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segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Convite e Formulário de Inscrição - Webinar "Nacionalismo(s) em tempos de Crise Global" - 29.10.21


Caros leitores,

Gostaríamos de convidar a todos para mais um encontro da Série de Webinars do Grupo de Pesquisa Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF) no Google Meet.

Neste webinar conversaremos sobre "Nacionalismo(s) em tempos de Crise Global" com Adalto Rafael Nascimento Silva, Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Consultor de Organismos Internacionais.

Teremos como debatedor Stevan Bernardino Silva, Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

O webinar será realizado no dia 29 de outubro, às 18h (Horário de Brasília).

Inscreva-se no link a seguir: 

 

https://bit.ly/webinar-gpeia8

 

Participe conosco e traga seu ponto de vista sobre essa discussão!


sexta-feira, 22 de outubro de 2021

EUA debatem lei que pode barrar US$ 500 milhões em exportações do Brasil por desmatamento


Caros leitores,

Cada vez mais se discute o crescimento da pressão internacional pela defesa da mata nativa amazônica, inserida em um momento em que se discute com cada vez maior ênfase a necessidade de defesa ambiental como um pressuposto básico das nações, objetivando frear o processo de aquecimento global.

Nesse sentido, trazemos hoje uma notícia que destaca um movimento legislativo enfático que visa bloquear importação de produtos primários que tenham relação com a utilização de áreas ilegalmente desmatadas, discutido pelo Congresso norte-americano. Os efeitos dessa matéria podem atingir diretamente os interesses econômicos brasileiros, sendo considerado motivo de alerta.

Esperamos que gostem e compartilhem!

Ygor Alonso é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).

O Congresso americano estuda criar uma lei que pode barrar a importação pelos EUA de itens como soja, cacau, gado, borracha, óleo de palma, madeira e seus derivados de países com índices altos de desmatamento florestal se o produtor rural e o importador americano não comprovarem que as origens desses produtos - e toda sua cadeia produtiva - passaram ao largo de áreas ilegalmente desmatadas.

O projeto legislativo, batizado de Forest Act 2021, ou Lei Florestal 2021, foi apresentado na última quarta (6/10), e é o mais abrangente marco legal no tema proposto nos EUA nos últimos anos. Na justificativa do projeto, ao qual a BBC News Brasil teve acesso em primeira mão, o senador democrata Brian Schatz e o congressista democrata Earl Blumenauer, autores da peça, citam o Brasil - e seus produtos de origem bovina - como exemplo do problema.

"Em 2020, os EUA importaram carnes e couros bovinos processados avaliados em mais de US$ 500 milhões do Brasil. Ali, a pecuária é o maior impulsionador do desmatamento na Floresta Amazônica e outros biomas, e 95% de todo o desmatamento feriam a lei", escrevem os autores no projeto de lei apresentado simultaneamente à Câmara e ao Senado. Além do Brasil, apenas a Indonésia é citada nominalmente no texto.

Embora digam que a regra não tem como alvo países, e sim o aquecimento global e a devastação ambiental, os legisladores americanos reconhecem que o Brasil deve ser afetado caso a lei passe, o que eles esperam que ocorra até novembro de 2022.

Em 2021, o Brasil deverá se consolidar como o quarto maior exportador de carne bovina congelada aos EUA e atualmente já é o maior fornecedor de material bruto para fabricação de assentos de couro de automóveis. Esses seriam os mercados em maior risco. A BBC News Brasil entrou em contato com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), mas a entidade afirmou que não se manifestaria.

"A aprovação da lei vai ser uma oportunidade para o Brasil (mudar), já que até agora o país está tratando com deboche seus compromissos ambientais. O atual governo tem agido de forma descuidada em relação ao desmatamento, não tem sido particularmente sensível aos direitos dos povos indígenas. Isso fere os interesses do Brasil", afirmou Blumenauer à BBC News Brasil.

