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terça-feira, 13 de julho de 2021

França e Alemanha buscam saída europeia na ‘guerra fria’ entre China e Estados Unidos


Caros leitores,

Nos últimos anos, viu-se um acirramento das relações existentes entre China e Estados Unidos, em uma movimentação que impactou, ao natural, os principais aliados de cada um destes países. Com a alteração do governo norte-americano e a posse de Joe Biden, embora se esperasse um apaziguamento dos ânimos entre as potências, permaneceram os obstáculos nas relações internacionais.

Nesse sentido, trazemos hoje uma matéria cujo enfoque é analisar as condutas tomadas por duas das principais nações europeias, Alemanha e França, em face desta animosidade entre Washington e Pequim. Com acenos para ambos os lados, a posição adotada por ambas tem a possibilidade de determinar o futuro da diplomacia e da cooperação internacional, embora atualmente vigore uma tentativa de estabilizar e manter vínculos para com ambas.

Esperamos que gostem e compartilhem!

Ygor Alonso é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).

A França e a Alemanha procuram um caminho europeu na guerra fria entre Washington e Pequim. O presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, se reuniram na segunda-feira por videoconferência com o chefe de Estado chinês, Xi Jinping, para retomar a cooperação após meses de desencontros.

Os europeus se alinharam nas semanas recentes com as críticas da Administração de Joe Biden aos direitos humanos na China e à suposta agressividade deste país na região Ásia-Pacífico. Era o momento, para os dois motores da União Europeia (UE), não de uma correção —pois Macron e Merkel não se afastaram das posições sobre a China nas cúpulas do G7 e da OTAN em junho—, e sim de marcar um enfoque próprio e distinto do tomado pelos Estados Unidos, mais beligerante à potência asiática.

Foi a terceira reunião por videoconferência entre Merkel e Macron, de um lado, e Xi Jinping do outro, em pouco mais de meio ano. O encontro deveria servir para procurar um terreno comum após semanas de tensões e fixar uma agenda de cooperação sem esquecer as questões que os separam. Em primeiro lugar, as acusações a Pequim, por parte dos EUA e da UE, pelo tratamento à minoria uigur na província chinesa de Xinjiang.

“O presidente da República e a chanceler da República Federal da Alemanha”, afirmou o comunicado do Eliseu, “compartilham as graves preocupações em relação à situação dos direitos humanos na China e lembraram suas exigências sobre a luta contra o trabalho forçado”.

É somente uma frase, e a última, de um texto que retoma as questões em que a cooperação entre as duas partes pode se desenvolver: da mudança climática, em que a China é um sócio imprescindível, aos esforços para restabelecer as conexões aéreas após um ano e meio de pandemia.

Os líderes falaram, segundo a agência de notícias chinesa Xinhua, sobre o que Xi Jinping descreveu como uma “oportunidade”: a iniciativa conhecida como Nova Rota da Seda, uma rede de infraestrutura por via terrestre e marítima com a que Pequim quer se conectar com o restante do mundo. Os pedidos do presidente chinês para aproveitar essa iniciativa vieram poucas semanas depois de o G7 —do qual a China não participa— acertar desenvolver uma alternativa ao projeto regida por princípios democráticos.

Xi Jinping propôs a criação de uma plataforma de quatro lados —China, Alemanha, França e África— para desenvolver o continente africano, em que a pujança chinesa erode a influência europeia. Macron pediu ao líder chinês que pense em maiores perdões da dívida aos países dessa região, enquanto Merkel indicou que a Alemanha consideraria seriamente a proposta chinesa.

A agenda da videoconferência, anunciada com algumas horas de antecedência, era muito técnica; o tema era geopolítico. A ideia é definir o lugar da Europa entre os Estados Unidos de Joe Biden e a China de Xi Jinping. Nessa partida de xadrez entre três, Washington tenta alinhar os europeus o mais perto possível de sua posição; Pequim pretende afastá-los.

Na cúpula do G7 no Reino Unido, em junho, as velhas potências industriais pediram uma investigação na China sobre as origens do vírus da covid-19; exigiram de Pequim respeito aos direitos humanos e às liberdades em Xinjiang e Hong-Kong; e se declararam “profundamente preocupadas” pelas “tentativas unilaterais de alterar o status quo e aumentar as tensões”. Dias depois, os líderes da OTAN afirmaram que as “ambições declaradas da China e seu comportamento resolutivo apresentam desafios sistêmicos à ordem internacional baseada nas regras e em áreas importantes à segurança da Aliança”.

Na época, a relação entre os 27 e a segunda economia do mundo já havia estremecido. Em março, Bruxelas havia imposto suas primeiras sanções à China desde o embargo de armas após a matança de Tiananmen em 1989. Em punição pelo que considera graves violações dos direitos humanos por parte de Pequim contra a minoria uigur na região de Xinjiang, a UE adicionou à sua lista restrita quatro dirigentes e uma entidade chineses.

O Governo de Xi Jinping respondeu imediatamente e com o tom mais alto, ao sancionar 10 indivíduos e quatro entidades. E em maio, o Parlamento Europeu congelou a ratificação do acordo de investimentos que os dois blocos fecharam cinco meses antes, em dezembro de 2020, após sete anos de árduas negociações.

Fomentar a cooperação

Na videoconferência de segunda-feira, segundo a rede de televisão CCTV, Xi Jinping pediu na reunião que Macron e Merkel desempenhem um protagonismo maior em questões internacionais e demonstrem “independência estratégica”. Na linguagem diplomática de Pequim, significa tomar decisões de maneira independente de Washington.

Onde a Europa se colocará em um mundo dominado por duas potências em tensão, os EUA e a China? Existe um caminho intermediário? Ou os europeus devem agir em bloco com seu aliado ocidental? Macron, em um colóquio no laboratório de ideias norte-americano Atlantic Council, em fevereiro, desenhou dois possíveis cenários, em sua opinião, e ambos negativos. “No primeiro”, disse, “nos encontraríamos em uma situação em que todos nos unimos contra a China”. Segundo o presidente francês, o alinhamento entre os EUA e a UE diante da China “seria contraproducente”, porque levaria a China a agir por sua conta e diminuir a cooperação.

Mas Macron também refutou a equidistância da Europa entre as duas potências. “Não faz sentido, porque de maneira nenhuma somos um rival sistêmico dos EUA. Compartilhamos os mesmos valores, a mesma história. E enfrentamos desafios às nossas democracias”, afirmou.

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