhatsApp na última semana: as situações clichê, as atuações fracas, e a representação do famigerado algoritmo das redes sociais como três homens malvados controlando os pensamentos do filho adolescente mais atrapalham do que ajudam a contar a história central; baseada nos depoimentos de diversos especialistas da indústria, que largaram seus empregos em redes sociais e aplicativos como Facebook, Instagram, Twitter, Pinterest, Google e Gmail ao começar a se incomodar com os dilemas éticos que viam em seus trabalhos. O principal deles é Tristan Harris, ex-funcionário do Google, presidente e cofundador do Center for Humane Technology. 

Mas mesmo os depoimentos são simplistas - deixam muita coisa de fora, e apresentam "soluções" que não são realmente soluções (ou, pelo menos, não são factíveis para todo mundo), do tipo "delete todas as suas redes sociais". Terminei de assistir O Dilema das Redes com uma sensação de "e daí?". E decidi ir atrás para entender melhor qual é a grande questão aqui.

"É bom levar em conta que o problema das redes sociais não cabe num filme, e que propaganda, bullying e desinformação são problemas bem mais complicados do que o filme mostra", escreveu o cientista e professor Silvio Meira, em um texto publicado em seu blog no dia 28 de setembro, com o título São muitos dilemas, sociais, mas não só. "As redes sociais e seus algoritmos de recomendação não estão isentas da responsabilidade por alguns dos ambientes mais ácidos que há na internet. Mas não podem ser confundidas com a REDE e, em parte, é o que o filme faz; de certa forma desinformando e, aí, sofrendo do mesmo problema das redes."

Adi Robertson, especialista em políticas tecnológicas, biohacking, história da tecnologia e realidade virtual e aumentada, escreveu no site The Verge que o filme trata as redes sociais como "uma ameaça totalmente sem precedentes", e destaca que o comportamento do filho adolescente - que perde o interesse em interações sociais "reais" conforme o documentário avança - já foi apontado por críticos sociais de décadas anteriores como associado à televisão ou mesmo ao rock. Os entrevistados são, segundo ela, "produtos da mesma cultura do Vale do Silício que estão criticando, e vendem uma versão do mesmo mito: o de que alguns engenheiros onipotentes estão causando o apocalipse ao construir uma máquina perfeita de controle mental."

Casey Newton, jornalista norte-americano que cobre justamente temas ligados ao Vale do Silício, e autor da The Interface, coluna semanal a respeito da interseção entre redes sociais e democracia, escreveu que estava "chocado a respeito de quão convincente tantas pessoas acham a ideia de que as redes sociais são praticamente as únicas responsáveis por todos os problemas da sociedade."

Mas a crítica de Newton é em relação à narrativa simplista de O Dilema das Redes, não uma afirmação de que os problemas apontados não existem: no mesmo texto, ele cita o caso de Sophie Zhang, ex-funcionária do Facebook, que, ao ser demitida em agosto deste ano, publicou um manifesto nas redes sociais, dizendo que sentia "ter sangue nas mãos". "Eu não estou querendo inocentar as redes sociais, nem fazer o problema parecer tão complicado que as pessoas simplesmente desistam de tentar resolvê-lo", destacou.

Então vamos dar um passo atrás - e começar do começo.

“A maioria das pessoas é muito inocente”, diz antropóloga

- Eu acho que o documentário faz um bom serviço ao mostrar às pessoas que por trás da tela há muito mais do que elas imaginam - afirma a antropóloga Letícia Maria Costa da Nóbrega Cesarino. Letícia é especialista em antropologia digital, e faz estudos sobre a digitalização de práticas que já existiam antes da internet: sua pesquisa mais recente foi sobre a digitalização da política. - A maioria das pessoas é muito inocente a esse respeito. Muita gente nem sabe, por exemplo, que a busca do Google é personalizada: os resultados que aparecem para mim ao fazer determinada busca são diferentes dos que vão aparecer para você ao fazer a mesma busca.

- A criação de consciência é fundamental, e é aí que eu acho que o documentário tem sua importância: apresenta de maneira bastante didática e aberta como a coisa surgiu e como a coisa vem acontecendo - concorda José Eduardo De Lucca, que é professor de informática e estatística na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), e costuma debater com seus alunos os impactos da tecnologia na sociedade e questões ligadas à ética profissional na área.