Biden e o aquecimento global

A proposta da Lei Florestal é a primeira grande ameaça de punição dos EUA ao Brasil em relação ao comportamento do país em um tema prioritário para a Casa Branca: o aquecimento global. Segundo Rick Jacobsen, chefe de políticas para o Brasil na ONG Environmental Investigation Agency (EIA), sediada em Washington, "não há dúvida de que a destruição da floresta amazônica é uma grande motivação dos legisladores americanos" para propor a nova lei.

Em agosto de 2021, o presidente Bolsonaro admitiu o desafio que o assunto representava na relação bilateral com os EUA. "Da minha parte, o Brasil está de portas abertas e pronto para continuar a conversa com o governo americano. Obviamente, o governo Biden é um governo mais de esquerda e um governo que tem quase uma obsessão pela questão ambiental, então isso atrapalha um pouquinho a gente", afirmou o mandatário brasileiro.

O democrata Joe Biden se elegeu à presidência prometendo retornar ao Acordo de Paris e retomar o protagonismo americano no combate às mudanças climáticas. Ele chegou a citar o desmatamento da Amazônia em um debate presidencial, ainda em 2020, como exemplo de situações nas quais ele acreditava poder liderar o mundo em busca de soluções.

Por isso mesmo, o projeto de lei se encaixa com precisão à pauta de Biden. De acordo com Schatz e Blumenauer, se o desmatamento global fosse considerado um país, ele seria o terceiro maior emissor de gases do efeito estufa do mundo, atrás apenas da China e dos EUA. Especialistas afirmam que a devastação da cobertura vegetal do planeta responde por cerca de 10% das emissões globais. Diante do problema, a solução estaria em mirar o motor para a derrubada das matas.

"Já temos uma lei federal que tenta garantir que não importemos madeira originária de desmatamento ilegal, mas o fato é que muito do desmatamento está sendo impulsionado pelas commodities que são cultivadas nas áreas após o corte da floresta tropical. E então nosso problema é garantir que nenhum dos produtos que chegam aos nossos portos são resultado de desmatamento ilegal", afirmou Schatz à BBC News Brasil. Além de barrar os produtos, a lei também prevê a possibilidade de que a importação irregular desses itens seja incluída no hall de crimes financeiros no país.

Embora não esconda as divergências em relação ao governo brasileiro, Biden tem optado por um tratamento discreto e diplomático em relação ao Brasil. O mandatário americano convidou Bolsonaro para a Cúpula de Líderes que tratou de clima em abril (embora tenha deixado a sala virtual do encontro no momento em que o presidente brasileiro falou) e, até maio, a equipe de seu Enviado Climático, John Kerry, mantinha contatos semanais com o Itamaraty e o Ministério do Meio Ambiente sob Ricardo Salles.

Mas a percepção de que o governo brasileiro apenas pedia por recursos financeiros, sem entregar resultados concretos, e o fato de o próprio Salles ter passado a ser investigado em processos por suposto envolvimento com desmatamento ilegal - o que ele nega - azedaram o clima com os americanos.

A retomada do diálogo entre as partes aconteceu um pouco antes da última Assembleia Geral da ONU, em setembro, na qual Bolsonaro tentou mostrar que cumpria as promessas que fez na Cúpula de Biden. Ele citou em seu discurso o aumento do orçamento de órgãos de fiscalização, como o Ibama, e a redução nos índices de desmatamento medidos em agosto, além de ter elogiado o Código Florestal brasileiro, o mesmo que seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, tentou afrouxar via projeto de lei ainda em 2019. Reservadamente, integrantes do primeiro escalão do governo brasileiro disseram à BBC News Brasil que o discurso foi elogiado tanto por Kerry como pelo secretário de Estado dos EUA Antony Blinken.

Perguntado pela BBC News Brasil, porém, sobre se acreditava nas palavras de Bolsonaro na ONU, o congressista Blumenauer deu uma gargalhada. "Estamos vendo índices históricos de desmatamento. É risível. Até agora não vimos evidências de mudança. Ele diz que vai mudar e terá ocasião de provar isso, mas até agora, não. E não conseguiremos colocar as coisas nos eixos na América Latina, especialmente em relação às ameaças climáticas, sem o Brasil", disse Blumenauer.

