Olá
alunos,
A notícia presente traz uma análise a respeito do cenário atual e do resultado pouco exitoso das cessões onerosas realizadas pelo governo.
Esperamos que gostem e participem!
Lucas
Pessôa é membro do Grupo de Pesquisa "Estado, Instituições e Análise
Econômica do Direito" - GPEIA
A eleição de Bolsonaro, fiada na agenda ultraliberal de Paulo Guedes,
inspirou ânimo e expectativas inéditas no Mercado, mas, passados 300
dias da implacável oposição do bolsonarismo a si mesmo, a mística
governista dá sinais de esgotamento. O investidor não embarcará em
aventuras por mera profissão de fé na ideologia do ocupante do Planalto:
sua religião seguirá tendo por crença única a perseguição do lucro e de
um ambiente de previsibilidade e segurança.
Aqui é preciso fazer um corte: ainda que a Bolsa alcance recordes
históricos, há uma contraditória fuga de capital estrangeiro que é a
maior das últimas duas décadas, de modo que os aumentos especulativos
reflitam muito mais a ação do investidor doméstico, ainda embebedado
pelas promessas vãs do bolsonarismo. Mesmo este não tardará a acordar
com uma baita “ressaca”.
A ausência de estrangeiros no leilão
da cessão onerosa e seus resultados constrangedores é o sinal mais
visível da desconfiança: não fosse a Petrobrás, o vexame de Paulo Guedes
seria ainda maior. O dilema é simples: as bravatas que empolgam os
acólitos do bolsonarismo e as milícias digitais não enchem o bolso do
Mercado.
Incerteza
Bolsonaro desperdiçou a confiança que detinha na largada a troco de
preservar seus ataques às instituições, elevando a incerteza em uma
América Latina novamente embolada por sucessivas crises políticas. Sem
respeito às instituições, a deterioração de um ambiente negocial é
inarredável, afinal de contas o investidor não empenhará seu capital sem
se cercar de garantias, num ambiente global cada vez mais minado.
As reformas do Estado enviadas por Paulo Guedes, ainda que pudessem
atenuar esse influxo, não são muito mais que propostas: é difícil
imaginar que o Senado, onde iniciarão sua tramitação, revelará a mesma
façanha de Rodrigo Maia na Previdência, dadas as suas dificuldades de
governança relativas. Não é crível supor um Congresso historicamente
satelital permanecerá exercendo um protagonismo de governar que não lhe
cabe: os partidos não seguirão aprovando medidas impopulares sem os bons
ventos do crescimento econômico ou os afagos do toma-lá-dá-cá,
participando apenas dos ônus, enquanto Bolsonaro lava as mãos pro seu
dever de liderar o país e se faz de “bonzinho”.
Previdência
A Previdência era um consenso das elites políticas e foi assimilada
como um preço “módico” pela maioria do povo: as demais reformas estão
longe disso. Os congressistas, com as eleições se aproximando, acaso se
siga a convalescença econômica, não tardarão a dar sinais de desespero e
rebelião.
O Bolsonarismo tende a uma invernal “macrização” similar à ocorrida
na Argentina: boa notícia pra oposição, caso não desperdice mais essa
chance no seu “abraço dos afogados”, insistindo na ausência de
autocrítica e se desgarrando da tarefa de apresentar alternativas
consistentes ao país. A única notícia positiva nessa onda de frustração
que se avizinha é o recado de que, sem respeito às regras do Estado
Democrático de Direito, não haverá redenção para este Governo: o
liberalismo de araque, que prega liberdade de mercado, mas persegue
implacavelmente a Imprensa e ataca outras liberdades individuais, não
sobreviverá às suas contradições.
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