A notícia de hoje fala sobre a tentativa de preservação de um sistema multilateral na economia mundial utilizando como instrumento a Organização Mundial de Comércio a fim de evitar maiores conflitos.
Esperamos que gostem e participem.
Nathalia Marques e Lucas Pessoa são monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, advertiu nesta segunda-feira em Pequim para os perigos de uma guerra tarifária entre os dois principais blocos comerciais do planeta (China e EUA), cobrando sua colaboração para preservar o sistema multilateral e “prevenir o conflito e o caos”. Horas antes da cúpula entre Donald Trump e Vladimir Putin em Helsinque, Tusk defendeu uma revisão das normas que regulam o comércio internacional no marco da Organização Mundial do Comércio (OMC), incorporando assuntos difíceis como os subsídios estatais e os direitos de propriedade intelectual, origem da atual luta comercial entre os EUA e a China.
“É o dever comum da Europa e da China, da América e da Rússia não destruir esta ordem, e sim melhorá-la”, afirmou Tusk numa entrevista coletiva após concluir em Pequim a cúpula anual entre os líderes da China e da União Europeia (UE). “Faço um apelo aos nossos anfitriões chineses, mas também aos presidentes Trump e Putin, para que iniciem conjuntamente este processo com uma reforma da OMC.” Neste sentido, Pequim e Bruxelas decidiram estabelecer um grupo de trabalho conjunto em nível vice-ministerial para abordar essas mudanças. “Ainda há tempo de evitar o conflito e o caos”, salientou Tusk.
Com os olhos voltados para Helsinque, a China e a UE expressaram em um comunicado conjunto —sua primeira demonstração de consenso em três anos— seu compromisso com o sistema de comércio multilateral. Não há nenhum tipo de aliança formal, mas ambos os blocos apostam num sistema baseado nas normas e se mostraram contrários às tarifas impostas pela Administração de Donald Trump. Washington, por sua vez, considera que o processo de resolução dos conflitos comerciais no âmbito da OMC é muito lento, e o próprio Trump já disse que as decisões do organismo são “injustas” para os interesses norte-americanos.
A China, possivelmente o país do mundo que mais se beneficiou de sua entrada na OMC, concordou também com a necessidade de reformar esse organismo. O primeiro-ministro Li Keqiang reiterou que Pequim não quer uma guerra comercial e prometeu à União Europeia novas reformas que garantam um melhor acesso ao mercado chinês de suas empresas e produtos.
“Proibimos qualquer tipo de transferência tecnológica forçada e dirigiremos as violações dos direitos de propriedade intelectual seriamente”, disse Li, que ofereceu abrir novos setores ao investimento europeu e reduzir as tarifas a vários produtos para obter uma relação comercial “mais equilibrada” com a UE, sem dar mais detalhes. Perguntado se por acaso se dava por satisfeito com os compromissos da China com respeito a suas práticas desleais (dumping) —algo em que a UE está plenamente de acordo com os Estados Unidos—, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, limitou-se a afirmar: “Há progressos, mas achamos que a China pode se abrir ainda mais”.
Na agenda bilateral, China e a UE avançaram na assinatura de um tratado de investimentos, cujas negociações já duram cinco anos. Sua breve conclusão é uma “prioridade máxima” para ambos os lados, segundo o comunicado conjunto, depois da troca de ofertas de acesso aos respectivos mercados feita durante a cúpula. Fontes diplomáticas relataram que, embora ainda restem muitos aspectos a discutir, uma eventual deterioração das relações entre a China e os EUA (ou entre a Europa e os EUA) poderia dar um impulso ao diálogo.
Quanto aos assuntos relacionados aos direitos humanos, a delegação europeia destacou que, apesar das diferenças, conversa com a China de forma fluente sobre suas preocupações. “Fiz isso hoje e continuarei a fazer no futuro sempre que considerar conveniente”, prometeu Tusk, sem mencionar nenhum caso concreto.
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