Embora o governo brasileiro comemore em setembro o segundo mês consecutivo de queda de desmatamento na Amazônia, os índices seguem em patamares elevados e o acumulado do ano de 2021 até setembro é quase o dobro do registrado no mesmo período de 2018, antes da chegada de Bolsonaro ao poder.

A Casa Branca ainda não se manifestou publicamente sobre a Lei Florestal mas está ciente do projeto, segundo os dois parlamentares. "Vai ser uma ferramenta para a administração Biden promover seus interesses. O presidente é bastante diplomático e normalmente preferiria a cooperação. Mas ele não teve que apresentar isso, nós apresentamos, e eu acho que ele vai nos apoiar. E é algo que o ajuda a administrar a relação com o Brasil", afirma Blumenauer, para quem é importante ter também "instrumentos de punição" em uma "política diplomática de incentivos e punições".

A própria proposta de lei contempla os dois aspectos. Por um lado, deixa aberta a possibilidade de que países com desmatamento persistente sofram ações diretas da presidência - o que poderia incluir sanções. Por outro, preveem a criação de um fundo pelos EUA para financiar a conservação dos biomas em territórios alheios.

"O fundo vai exigir bilhões de dólares, e, obviamente, isso ainda precisa ser negociado. Mas sabemos que os países desenvolvidos precisam ajudar aqueles que ainda têm economias em desenvolvimento a fazer uma série de escolhas certas para o planeta, e essa ajuda não pode vir só na forma de conselhos ou pedidos. Muitos desses países precisarão de ajuda financeira. E estamos preparados para ajudar desde que haja seriedade no tratamento do problema", afirma Schatz.

Protecionismo

O Itamaraty reconhece que o Brasil tem um problema de imagem internacional na questão ambiental e tem havido por parte do órgão um esforço para mudar a posição desfavorável do país no debate.

Consultada pela BBC News Brasil, a Embaixada Brasileira em Washington D.C. afirmou em nota que "monitora todos os projetos que tramitam no Congresso americano com consequências potenciais para as relações entre o Brasil e os EUA" e que "mantém interlocução permanente com parlamentares americanos dos dois partidos". "O compromisso do governo e do setor agropecuário brasileiros com a sustentabilidade é tópico prioritário nesses contatos", conclui a nota.

Os diplomatas brasileiros e os setores produtivos nacionais, no entanto, sempre relembram que, a despeito da propalada preocupação ambiental, apertar as restrições aos produtos brasileiros também serve aos interesses de agricultores dos Estados Unidos e da Europa, competidores diretos do Brasil em uma série de mercados internacionais.

"Essa proposta legislativa dos EUA confirma a tendência de implementação no mundo de medidas com um duplo fundamento. O primeiro é ambiental e climático. Já o segundo é eminentemente econômico, de concorrência. E por isso é necessária uma atenção do Brasil ao tema, para tentar se resguardar dessas medidas. O Brasil precisa trabalhar para preservar o meio ambiente e preservar também o seu comércio internacional", afirma Abrão Arabe Neto, vice-presidente executivo da Amcham Brasil, a Câmara de Comércio Americana no país, e ex-secretário de comércio exterior.

Neto aponta que uma proposta muito semelhante - e tendo como alvos de restrições potencialmente o mesmo conjunto de produtos e de países, como Brasil e Indonésia - está em fase de finalização pela União Europeia.

E embora essas medidas possam levar meses ou anos até a completa implementação, seu impacto pode ser significativo para a economia desses países, analisa Rick Jacobsen.

"Com o desenvolvimento de regulamentações sobre desmatamento nos EUA e na Europa, os dois maiores mercados do mundo, junto com o Reino Unido, há uma sinalização desse bloco de países de que não querem participar da destruição da floresta amazônica e do Pantanal. Este deve ser mais um alerta para o governo brasileiro de que suas exportações agrícolas se tornarão uma marca cada vez mais tóxica nos mercados globais se o desmatamento não for controlado", diz Jacobsen.

