Olá alunos,
A postagem de hoje trata de um tema que está sempre em pauta nas discussões político-econômicas no Brasil: a reforma tributária. O texto mostra que, em não pequena medida, ela é dificultada por estados e municípios que, com receio de uma perda em termos de arrecadação, impõem entraves à sua implementação.
Esperamos que gostem e participem.
Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Considerada
urgente por economistas e defendida há anos por empresas, uma reforma que
simplifique o complicado sistema brasileiro de impostos esbarra principalmente
na oposição de estados e municípios, que temem perder dinheiro.
"Estados e municípios temem
perder o seu poder de tributar, o que é um poder fantástico, porque quem o
possui também tem o poder de fazer concessões na tributação", ressalta o
economista Flávio Castelo Branco, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O sistema tributário brasileiro
tem uma série de impostos parecidos, cobrados, ao mesmo tempo, pelos governos
federal, estadual e municipal. A complexa taxação, segundo especialistas, acaba
prejudicando a economia, pois desestimula empresas a produzirem no país e
diminui a competitividade internacional dos produtos brasileiros, que se tornam
mais caros.
"Esse sistema complexo exige
das empresas um gasto e um esforço de acompanhamento das obrigações muito
grande, além da carga tributária ser elevada. Ele penaliza as exportações e
investimentos, gera custos elevados e afeta a competitividade", afirma
Castelo Branco.
O consumidor também sai
prejudicado, pois os impostos são adicionados ao preço final dos produtos.
"Um sistema tributário fácil, desburocratizado, transparente e
equilibrado, em termos de impostos diretos e indiretos, é benéfico para toda a
sociedade, tanto para as empresas como para o cidadão", diz o especialista
em administração pública José Matias-Pereira, da Universidade de Brasília
(UnB).
Impostos sobre impostos
No Brasil,
existem mais de 80 tributos diferentes, cobrados sobre produção, consumo,
movimentações financeiras, renda, entre outros. Segundo o Instituto Brasileiro
de Planejamento Tributário (IBPT), o brasileiro trabalha em média 150 dias por
ano, ou seja, quase cinco meses, só para pagar impostos.
A maioria dos impostos é tributada
sobre o consumo e não sobre a renda, diferentemente de muitos países europeus.
Com essa forma de cobrança, quem ganha menos acaba, proporcionalmente, pagando mais
impostos do quem possuiu uma renda maior.
"A tributação mais perversa e
injusta é a sobre consumo, pois quem ganha menos paga mais. Numa reforma esses
tributos sobre consumo deveriam ser retirados e deveria se tributar mais renda,
patrimônio e lucros", afirma o presidente do IBPT, João Eloi Olenike.
Para economistas, o primeiro passo
para uma reforma é justamente diminuir o número de impostos referentes à
tributação indireta, ou seja, aqueles cobrados sobre a circulação de
mercadorias e pagos pelos produtores e consumidores.
"O ideal seria ter algo tipo
um IVA (Imposto sobre o valor adicionado) único, e depois a repartição entre
governo, estados e municípios seria feita de outra forma", sugere Castelo
Branco.
Para Matias-Pereira, os dois
impostos principais que deveriam ser agregados a um IVA seriam o IPI (Imposto
sobre Produtos Industrializados), em nível federal, e o ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços), no nível dos estados.
Castelo Branco acrescenta que o
IVA deveria também englobar o PIS-Cofins e também o ISS (Imposto sobre Serviços
de qualquer natureza), cobrado pelos municípios.
Passos para a reforma
Para
Matias-Pereira, a questão de como e quem cobrará esses impostos acaba entrando
na discussão e estados mais ricos, liderados por São Paulo, assumem uma postura
de defender seus interesses e a reforma não avança. "Para a reforma
tributária acontecer, todos os atores têm que sentar na mesa predispostos a
ceder e buscar, se necessário no futuro, um processo de compensação para eventuais
perdas", afirma o especialista.
Devido aos conflitos de
interesses, Castelo Branco acha que o caminho para uma mudança seria uma
reforma feita por partes. "Mas não é uma reforma desconectada, é como se
fossem peças de um quebra-cabeça montadas aos poucos. Para isso, é necessário
saber muito bem o que se quer e as ações que devem ser feitas", argumenta.
Paulo Rabello de Castro,
coordenador-geral do Movimento Brasil Eficiente (MBE), tem uma opinião
contrária. O MBE luta pela simplificação fiscal e eficiência dos gastos e
defende que a reforma deve ser feita em conjunto.
Na proposta defendida pelo MBE, o
primeiro passo para uma reforma seria a diminuição na quantidade de tributos,
por meio da unificação dos impostos, mas sem a redução da arrecadação. "A
tributação não pode ser diminuída, pois não haveria dinheiro para pagar
educação, funcionários da saúde e assim por diante", defende Castro.
O próximo passo seria um controle
mais eficiente dos gastos. A redução de desvios, desperdícios e corrupção possibilitaria
a diminuição da carga tributária. "Á medida em que houver economia no
gasto, vai se abrindo espaço para que a carga tributária caia sem cair a
arrecadação porque o país está crescendo está subindo, mas o peso diminuiu
frente ao que o país produz", diz Castro.
Paralisia política
A dificuldade de modificar o
sistema tributário é percebida pela quantidade de propostas que esperam para
serem votadas na Câmara dos Deputados e no Senado – ao todos são 11, uma delas
sugerida em 1992.
"Não há interesse do governo
em fazer uma reforma tributária, desde o governo Fernando Henrique já se fala
disso. O governo entende que, se fizer uma reforma tributária, ele pode vir a
perder a arrecadação e, se está arrecadando bem, por que fazer uma
reforma?", resume Olenike.
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