O professor explica um pouco melhor o sistema mostrado em O Dilema das Redes, em que os conteúdos exibidos para cada usuário criam um ciclo vicioso:

- Há uma necessidade de manter o usuário na rede pelo maior tempo possível, para exibir mais propaganda para ele; e também de fazer esse usuário interagir o máximo possível com os posts, para poder capturar informações sobre ele - aponta. - Então a lógica é oferecer conteúdo que engaje; ou seja, conteúdo de que aquele usuário goste, pela qual ele se interesse, e que faça ele interagir. E o que se percebeu é que os usuários costumam gostar de conteúdos que concordem com ele, que confirmem opiniões ou visões que ele já tem; ou então conteúdos polêmicos, que gerem debate.

- Essas plataformas operam no que chamamos de "economia da atenção": o modelo delas é vender nossa atenção aos anunciantes, que são os verdadeiros clientes. - completa a antropóloga Letícia Maria Costa da Nóbrega Cesarino. - O efeito colateral, que acaba prendendo as pessoas em bolhas ou estimulando o pensamento conspiratório, é chamado, em inglês, de "rabbit hole", em alusão à história de Alice no País das Maravilhas: você começa consumindo conteúdos, digamos assim, "normais", e o algoritmo te empurra cada vez mais para uma radicalização do conteúdo. Isso porque o algoritmo não analisa conteúdo; ele analisa padrões e premia os canais que geram mais engajamento.

- Com a capacidade de processamento que essas redes têm, elas conseguem conduzir experimentos, testes que demonstram que tipo de comportamento o usuário vai ter a partir das informações apresentadas - prossegue José Eduardo De Lucca. - Elas sabem exatamente para qual usuário exibir cada anúncio, em que momento do dia, associado a qual tipo de conteúdo, e assim por diante. A construção das redes sociais da maneira como são hoje foi feita paulatinamente: hoje nós percebemos um desvio de conduta, mas, ano a ano, trecho de código a trecho de código, é difícil perceber as mudanças e os impactos que vão acontecer por causa delas.

- Muitos desses efeitos não foram previstos: o Mark Zuckerberg não tinha como objetivo aumentar a radicalização política ou os níveis de suicídio entre os adolescentes, por exemplo - destaca Letícia. - Foi algo que saiu do controle, e que agora é muito difícil de mudar, porque já é o modelo de negócios dessa indústria.

Pergunto a Letícia de que outras maneiras as redes sociais ajudam a estimular o tal pensamento conspiratório, e quais são as principais consequências disso.

- As redes sociais estão mudando a maneira como as pessoas entendem o que é conhecimento autorizado - ela responde - Instituições que antes tinham certa autoridade para produzir conhecimento - seja a academia, a ciência, a mídia tradicional - estão em crise, e parte dessa crise tem a ver com o acesso direto que as pessoas têm a conteúdos quaisquer na internet. As plataformas sociais não produzem conteúdo; elas só circulam conteúdo produzido pelos usuários. E esse conteúdo engaja as pessoas pela ideia de que ali está a verdade, por ser um conteúdo espontâneo, produzido e consumido por pessoas "comuns"; que teoricamente não teriam interesses escondidos por trás disso.

- As pessoas capturadas por esse sistema passam a ver com muita desconfiança os produtores tradicionais de conteúdo - explica a antropóloga. - É aquela ideia de que a mídia mente para você, de que os acadêmicos não são autênticos... As pessoas passam a ter a ilusão de que agora têm acesso direto a verdades que, até então, estavam escondidas.

“A tecnologia não cai do céu”, argumenta especialista no processo de informatização

A professora universitária aposentada Tamara Benakouche, socióloga por formação, se especializou nas implicações sociais das tecnologias de informação desde a era pré-internet: interessada pelo processo de informatização da sociedade, fez doutorado na área na França e pós-doutorado nos Estados Unidos, onde estudou os riscos tecnológicos.

- Sempre fui muito contra a abordagem determinista das tecnologias - afirma a estudiosa. - A tecnologia influencia a sociedade, sem dúvida, mas a sociedade influencia a tecnologia em primeiro lugar. A tecnologia não cai do céu, não é uma criação espontânea: ela se desenvolve a partir de determinadas demandas sociais; que podem ser econômicas, políticas... Ela não cria nada do zero, mas pode acabar se tornando uma potencializadora de coisas que já existem.