Neto lembra, no entanto, que, depois de aprovadas, as regras ainda poderão ser contestadas nos âmbitos multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio, caso os países afetados as considerem protecionistas ou abusivas. Isso porque, mesmo produtores que já satisfaçam as condições de produção podem ter um aumento de custo de produção por ter que comprovar o rastreio das cadeias produtivas e emitir a documentação necessária, o que poderia, por exemplo, impactar na competitividade da mercadoria brasileira.

Questionado sobre se o seu projeto de lei tem um caráter protecionista e pretende, portanto, beneficiar os agricultores americanos, o senador Schatz afirmou à BBC News Brasil que "a razão pela qual trabalhei nessa legislação é porque ela é importante para o planeta. E nem uma única empresa americana veio até mim e pediu por isso".

Seu colega Blumenauer, no entanto, afirma que "produtores que desmatam são pessoas que têm uma vantagem comercial injusta, que trapaceiam e estão ameaçando o planeta, por isso têm que ser punidas". O congressista afirmou ainda que questionar a norma a partir desse ponto de vista "enfraquece o Brasil no cenário econômico global. Tomar medidas ambientais trapaceiras e imprudentes não vão garantir desenvolvimento econômico. E não são uma saída sustentável".

Blumenauer e Schatz esperam que o arcabouço ambiental legal recém apresentado por eles no legislativo americano possa ser exposto na COP-26, a Conferência da ONU para o Clima, que acontece em Glasgow, no Reino Unido, em novembro, e que outros países considerem seguir a mesma ideia.

Domesticamente, a Lei Florestal ainda precisa cair nas graças dos Republicanos - na Câmara, apenas um dentre os 212 congressistas do partido expressou publicamente interesse em bancar a lei. No Senado, ainda não há adesões oficiais da oposição. Mas, como os republicanos possuem uma base eleitoral composta por produtores rurais que teriam interesse na aprovação da norma, não é improvável que o projeto conquiste apoio bipartidário.

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quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Convite - People's Forum on BRICS 2021 - "Building People's Solidarity"

Caros leitores,

É com muita satisfação que gostaríamos de convidar a todos para participar conosco do Painel “Multilateralism, Cooperation and Global Governance in the context of the BRICS Geopolitical System”, como parte das atividades do People’s Forum on BRICS "Building People´s Solidarity".

O Painel ocorrerá no dia 19 de outubro de 2021 às 08:30 AM (Horário de Brasília) e contará com debates interdisciplinares apresentados por pesquisadores de diferentes instituições que estarão discutindo as novas tendências no âmbito da Governança Global. 

Segue abaixo a Programação do Painel:

- Giovanni Barbieri: "Intra BRICS Multilateral Financial Cooperation in the Post-Pandemic" 

- Gabriel Rached: "International Cooperation within the BRICS, Global Shifts and the New Global Governance"

- Marko Juutinen: "BRICS and the Geo-politics in the Indo-Pacific: contemporary challenges"

- Shraddha Naik: "BRICS at 13: India´s efforts in strengthening interregional cooperation"

- Devika Misra: "BRICS in the Post Pandemic World: Detangling forms of Cooperation and Aid"

Participe do Painel acessando o link abaixo

Zoom Meeting: 

https://zoom.us/j/99032331756?pwd=WlNxL3FGUlVya2lzVTNLWUZ3b0l4dz09

Meeting ID: 990 3233 1756

Passcode: BRICS@21

Contamos com a participação de todos!


quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Chefe do Banco Mundial pede plano para reduzir dívida de países pobres

 

Caros leitores,

É fato que um dos efeitos mais marcantes em termos econômicos da crise que se postula é o agravavento do quadro de dívida pública, especialmente dos países em desenvolvimento, diante da necessidade de aumento de gastos para a garantia da situação sanitária e - mais recentemente - para aquisição de insumos e vacinas para superação deste cenário.

