Olá alunos,
A postagem de hoje resgata alguns estudos de Economia Política, nos quais muito se ouve falar sobre o New Deal,
como uma aplicação do modelo Keynesiano à economia norte-americana, em um
contexto de grande depressão econômica e crise mundial. Entretanto, apesar das
críticas que foram feitas ao plano econômico, sobretudo quanto à sua
fragilidade frente à realidade econômica estadunidense na terceira década do
século XX, cabe ressaltar qual foi o embasamento ideológico que estava por trás
desse plano. A figura do democrata Franklin Roosevelt é central para a
compreensão do real significado do New Deal, que não somente se destacou
durante a contexto da Crise de 1929, como também, ganhou notoriedade em escala
global, durante os anos que se seguiram à grande depressão.
Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges.
Monitoras da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade
Federal Fluminense.
A eleição presidencial dos Estados Unidos de 1932 foi
disputada no momento em que a depressão econômica atingia seu nadir. Entre 1929
e 1932, a renda nacional havia caído 38%, regredindo para o nível de 1922. O
desemprego avançou celeremente e jogou na rua 12 milhões de pessoas.
O declínio da renda e a retração aguda do consumo fizeram eco à
dramática contração dos gastos de investimento das empresas e à desastrada
política fiscal e monetária da administração republicana. A bancarrota na
indústria e na agricultura foi generalizada. O colapso dos preços tornou-se
insuportável para o setor produtivo.
A carga financeira do endividamento contraído nos anos de euforia. O
sistema bancário veio abaixo com grande estrondo, cujos decibéis podem ser
avaliados pela falência de 5 mil instituições.
Disputavam o voto popular o então presidente Herbert Hoover, do Partido
Republicano, e o democrata Franklin Delano Roosevelt. A campanha republicana
prometia a austeridade fiscal e o fortalecimento do dólar nos marcos do
padrão-ouro.
Roosevelt acenava com um novo Pacto Social para a América, capaz de
incluir “os que estavam esquecidos no fundo da pirâmide econômica”.
Roosevelt assumiu a Presidência em março de 1933 e proclamou em seu
discurso inaugural que “a única coisa de que devemos ter medo é do próprio
medo”.
Não se pode dizer – nem mesmo os que avaliam idilicamente a experiência
do New Deal – que aqueles tempos foram de coerência e certezas. Também não
se pode negar que foram tempos de coragem e grandeza.
O presidente foi capaz de articular o movimento de grupos sociais
heterogêneos em uma grande coalizão progressista. Ao lado dele estava Eleanor
Roosevelt, com “a beleza de sua inteligência”. Ninguém jamais ousou chamá-la de
primeira-dama.
Ela caminhou ao lado e muitas vezes à frente do marido nas manifestações
de solidariedade com os americanos maltratados pelos açoites da Depressão. Na
última pincelada no retrato de Eleanor no livro Names-Dropping, John
K. Galbraith desenha “a campeã da luta contra a pobreza.” Grandes mulheres em
tempos difíceis.
Não por acaso, nos famosos “Cem Dias” de 1933 foram inaugurados
programas emergenciais para desempregados, mediante assistência direta e renda
mínima.
Esses programas evoluíram nos anos posteriores, com a criação da Work
Projects Administration, em 1935, concebida para um amplo esforço
de reabsorção do desemprego, apoiado em obras públicas.
Harry Hopkins, idealizador e responsável pela execução do programa da
WPA, tinha como princípio básico o seguinte lema: “A fome não se discute”.
A débâcle foi enfrentada com o Emergency Bank Bill de
9 de março de 1933 e pelo Glass-Steagall Act de junho do mesmo ano.
Esses dois instrumentos legais permitiram um maior controle do Federal
Reserve sobre o sistema bancário, facilitando o refinanciamento dos débitos das
empresas, sobretudo da imensa massa de dívidas dos agricultores, e promovendo
uma profunda reestruturação do sistema bancário.
Isso significou uma forte centralização da intervenção do Estado sobre
os bancos privados e garantias mínimas para os depositantes, medidas
indispensáveis para a execução de uma política de liquidez e de direcionamento do
crédito, em benefício da recuperação econômica.
Tomadas essas medidas emergenciais, relativas ao desemprego e à desordem
financeira, o governo constituiu a National Recovery Administration,
encarregada do planejamento industrial, e a Agricultural Adjustment
Administration, incumbida de executar a política de preços, estoques e
comercialização de produtos agrícolas.
Muitos anos depois, os debates sobre a experiência do New Deal
concentram-se sobre o êxito limitado do programa. Os críticos sublinham a
debilidade da recuperação, a ganhar sustentação apenas com a mobilização
bélica, e o constante ziguezague da política econômica.
Poucos consideram as consequências políticas e sociais da “revolução
democrática”, que contrastava fortemente com a tragédia vivida pela Europa, com
a ascensão do nazifascismo.
O New Deal demonstrou ser possível enfrentar a depressão num ambiente de
liberdade e de conquistas sociais. Difícil imaginar o destino das economias
capitalistas sem que a mão visível do Estado as tivesse protegido do flagelo da
mão invisível do mercado.
O programa de Eleanor e Franklin Delano preparou o imaginário das
sociedades para a defesa da democracia e para a reorganização econômica, social
e política que orientou o estrondoso sucesso do capitalismo no
pós-Guerra.
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