Tamara considera o nome original do documentário, em inglês ("The Social Dilemma", algo como "o dilema social"), mais adequado que a tradução feita para o português.

- O título original coloca o problema no social, não na técnica - argumenta. - Os riscos existem; toda tecnologia tem seus riscos. A própria palavra "risco" implica que a pessoa sabe que está exposta a ele: você está informado e, sabendo dos riscos, decide se quer ou não fazer alguma coisa. Então acho que o documentário é um alerta poderoso nesse sentido, de deixar as pessoas conscientes dos riscos que estão correndo. Mas acho que as redes sociais têm diversos pontos fortes. Aproximam pessoas; têm um potencial gigantesco para fins educacionais; viraram ferramenta de trabalho agora na pandemia.

Como reduzir os danos causados pelas redes?

Os professores Letícia Maria Costa da Nóbrega Cesarino e José Eduardo De Lucca também não negam os pontos positivos das redes - e tampouco veem a solução de "deletar tudo" como a ideal.

- A rede social me aproxima de um parente distante, por exemplo; me aproxima de um debate ou de um conhecimento a que eu eventualmente não teria acesso na região onde moro... - pondera José Eduardo. - E se desconectar, para muita gente, não é uma opção: fazer isso seria ser deixado de fora de boa parte do que a sociedade é atualmente.

"Remover Facebook do smartphone e apagar contas nas redes sociais não é solução e não acontecerá em escala", também escreveu o cientista e professor Silvio Meira, no artigo São muitos dilemas, sociais mas não só. "O que precisamos tratar é o conjunto de problemas associados à isenção, transparência e responsabilização de algoritmos e da regulação de certos mercados em rede, e disso pouca gente fala - ou quer falar." Adi Robertson, do The Verge, alfineta: "Em vez de dar bronca nos usuários de smartphone por deixar suas notificações ativadas, os experts em vício digital podiam pedir às empresas que respeitassem o horário de trabalho e parassem de enviar mensagens a seus funcionários 24 horas por dia."

Esses dois pilares - cobrar ações mais claras por parte do governo e das empresas e criar uma consciência individual - parecem ser as chaves apontadas pela maioria dos especialistas para, pelo menos a curto prazo, reduzir os efeitos negativos do uso das redes sociais.

- O poder público deveria se posicionar de maneira mais firme, regulamentando como os dados das pessoas são coletados e tratados, garantindo a fiscalização, e tornando o processo mais transparente - diz o professor José Eduardo. - No Brasil já temos alguma coisa, como a Lei Geral de Proteção de Dados, que é uma proposta de lei que está em gestação há quase dez anos. Ela foi aprovada há uns dois anos e não tinha sido colocada em prática ainda. Agora foi criada a Agência Nacional de Proteção de Dados, meio de supetão, porque o prazo para criação da agência já estava acabando.

Alguns sinais de alerta:

- Se, quando acorda, a primeira coisa que você faz é pegar o celular e checar todas as suas notificações, isso já é um mau sinal - destaca Letícia. - Além disso, os momentos que você passa nas redes não podem afetar o seu pensamento durante seu tempo offline: por exemplo, se você está caminhando com seu cachorro, cozinhando, e pensando no post que quer fazer no Twitter, ou na mensagem que precisa responder, isso também é um alerta.

- Outra medida interessante é tentar reduzir a alienação técnica enquanto está usando as redes: ter consciência, por exemplo, de que, quando clica em um like, você está na verdade mandando uma mensagem ao algoritmo, dizendo que gosta daquele tipo de conteúdo, que quer ser agrupado com outros usuários que curtiram aquele conteúdo - explica a antropóloga. - Eu sugiro tentar ter um ambiente social o mais diverso possível: seguir pessoas de universos diferentes e de vez em quando interagir com elas. Diminuir o número de arrobas grandes que você segue, esses perfis com milhões de seguidores, também ajuda o feed a ficar mais mais diverso e mais autêntico.

- Precisamos lembrar que nós não estamos nas mãos da tecnologia: a tecnologia é que está nas nossas mãos - completa Tamara Benakouche. - Você não pode se entregar demais, digamos assim: precisa estar no controle do uso que faz das tecnologias. Nesse contexto, a ajuda e orientação dos pais e educadores, no caso dos usuários mais jovens, é essencial.