Nesse sentido, trazemos hoje uma matéria que busca destacar a atuação do presidente do Banco Mundial na criação de um projeto que busque sanar a questão das dívidas envolvendo os países de baixa renda, como um mecanismo de recuperação econômica e de superação desse cenário que se coloca.

Esperamos que gostem e compartilhem!

Ygor Alonso é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).

O presidente do Banco Mundial, David Malpass, advertiu nesta segunda-feira 11 para o risco de superendividamento nos países pobres que emergem da pandemia da Covid-19 e pediu “um plano integral” para abordar o problema da dívida.

A carga da dívida nos países de baixa renda aumentou 12%, chegando a um recorde de 860 bilhões de dólares em 2020, em meio à crise sanitária global, anunciou a instituição.

Os esforços para combater a Covid-19 exacerbaram os níveis de endividamento, e um alívio da dívida será necessário, disse Malpass.

“Os níveis sustentáveis de dívida são vitais para a recuperação econômica e a redução da pobreza”, declarou Malpass.

A situação é urgente. Lançada pelo Grupo dos 20 países mais industrializados do mundo (G20) no início do ano passado para permitir aos países adiar o pagamento da dívida em meio à pandemia, a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida expira no final do ano.

“O mundo deveria pensar no que fazer depois de 1º de janeiro”, disse Malpass em uma videoconferência, insistindo em que a continuação do dispositivo DSSI “é algo que deve ser considerado”, porque “o risco agora é que muitos países saiam da crise da Covid-19 com uma grande dívida pendente que pode levar anos para ser administrada”.

Dados do Banco Mundial divulgados nesta segunda-feira mostram que a deterioração nos indicadores da dívida é algo generalizado, afetando países em todas as regiões e todos de renda baixa e média renda.

“Muitos países em desenvolvimento começaram 2020 em uma posição vulnerável, com a dívida externa pública já em níveis elevados”, e então os governos forneceram recursos sem precedentes para tentar conter o vírus e suas consequências econômicas, explica o relatório.

Para alguns deles, o aumento da dívida foi de 20%, ou mais. E, para a maioria, o aumento do endividamento não foi acompanhado do crescimento da renda nacional bruta e das exportações.

“É necessária uma mudança em grande escala na abordagem da transparência da dívida para ajudar os países a avaliar e administrar seus riscos de dívida externa e trabalhar em direção a níveis e condições de dívida sustentáveis”, enfatizam os economistas do Banco.

David Malpass e a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, defendem que uma maior transparência de dados é essencial para resolver o problema da dívida, em particular para negociar com os credores.

Se somados os países de renda média, a dívida externa em aberto aumentou 5,3%, em média, chegando a 8,7 trilhões de dólares no ano passado – um aumento em ritmo anual comparável ao registrado em 2018 e 2019.

“Para muitos países, porém, o aumento foi de dois dígitos”, acrescenta o documento.

“As economias em todo mundo estão enfrentando um desafio assustador representado pelos níveis de dívida altos e crescentes”, comentou a economista-chefe do Banco Mundial, Carmen Reinhart, em um comunicado.

“Os formuladores de políticas devem estar preparados para a possibilidade de superendividamento quando as condições do mercado financeiro se tornarem menos favoráveis, especialmente em países emergentes e em economias em desenvolvimento”, ressaltou.

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quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Crise expulsa quase cinco milhões de pessoas da classe média na América Latina


Caros leitores,

O contexto que se coloca traz diferentes consequências à vida cotidiana, que incluem inclusive o derretimento do poder de compra e a perda de condições financeiras da população, que no caso latino-americano já vinha em casa e teve seu processo agravado pelo contexto pandêmico. Nesse sentido, trazemos hoje dados que demonstram essa realidade com base no exposto pelo Banco Mundial.

Esperamos que gostem e compartilhem!

Ygor Alonso é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).

