Olá alunos,
A postagem de hoje expõe a crise de inovação que atingiu as empresas brasileiras. A despeito dos incentivos governamentais, como é o caso do programa Inova Empresa, a capacidade inovativa do setor industrial tem deixado a desejar.
Esperamos que gostem e participem.
Juliana Padilha e Silvana Gomes
Monitoras da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Entre 2009 e 2011, no período em que a conjuntura econômica mundial esteve mais nebulosa, as empresas apostaram em produtos e processos inovadores para garantir seu lugar ao sol, certo? Errado. Diante da demanda em queda, o comportamento detectado pela Pesquisa de Inovação Tecnológica, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada recentemente, contrariou a expectativa de quem confiava no caráter anticíclico dessa modalidade de investimento. Segundo o levantamento, 35,6% das 129 mil indústrias consultadas inovaram no País no triênio, uma queda considerável em relação aos 38,1% registrados no período anterior (entre 2008 e 2010). Foi a primeira retração do índice medido pelo IBGE desde o início da pesquisa, em 2000, quando a taxa de inovação estava em 31,5%.
O nível atual coloca o Brasil no patamar de países do Mediterrâneo, acima da média dos latino-americanos e bem abaixo dos desenvolvidos, onde o índice chega a 60%. Quando esmiuçado, deixa entrever as razões dos empresários que se motivaram a investir, ocupados principalmente em não perder mercado para a concorrência. “O esforço das empresas ficou mais concentrado na inovação de processos produtivos, para baixar os custos, e menos em lançamentos de produtos, que envolvem maior risco”, diz Alessandro Pinheiro, pesquisador do IBGE responsável pela pesquisa.
Para David Kupfer, professor da UFRJ e assessor da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, apesar do senso comum, o desempenho verificado era esperado pelos especialistas. “Normalmente, é a empresa competitiva que inova mais, e não a que precisa se recuperar.” No caso brasileiro é preciso, porém, mais do que competitividade para impulsionar os investimentos em atividades inovadoras, considera.
Se as inovações não deslancham, não é por falta de apetite do empresariado. A injeção de novos recursos para inovação por meio do programa federal Inova Empresa, lançado em março deste ano, expôs a existência de uma forte demanda reprimida. A oferta de 32 bilhões de reais a custos subsidiados atraiu o interesse de empresas cujos projetos somam 65 bilhões de reais de investimentos. Apenas no âmbito do Inova Saúde, para produtos farmacêuticos e equipamentos médicos, foram 6 bilhões de reais em propostas a serem analisadas, três vezes mais que os 2 bilhões ofertados.
Se as inovações não deslancham, não é por falta de apetite do empresariado. A injeção de novos recursos para inovação por meio do programa federal Inova Empresa, lançado em março deste ano, expôs a existência de uma forte demanda reprimida. A oferta de 32 bilhões de reais a custos subsidiados atraiu o interesse de empresas cujos projetos somam 65 bilhões de reais de investimentos. Apenas no âmbito do Inova Saúde, para produtos farmacêuticos e equipamentos médicos, foram 6 bilhões de reais em propostas a serem analisadas, três vezes mais que os 2 bilhões ofertados.
O segmento farmacêutico é um retrato fiel dos efeitos da falta de investimentos. Os gastos em inovação corresponderam, em 2011, a 4,8% da receita do setor. O parque industrial brasileiro tem suas atividades concentradas em produção de medicamentos e comercialização, mas é marcado pelo baixo desenvolvimento de princípios ativos e suas patentes, responsáveis por até 80% do custo dos produtos. Como resultado, cresce a dependência do País dos importados. Em 2012, o déficit na balança comercial farmacêutica foi de 7 bilhões de dólares, com tendência de alta em 2013. Na primeira semana de dezembro, as importações tiveram alta de 40% em relação ao mesmo período do ano passado.
Para viabilizar os investimentos dos laboratórios e estimular a busca de recursos, o governo federal comprometeu-se em adquirir 8 bilhões de reais ao ano em produtos das empresas inscritas no Inova Saúde. A seleção preliminar dos planos de 21 companhias, dentre elas Aché, Eurofarma e Hypermarcas, soma 3,6 bilhões de reais. O resultado deve ser anunciado na sexta-feira 20, mas nem todos levarão, pois os recursos disponíveis somam 1,5 bilhão. “A intenção foi casar o foco em medicamentos de alta complexidade com o poder de compra do Estado”, diz Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), uma das responsáveis pelo programa em parceria com os ministérios do Desenvolvimento e da Saúde, BNDES e CNPQ, do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Semelhante ao modelo do Inova Saúde, está em andamento a análise de iniciativas em aeronáutica, agropecuária, energias alternativas, petróleo, gás natural, biomassa e ações de sustentabilidade. A escolha dos projetos será definida até o começo de 2014. O objetivo anunciado é desenvolver novas tecnologias no País. “A expectativa é dobrar o investimento em P&D industrial, de 20 bilhões ao ano para 40 bilhões a partir de 2015”, explica Arbix.