- Em uma das frases do discurso e juramento de formatura na área da informática, o profissional promete "não se deixar cegar pelo brilho da tecnologia" - diz José Eduardo. - A tecnologia é interessante, ela nos fascina. Mas não podemos esquecer de que a ela é boa ou ruim na medida em que o comportamento e os interesses dos que a usam forem bons ou ruins.

A jornalista Adi Robertson escreveu em seu artigo: "Rádio, televisão e mesmo livros têm espalhado desinformação por anos, com nada mais que um revirar de olhos por parte do público. Há canais de TV que dizem se dedicar a ciências ou história, mas só exibem programas lotados de pseudociência e teorias da conspiração. As redes sociais modernas ampliaram todas as piores partes de uma cultura que já existia - e simplesmente condenar o Facebook não vai consertar isso. Nós temos que tratar esse fato como parte de um problema muito maior." E conclui: "Mas, mais importante ainda, precisamos nos perguntar o que vem depois disso." 

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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Convite!


 

Caros leitores,

Viemos convidá-los ao Webinar "O papel do Estado na economia", promovido pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getúlio Vargas; e pelo jornal Folha de S. Paulo. O evento ocorrerá no dia 22/10 à partir das 10:00 e contará com a participação de:

Nelson Barbosa;

Samuel Pessoa;

Fernando Canzian.

Em um momento de profunda excepcionalidade resultante da pandemia do novo coronavírus, insurge com cada vez maior intensidade anseios e discussões acerca do papel do Estado na economia. É diante desse contexto que o Webinar propõe seu debate, trazendo nomes relevantes na área para uma preciosa análise. 

Esperamos que gostem e participem!

Lucas Pessoa e Ygor Alonso são membros do Grupo de Pesquisas Estados Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF). 


Inscreva-se no Webinar aqui!

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Convite!


Caros leitores,

Viemos convidá-los ao debate online "Conversa com Robert Zoellick: A política externa dos Estados Unidos", promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e pela Fundação Fernando Henrique Cardoso (FFHC). O evento ocorrerá no dia 21 de outubro a partir das 18:00 e contará com a participação de:

Robert Zoellick;
Pedro Malan (CEBRI);
Celso Lafer (CEBRI e FFHC);
Sergio Amaral (CEBRI e FFHC);
Sergio Fausto (FFHC);
Julia Dias Leite (CEBRI).

Esta será uma grande oportunidade de aprendizado de um tema tão importante no contexto atual, contando com participação de relevantes nomes no assunto. 

Esperamos que gostem e participem!

Lucas Pessoa e Ygor Alonso são membros do Grupo de Pesquisas Estados Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF). 

Inscrições para o debate aqui!

terça-feira, 6 de outubro de 2020

O Brasil de Bolsonaro perde com Trump ou com Biden


 

Caros leitores,

As eleições estadunidense se avizinha e trazem consigo a dúvida de como isso afetará a geopolítica internacional, sobretudo em relação ao Brasil. Neste artigo de Opinião, Paulo Sotero expões suas previsões quanto esta indagação.

Esperamos que gostem e compartilhem!

Lucas Pessoa é membro do "Grupo de Pesquisas Estados e Instituições e Análise Econômica do Direito"

Seja qual for o resultado, as eleições americanas de 3 de novembro deixarão o Brasil no pior dos mundos. Na improvável hipótese de uma vitória do presidente Donald Trump, seja de acordo com as regras do peculiar Colégio Eleitoral americano ou fruto de sua intenção pública de tentar invalidar um resultado que lhe seja desfavorável, o Brasil terá de se conformar com a crescente irrelevância internacional pela qual optou na eleição presidencial de Jair Bolsonaro em 2018. Com uma agravante: num segundo governo Trump saído de um eventual processo eleitoral contestado judicialmente, os Estados Unidos, sob o republicano, aprofundarão a obra já iniciada de destruição das regras de governança internacional, que contribuíram ativamente para construir e legaram ao mundo depois da Segunda Guerra, e se tornarão fonte permanente de instabilidade. Nada disso trará ganhos ao Brasil, cujos governos, de esquerda ou de direita, sempre se pautaram pelo multilateralismo.

A hipótese de o ex-vice-presidente Joe Biden ganhar e levar tornou-se mais provável depois do desempenho catastrófico de Trump no primeiro debate, realizado no final de setembro, que poderá custar-lhe não apenas a Casa Branca como a maioria republicana no Senado. Ao contrário de Trump, o democrata sabe onde fica e preza o Brasil como ator regional e global em temas de interesse para ambos os países. Mas com Biden na Casa Branca o atual governo brasileiro terá de fazer uma rápida e dramática correção de curso, se é que isso é possível com a direção do Itamaraty tão comprometida com o bolsolavismo.