Após uma longa e lenta ascensão, um declínio abrupto. A classe média latino-americana sai da pandemia mais magra: uma redução de 4,7 milhões de pessoas que caem em uma situação de vulnerabilidade ou pobreza, segundo um relatório do Banco Mundial publicado nesta quinta-feira. A América Latina deixa de ser, portanto, uma região majoritariamente de classe média, uma meta alcançada há apenas três anos. Apesar do retrocesso, programas de estímulo como os do Brasil conseguiram evitar um cenário pior. Sem ajudas públicas, mais de 20 milhões de pessoas poderiam ter deixado a parte central da pirâmide.

Em 2018 a classe média, cuja dimensão é frequentemente tomada como indicador do desenvolvimento de uma sociedade, tornou-se pela primeira vez o grupo predominante na região, após décadas de progressivo crescimento. Um ano depois, 38% da população (230 milhões de pessoas) tinha renda entre 13 e 70 dólares por dia (considerando-se a paridade do poder de compra), contra 37% de população vulnerável, com renda entre 5,50 e 13 dólares, e 22% de pobres, afirma o relatório intitulado O crescimento gradual e o rápido declínio da classe média na América Latina e Caribe. Desde 2000, a pobreza caiu quase pela metade, e a renda média dos domicílios passou de 13,9 dólares em 2008 para 17,1 em 2018.

A pandemia mudou drasticamente esse cenário. Os autores do estudo estimam que a classe média encolheu para 37% da população em 2020, enquanto o número de pessoas vulneráveis aumentou para 38,5%. Os programas de estímulo não bastaram para compensar a queda abrupta de 6,5% no PIB regional devido às medidas de confinamento. “A generosidade destas políticas foi bastante baixa na região como um todo”, afirma o relatório, estimando que essas transferências representem em média 15% das rendas familiares. No Equador e México, as ajudas contribuíram com apenas 3% e 5% da renda, respectivamente, beneficiando no máximo uma décima parte da população.

Além de escassas, as transferências se concentraram nos mais pobres, geralmente deixando de fora as classes médias, menos necessitadas, mas também vulneráveis, disse a economista Nora Lustig, catedrática da Universidade Tulane em Nova Orleans, durante a apresentação do relatório. “Em termos absolutos, o que acontece com os pobres é mais preocupante porque qualquer perda é muito nociva, mas em termos relativos o setor médio foi provavelmente o que teve que encarar um maior esforço”, analisou a acadêmica, que não participou do estudo.

O estrondo poderia ter sido pior. O Brasil, onde vive 41% da classe média da região, entregou o auxílio emergencial pela pandemia a 67 milhões de pessoas. Graças à mobilidade social no gigante latino-americano, o declínio em escala regional se contém em 4,7 milhões de indivíduos, pouco mais de um ponto percentual. “A perda líquida é menos negativa do que se projetou originalmente, graças principalmente ao generoso programa de transferências”, aponta o relatório. Excluindo-se o caso brasileiro, os autores estimam que a classe média do resto da região perdeu 12 milhões de pessoas, passando de 35% da população em 2018 para 31,6% em 2020.

Da mesma maneira, as ajudas sociais brasileiras também maquiam o aumento significativo da pobreza no resto da região. As transferências ajudaram a tirar 22 milhões de pessoas de uma situação de privação econômica, e a América Latina fechou 2020 com 400.000 pobres menos. Entretanto, 77% dos que deixaram a pobreza foram brasileiros. Excluindo-se o Brasil, a região somou 13,7 milhões de pobres, destaca o estudo.

Mesmo com essa diminuição, os “novos pobres”, como os autores do estudo chamam os egressos da classe média, conservam certas vantagens sobre os que já viviam em condições de pobreza. Têm melhores níveis de educação e um maior acesso a serviços como a telefonia celular (94% frente a 83%). “No médio prazo, à medida que a região começar a crescer outra vez, quem tem nível educacional mais alto estará mais bem posicionado para se beneficiar de qualquer eventual recuperação no emprego”, afirma o relatório. Os Governos devem focar, advertem os autores, nas famílias que já eram pobres e que agora afundaram ainda mais por causa da pandemia.