Semelhante ao modelo do Inova Saúde, está em andamento a análise de iniciativas em aeronáutica, agropecuária, energias alternativas, petróleo, gás natural, biomassa e ações de sustentabilidade. A escolha dos projetos será definida até o começo de 2014. O objetivo anunciado é desenvolver novas tecnologias no País. “A expectativa é dobrar o investimento em P&D industrial, de 20 bilhões ao ano para 40 bilhões a partir de 2015”, explica Arbix.
Nesse quesito, as empresas inovadoras deixam a desejar, pois a maior parte do investimento tem se concentrado na compra de máquinas e equipamentos, o que traz impacto sobre a produtividade, mas não capacita as companhias para a criação de novas soluções. Dos 64 bilhões investidos em 2011 em inovação, apenas 31% foram em P&D. A aquisição de bens de capital é a ação mais relevante para 75% das indústrias, e o financiamento para a compra desses produtos foi o principal instrumento utilizado.
Apesar dos números mais recentes, há sinais de que as companhias começam a apostar na inovação como atividade estratégica. Segundo a própria pesquisa do IBGE, 1,6 mil companhias passaram a investir em P&D, além das 4,3 mil identificadas do levantamento anterior, o que poderá trazer impactos positivos mais adiante. Tais inversões não tornam as companhias inovadoras, segundo o critério do estudo, pois não se materializaram na mudança dos processos produtivos ou no lançamento de produtos, mas as capacitam para empreender futuras inovações.
Apesar dos números mais recentes, há sinais de que as companhias começam a apostar na inovação como atividade estratégica. Segundo a própria pesquisa do IBGE, 1,6 mil companhias passaram a investir em P&D, além das 4,3 mil identificadas do levantamento anterior, o que poderá trazer impactos positivos mais adiante. Tais inversões não tornam as companhias inovadoras, segundo o critério do estudo, pois não se materializaram na mudança dos processos produtivos ou no lançamento de produtos, mas as capacitam para empreender futuras inovações.
“A participação dos gastos em P&D no total dos investimentos em inovação cresceu de 24,5% para 29%, o que é importante por ser uma atividade mais nobre”, diz Pinheiro, do IBGE. O porcentual de indústrias com investimento na área passou de 4,2% em 2008 para 5% em 2011, mas não superou o resultado de 2005 (5,5%), e está longe de alcançar a taxa de 10,3% registrados na primeira pesquisa de 2000.
Mesmo com a defasagem, há um esforço evidente das indústrias: os valores investidos em inovação passaram de 0,62% da receita em 2008 para 0,71% em 2011. “Surpreendeu haver um aumento desse tamanho no espaço de três anos, o que pode levar à conclusão de que há uma mudança de percepção estratégica em relação à inovação”, avalia Kupfer. Segundo ele, aliado ao incremento do apoio público, o cenário torna-se mais favorável para a continuidade do aumento de recursos alocados.
Outros dois pontos positivos destacados por Pinheiro são o crescimento do número de empresas com algum tipo de cooperação com instituições de ensino e grupos de pesquisa, de 10% em 2008 para 16% em 2011. O pesquisador destaca ainda a maior difusão do uso da nanotecnologia e da biotecnologia. Segundo a pesquisa, 1,8 mil empresas declararam usar a biotecnologia (56% mais que em 2008). “É importante porque são processos com apelo no mercado internacional e que aumentam a competitividade.”
O fato de as companhias citarem a falta de mão de obra como o segundo maior gargalo para as práticas inovadoras, atrás apenas do custo financeiro dos investimentos, pode ser sinal de amadurecimento do mercado. Em 2005, o problema foi o sexto mais relevante e, em 2008, o terceiro. “Isso pode indicar mais procura por profissionais, ou seja, as empresas estão empreendendo”, avalia Pinheiro.
Segundo Kupfer, configura-se a tendência em que as empresas de setores tradicionalmente mais fortes em inovação no mundo, entre elas bens de capital, cadeia de petróleo e gás, indústria automobilística, de implementos agrícolas e TI, começarão a investir com mais força no País, ainda que os resultados sejam lentos.
O fato de as companhias citarem a falta de mão de obra como o segundo maior gargalo para as práticas inovadoras, atrás apenas do custo financeiro dos investimentos, pode ser sinal de amadurecimento do mercado. Em 2005, o problema foi o sexto mais relevante e, em 2008, o terceiro. “Isso pode indicar mais procura por profissionais, ou seja, as empresas estão empreendendo”, avalia Pinheiro.
Segundo Kupfer, configura-se a tendência em que as empresas de setores tradicionalmente mais fortes em inovação no mundo, entre elas bens de capital, cadeia de petróleo e gás, indústria automobilística, de implementos agrícolas e TI, começarão a investir com mais força no País, ainda que os resultados sejam lentos.
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