Como o alinhamento servil aos Estados Unidos é a marca mais forte da diplomacia do “mito”, numa hipótese de vitória de Biden, não está descartado um processo forçado de adaptação. O primeiro passo poderia ser uma boa limpeza e dedetização do Itamaraty, a outrora veneranda Casa de Rio Branco e centro irradiador de excelência no serviço público, reduzida no atual governo em sede de uma estranha seita de diplomatas “antiglobalistas”, seja lá o que isso for, e seus alucinados mentores e seguidores, que incluem até adeptos do terraplanismo e de outras esquisitices. Facilitaria se a sanitização se estendesse ao Ministério do Meio Ambiente, onde vigoram a incompetência e a má-fé, como ilustrado pelo vazamento da gravação de uma reunião ministerial em abril passado.

A ênfase no saber científico para o enfrentamento eficaz de pandemias é outro tema atualíssimo de interesse mútuo do Brasil e dos Estados Unidos e que pautará a cooperação bilateral, se e quando passar a insensatez reinante na Esplanada dos Ministérios. A ciência brasileira nasceu do combate às epidemias na segunda metade do século XIX e vicejou graças à competência e dedicação de médicos sanitaristas pioneiros como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Adolfo Lutz e Emílio Ribas, que apostaram na educação e na pesquisa. Eles e seus discípulos prepararam o caminho para a bem-sucedida campanha de contenção do HIV-aids das décadas de 1980 e 1990 e a construção do SUS, êxitos brasileiros conhecidos mundo afora.

Transformado pela irresponsabilidade do discípulo de Trump em Brasília no segundo maior necrotério mundial da Covid-19, o Brasil é, a despeito do governo que elegeu, parte dos esforços internacionais que levarão ao controle da pandemia. Biden e seus assessores estão cientes de que duas das mais promissoras vacinas contra o vírus, em fase de testes clínicos, foram desenvolvidas por consórcios científico-empresariais integrados pelo Instituto Butantan e pela Fiocruz. Sabem, também, que ambas as instituições brasileiras estão entre as poucas, ao sul do Equador, que têm capacidade instalada para a produção de vacinas na escala industrial necessária para conter o flagelo que já contaminou 33 milhões e matou mais de 1 milhão pessoas.

Sob Biden, o governo dos Estados Unidos estará atento também às posições de Brasília em foros globais e regionais sobre a democracia, a liberdade e os direitos humanos, incluindo os direitos das mulheres, dos indígenas e dos homossexuais. Mais imediatamente, a postura do Brasil na complexa confrontação entre a China e os Estados Unidos continuará a ser observada de perto em Washington e pode converter-se em ingrediente pesado do contencioso bilateral, seja quem for o ocupante da Casa Branca. A bola da vez é a escolha pelo Brasil da tecnologia 5G para a telefonia celular. Nesse assunto, as diferenças entre Trump e Biden são mais de estilo do que de substância. Com Biden na Casa Branca, haverá certamente uma revalorização da diplomacia e a busca de uma acomodação com Pequim. Por maiores que sejam as diferenças ideológicas e de interesses entre a China e os Estados Unidos, as economias dos dois países estão imbricadas uma na outra, em longas e complexas cadeias de produção e na comercialização de bens e serviços, o que as compele ao pragmatismo. Por isso, com Biden haverá empenho em baixar a temperatura e buscar soluções negociadas.

Isso é o que o Brasil precisa para evitar os prejuízos colaterais de uma confrontação entre seus dois maiores parceiros comerciais e definir uma estratégia que corresponda a seus interesses — um exercício difícil e para o qual a liderança do país, de esquerda ou de direita, mostrou-se até aqui inapetente e despreparada. A União Europeia tem se esforçado para encontrar um caminho em meio a esse duelo. É aconselhável, por exemplo, prestar atenção ao que líderes como Angela Merkel, a premiê da Alemanha, andam fazendo. A boa notícia é que não há alternativa: ou o Brasil descobre seu caminho ou se rende a seu pior e mais corrosivo inimigo: a mediocridade, tão familiar quanto nociva ao país.

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