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sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Mineração como indutora das mudanças climáticas e da escassez hídrica no Brasil


Caros leitores,

A discussão sobre as mudanças climáticas consiste em um tema essencial de análise no momento que se coloca. Diante do acirramento de alterações que são sentidas no cotidiano e tendem a se agravar com o passar do tempo, formas de evitar o agravamento do quadro decerto são questões de fundamental importância.

Nesse sentido, trazemos hoje uma notícia que constata os riscos da mineração no ambiente amazônico, em que a degradação ambiental que se vive tem o mote de induzir ainda mais as mudanças climáticas - em meio a um contexto de crise hídrica no País.

Esperamos que gostem e compartilhem!

Ygor Alonso é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).

Na última semana, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), lançou seu sexto relatório de análise reforçando mensagens que já vêm sendo anunciadas há muitos anos. Entre suas afirmações mais contundentes, o relatório deixa claro que “não existe retorno para algumas mudanças no sistema climático, embora algumas alterações possam ainda ser freadas e outras interrompidas, se limitarmos o aquecimento global”. Além disso ele alerta que “é indiscutível que atividades humanas estão causando mudanças climáticas e tornando eventos climáticos extremos como ondas de calor, chuvas torrenciais e secas mais frequentes e severas”.

A mineração possui várias relações com as mudanças climáticas. Poderíamos falar, por exemplo, do grande uso de combustíveis fósseis nas operações de escavação (há equipamentos que consomem até 400 litros de combustível por hora) ou de eletricidade no beneficiamento (a cadeia minero-metalúrgica consome o equivalente a 11% do total da energia elétrica no Brasil). Esses temas são importantes e devem ser discutidos em profundidade, mas aqui vamos nos deter a dois outros aspectos também relevantes: o apoio governamental ao setor do carvão e a contribuição da mineração para o desmatamento na Amazônia.

Na segunda-feira, 9 de agosto, curiosamente no mesmo dia em que o IPCC lançou o seu relatório, o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou a Portaria 540/2021 GM/MME que detalha o Programa para Uso Sustentável do Carvão Mineral Nacional. O programa do MME teve menos pompa e uma cobertura menor que as notícias do IPCC, talvez o ministério tenha se acovardado diante da possível repercussão negativa da iniciativa. Aparentemente o fato de regiões do Canadá, Estados Unidos, Argélia, Turquia, Grécia e Itália estarem sendo destruídas por incêndios descontroladas ou de partes da Alemanha, Bélgica e China terem sido devastadas por inundações históricas não foi suficiente para superar o negacionismo climático do MME.

Ignorando que a ideia de um “uso sustentável de carvão mineral” é uma contradição em termos, por mais flexível que seja o entendimento de “sustentável”, o programa defende a criação de uma modalidade de contratação de energia elétrica pelo governo que seja específica para a geração por carvão mineral. Além disso, ele sugere a priorização do uso de recursos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para P&D em carvão mineral. Ou seja, ao invés de investir no desenvolvimento tecnológico de fontes renováveis de energia elétrica, indica que se dê preferência para uma não-renovável. Entre suas justificativas, o programa defende a necessidade de apoiar a implantação de novas termelétricas a carvão pelo fato de o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ter direcionado sua política de crédito para fontes renováveis de energia. Ou seja, o MME intencionalmente esvazia uma das poucas políticas existentes no país de mitigação das mudanças climáticas.

Embora a participação do carvão na matriz energética brasileira seja pequena, essa iniciativa chama a atenção por ir no sentido diametralmente oposto às propostas que estão sendo desenvolvidas em todo o mundo para combater as mudanças climáticas. Ainda, ela contraria o entendimento generalizado da necessidade do fechamento e desinvestimentos em plantas energéticas movidas a carvão, por seu alto potencial emissor de gases de efeito estufa. Segundo o Observatório do Clima, o município de Candiota apresentou o pior índice de emissão do Rio Grande do Sul, sobretudo por conta das duas usinas termoelétricas movidas a carvão. Preocupa ainda mais a perspectiva de duas novas usinas e a expansão das antigas na municipalidade, que também é importante local de extração mineral.

