Olá
alunos,
A
decisão do FED (Federal Reserve, o Banco Central americano) de elevar os juros
do país em 0,25 ponto percentual - para uma taxa entre 0,25% e 0,5% - marca uma
esperada guinada na política monetária dos Estados Unidos que deve reverberar
em todo o globo, inclusive no Brasil. A postagem de hoje pretende esclarecer
sobre a questão da elevação de juros norte-americana e como isso afeta o nosso
país.
Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges.
Monitoras da disciplina “Economia
Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.
A
alta desta quarta-feira ficou dentro do que os analistas do mercado esperavam,
mas ainda há dúvidas sobre o ritmo dos aumentos em 2016.
Nos
últimos sete anos, os juros americanos foram mantidos em patamares extremamente
baixos - entre 0 e 0,25% - como uma forma de estimular uma retomada da economia
do país.
Os
juros baixos fizeram parte de um pacote de resposta à crise financeira iniciada
em 2008, com a falência do Banco Lehman Brothers, que também incluiu a injeção
de novos recursos na economia por meio da compra de títulos do tesouro e papéis
lastreados em hipotecas - prática conhecida como "afrouxamento
monetário" (em inglês, quantitative easing) - para injetar
dinheiro na economia.
O Fed vinha sinalizando há mais de um ano que
pretendia voltar a aumentar os juros, ainda que de forma "lenta e
gradual". Com a alta, indica que já considera haver sinais convincentes de
que a economia americana está em recuperação, como explica Bernardo Dutra, da
MCM Consultores.
"Os
dados relativos à retomada da atividade (produtiva nos EUA) estão bons e o
desemprego está na casa dos 5%, nível muito próximo ao que eles consideram
pleno emprego", diz.
Mas,
afinal, como essa alta dos juros americanos afeta o Brasil? Ou que tipo de
repercussões podemos esperar na economia brasileira no curto e longo prazo?
Especialistas consultados pela BBC Brasil explicam:
Fuga de
capitais de países emergentes
A taxa de juros americana define a remuneração de
investidores que compram títulos do país. No caso dos EUA, esses títulos são
considerados bastante seguros, mas como essa taxa ficou bastante baixa nos
últimos anos, muitos investidores se dispuseram a assumir um risco maior para
investir em outros países - e principalmente emergentes, como o Brasil.
Márcio
Salvato, economista do Ibmec de Minas Gerais, explica que, com os americanos
voltando a oferecer uma remuneração mais alta, a tendência é que os
investidores tirem recursos de outros países para levá-los de volta aos EUA.
"Há uma mudança de ganhos relativos", diz.
Ele
faz a ressalva, porém, que, no caso do Brasil, o efeito deve ser relativamente
pequeno no curto prazo diante da deterioração provocada pela crise política e
econômica interna. "As questões domésticas estão tendo um efeito muito
mais significativo sobre a percepção de risco do país", explica.
Para o professor do Insper Otto Nogami, como pode
haver um movimento de saída de capital especulativo do Brasil “a preocupação é
se isso poderá representar problemas para o financiamento do déficit público,
que já está com uma trajetória problemática”.
"Ainda
mais em meio a esse aumento da percepção de risco em relação ao Brasil em
função da crise política e econômica, a remuneração mais elevada dos papéis
americanos pode fazer muitos preferirem um investimento seguro nos EUA aos
títulos brasileiros”, explica.
Queda do real
Como
para investir nos EUA os investidores precisam comprar dólar, é esperado que a
moeda americana se valorize em relação às de outros países.
"O
impacto mais direto (da subida de juros nos EUA) deve ser mesmo no câmbio: a
tendência é que haja uma desvalorização do real", diz Dutra, da MCM
Consultores.
Ele
faz a ressalva de que a elevação dos juros nos EUA já vem sendo
"precificada" pelos mercados - ou seja, investidores já estão
antecipando suas estratégias financeiras na expectativa de que essa alta
ocorra.
"Mas
o efeito deve existir, ainda que seja limitado. E nos próximos meses pode haver
mais ou menos volatilidade no câmbio, dependendo do ritmo do aperto monetário
nos EUA."
Para
Salvato, a tendência é que a taxa volte a se aproximar dos R$ 4 por dólar.
"No longo prazo podemos ter uma acomodação nesse patamar", opina.
Pressão inflacionária
Com
o dólar mais caro, aumenta a pressão sobre a inflação no Brasil. Primeiro, em
função do encarecimento dos produtos importados, como explica Nogami, do
Insper.
"Grande
parte do setor produtivo depende da importação de insumos, então os preços
acabam afetados pela alta do dólar. Mesmo o setor agrícola depende da compra de
adubos e corretivos do solo, além de componentes de tratores", diz ele.
"O
excedente de produção de energia de Itaipu, que cabe ao Paraguai, é vendido ao
Brasil em dólar e também dependemos da importação de combustíveis, só para
mencionar alguns exemplos de itens que podem impactar a inflação."
Além
disso, a desvalorização do real também tem um efeito sobre os os itens
"exportáveis", como os alimentos e outros produtos agrícolas.
Isso
porque como os exportadores acabam recebendo mais pelos produtos que enviam ao
exterior, tendem a cobrar mais para vendê-los no mercado interno.
Pressão sobre juros
Outro
efeito da alta de juros americana é dificultar uma queda dos juros no Brasil.
Mas
os analistas se dividem sobre se o aperto monetário nos EUA pode levar, no
médio prazo, a uma alta da taxa brasileira em função de esta já estar em um
patamar relativamente elevado - 14,25%.
"Normalmente
os juros brasileiros tendem a acompanhar os americanos, mas a taxa já está alta
e subir ainda mais os juros em um momento de economia em recessão seria muito
complicado", diz Salvato.
Já
na opinião de Nogami, "pode ser que, para atrair capitais e controlar a
inflação o Banco Central seja obrigado a aumentar ainda mais a taxa de
juros".
"Não
acho impensável a volta dos juros ao patamar dos 16% ou 17%, por exemplo",
diz ele. "E isso certamente teria um efeito negativo sobre a atividade
econômica."
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