Olá alunos,
Em ano de eleição a economia ganha uma posição de destaque no debate sobre o futuro do país. A postagem de hoje expõe os temas econômicos que devem ser usados na estratégia de argumentação do governo e da oposição.
Em ano de eleição a economia ganha uma posição de destaque no debate sobre o futuro do país. A postagem de hoje expõe os temas econômicos que devem ser usados na estratégia de argumentação do governo e da oposição.
Agradecemos a sugestão dessa notícia, que foi enviada pelos alunos (Marcos, Luiz Felipe, Marcio, Lucas) da turma T1 do primeiro período da Faculdade de Direito da UFF.
Esperamos que gostem e participem.
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Não é a toa que o slogan que ajudou a alçar Bill Clinton à Casa Branca nos anos 90 se popularizou também fora dos EUA: "É a economia, estúpido!" resume uma dinâmica que há décadas tem definido corridas eleitorais pelo planeta – e as eleições brasileiras de outubro não parecem ser uma exceção.
"Especialmente em um cenário de desaceleração
econômica, como o do Brasil hoje, o eleitor tende a votar com o bolso",
diz Carlos Melo, cientista político do Insper.
"Ele está mais preocupado com sua renda e emprego do
que, por exemplo, com casos de corrupção."
Segundo Renato Perissinotto, cientista político da
Universidade Federal do Paraná, a economia terá um lugar central no debate
eleitoral brasileiro "porque o desempenho do governo nessa área, sobretudo
no último ano, tem sido muito ruim".
"Trata-se de um cenário que, para muitos, é o pior dos
mundos, pois conjuga inflação crescente e baixo crescimento econômico",
diz Perissinotto. "A oposição não tem nenhuma proposta alternativa
claramente delineada, mas encontra-se na posição confortável de poder atacar os
pontos negativos do desempenho do governo nesse campo."
Faltando dois meses para o primeiro turno, temas econômicos
parecem ter dominado o discurso dos presidenciáveis.
Os principais candidatos da oposição, Aécio Neves, do PSDB,
e Eduardo Campos, do PSB, atribuem o baixo crescimento a políticas equivocadas
adotadas pelo governo.
"O que me preocupa são os 7% de inflação e 1% de
crescimento que serão deixados para nós se formos eleitos", disse Aécio,
traçando um paralelo entre os indicadores econômicos e a derrota por 7 a 1 para
a Alemanha.
Já o governo atribui as análises negativas a um
"pessimismo inadmissível" de fundo eleitoral e chama a atenção para a
força do mercado de trabalho e o crescimento da renda dos trabalhadores.
"O mesmo pessimismo da Copa está se dando agora com a
economia, mas é ainda mais grave porque a economia é feita de
expectativas", disse a presidente Dilma Rousseff.
Para identificar quais temas da agenda econômica serão chave
na eleição e entender as estratégias do governo e da oposição nessa área, a BBC
consultou economistas e cientistas políticos. O resultado é este:
Emprego
Se a desaceleração é um dos pontos fracos do governo, os
níveis de desemprego são um trunfo.
"No que diz respeito ao mercado de trabalho, Dilma foi
melhor até que Lula", opina Biancarelli, da Unicamp. "Nos últimos
anos, o desemprego caiu para patamares historicamente baixos, e a renda dos
trabalhadores continuou a crescer."
Segundo o IBGE (PNAD Contínua), o desemprego chegou a 7,1%
no primeiro trimestre. O resultado é maior que os 6,2% do trimestre anterior,
mas menor que os 8% do mesmo período de 2013 (comparação que evita
sazonalidades).
Por outro lado, o ritmo de criação de postos de trabalho
formais caiu, como aponta o Ministério de Trabalho.
A oposição provavelmente ressaltará a fragilidade desse
cenário, argumentando que, sem crescimento, uma hora ou outra o dinamismo do
mercado de trabalho acabará abalado.
"Já o discurso governista deve ser o de que um eventual
governo de oposição deve colocar esses ganhos em risco, impondo ao país um
ajuste ortodoxo brusco", diz Castelar.
Crescimento
Em 2010, quando Dilma foi eleita, o Brasil cresceu 7,5%.
Para este ano, a média das expectativas dos analisas já foi revisada para baixo
dez vezes, chegando a 0,86%.
O governo atribui a desaceleração ao contexto internacional
menos favorável.
No discurso da oposição, ela é resultado da falta de
estímulos aos investimentos e ausência de reformas para reduzir o "custo
Brasil". O modelo de crescimento baseado em consumo teria se esgotado sem
que se tivesse impulsionado um modelo baseado em investimentos.
Para Melo, do Insper, tal cenário contribui para que esta
possa ser a eleição mais concorrida desde 1989, quando Fernando Collor venceu
Lula no segundo turno.
"Quando a economia vai mal, as pessoas tendem a ser
mais críticas ao governo, embora não esteja claro se a oposição será capaz de
se apresentar como uma alternativa viável", diz.
O cientista político Fernando Limongi, da USP, concorda.
"Um eleitor pode gostar menos do governo e, ainda assim, não querer
arriscar seus ganhos econômicos trocando o certo pelo incerto com um voto em na
oposição."
Ele lembra que, em 1998, o governo Fernando Henrique Cardoso
estava bastante desgastado, e mesmo assim, foi reeleito.
"O grande desafio dos candidatos da oposição é
transformar a crítica em esperança, mostrar que são capazes de formular
soluções para a questão do crescimento", resume o economista Armando
Castelar, da FGV.
Inflação
"A inflação é um tema sensível, pois mexe com a memória
daqueles que viveram a experiência da hiperinflação e com o bolso dos
eleitores", diz Perissinotto, da UFPR.
A alta de preços tem ficado muito próxima ao teto da meta
definida pelo Banco Central, de 6,5%.
O governo enfatiza que está sob controle.
Já a oposição argumenta que só não extrapolou a meta porque
os preços administrados, como energia e combustível, estariam sendo segurados
artificialmente – e teriam de ser elevados em 2015 para equilibrar as contas da
Petrobrás e das distribuidoras de eletricidade.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, nega que se esteja
preparando um "tarifaço" para o ano que vem. Economistas, porém,
concordam que algum ajuste será necessário.
"Eu apostaria em um ajuste gradual - até porque nenhum
governo vai querer um grande impacto na inflação em 2015", diz André
Biancarelli, da Unicamp.
Políticas Sociais
Castelar, da FGV, acredita que esse é um tema sobre o qual
não haverá embate, porque a oposição também está se colocando a favor de
programas de renda mínima.
Tanto Aécio quanto Campos têm prometido ampliar o Bolsa
Família, por exemplo.
Limongi, da USP, e Biancarelli, da Unicamp ressaltam que há
outras políticas com as quais o governo conta para lhe ajudar a angariar votos,
como a expansão do sistema de previdência para trabalhadores rurais.
"Dilma também ampliou muito o crédito aos estudantes e
as vagas no ensino técnico dentro do programa Pronatec – então deve tentar
fazer dessas políticas as marcas de seu governo", diz Biancarelli.
Para o cientista político David Fleischer, da UNB, não há
como negar a relevância do tema na corrida para as urnas.
"Só de beneficiados pelo Bolsa Família temos algo em
torno de 40 a 50 milhões", diz.
"Debates sobre os gastos do Estado atingem uma elite.
Boa parte do eleitorado quer saber mesmo é se continuará a receber benefícios
como o Bolsa Família, se a inflação será baixa e se haverá emprego e
crédito."
Nenhum comentário:
Postar um comentário