Mas não é só nesse contexto que a mineração se envolve com o aquecimento global. Ao mesmo tempo, ela também está profundamente associada ao desmatamento da floresta amazônica, uma questão muito mais sensível para a sociedade e que chama a atenção de pessoas ao redor do mundo.

No caso específico do desmatamento é importante destacar que os impactos que o Brasil já vem sofrendo (particularmente em relação à crise hídrica e ao risco de apagão) se devem também a mudanças em escala regional. Por um lado, as simulações do IPCC já indicam, com alta confiabilidade, que a elevação da temperatura global levará ao aumento das secas ecológicas e agrícolas na região central da América do Sul (que inclui o Centro-oeste brasileiro). Por outro, há fortes sinais de que o aumento do desmatamento da Amazônia está impactando os rios voadores, fenômeno climático que garante a transferência da umidade da Amazônia para o Cerrado e abastece boa parte das bacias hidrográficas do país. Em outras palavras, a destruição da floresta Amazônica estaria associada à redução do volume das chuvas e, consequentemente, à diminuição do volume nos rios na porção sul do país. Cabe ressaltar ainda que os requerimentos minerais (pedidos para pesquisa e lavra) protocolados na Agência Nacional de Mineração (ANM) que se localizam no bioma Cerrado totalizam 16% do seu território e, se levados adiante, poderão comprometer ainda mais o já crítico abastecimento de água no país.

A Amazônia é vista pelo setor mineral como fronteira de expansão e é para lá que muitos dos novos projetos se destinam. Atualmente, os requerimentos minerais registrados na ANM já respondem por 22% do território do bioma e devem gerar muita pressão na região. Só de áreas de lavra em operação ou autorizadas a iniciar extração são quase 2,6 milhões de hectares. Nesse sentido, é importante levar em consideração que a dinâmica de ocupação da mineração é distinta daquela do agronegócio. Enquanto a agropecuária “come pelas beiradas”, as empresas mineradoras se orientam pela concentração dos minérios e, assim, acabam por instalar projetos em áreas mais remotas e preservadas. Não por acaso, as concessões de extração mineral, ameaçam 11% da área de florestas intactas do mundo. Essa lista é liderada pelo Brasil, que é responsável por 41% dessas concessões e 60% do total da área ameaçada em todo o globo.

Parte do desmatamento é causado pela mineração ilegal, que não é devidamente combatida pelo governo atual e, em muitas situações recebe seu apoio. Como consequência da política recente, benevolente com a extração ilegal, a taxa de desmatamento anual causado pela atividade ilegal na Amazônia praticamente dobrou entre 2017 e 2020. O mais preocupante é que boa parte dessas degradações está em áreas remotas e preservadas, como terras indígenas e áreas de protegidas.

Entretanto, o desmatamento não é apenas devido à mineração ilegal, e as atividades regulares também devem ser responsabilizadas. Projetos minerais podem aumentar significativamente a perda florestal a uma distância de até 70 km das minas. Assim, operações minerais de grande escala na Amazônia podem gerar um desmatamento até 12 vezes maior do que a área da lavra concedida. Como consequência, esses projetos foram responsáveis por 9% do desmatamento na região entre 2000 e 2015. Inclusive, se o Projeto de Lei 191/2020 apresentado pelo Governo Federal, que pretende regularizar a mineração em Terras Indígenas, for aprovado, se estima um incremento de 20% no desmatamento decorrente da mineração na Amazônia.

Vivemos uma crise climática, hídrica e energética. Contudo, o MME, adotando uma postura negacionista, decide deliberadamente apoiar um dos principais setores culpados por essa situação. Ao mesmo tempo, a expansão desenfreada da mineração na Amazônia tende a ampliar significativamente o desmatamento e, consequentemente, aprofundar os eventos climáticos extremos no futuro. Portanto, a sociedade precisa refletir até que ponto faz sentido derrubar a floresta e minerar, acelerando as mudanças climáticas e comprometendo o abastecimento de água do país, para suprir siderúrgicas poluidoras chinesas ou alimentar o mercado especulativo do ouro.

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