Olá Alunos,
A notícia de hoje tem como objeto a perspectiva pouco otimista no que tange à economia brasileira. Especialistas foram ouvidos e apresentaram possíveis respostas que explicam a atual conjuntura que vivemos.
Espero que gostem e participem,
Nathália Marques e Lucas Thomaz - Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
Mais um trimestre se passou e novamente o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) volta a decepcionar, com crescimento de 0,4% no primeiro trimestre de 2018. Embora em linha com as expectativas - o mercado esperava alta entre 0,1% e 0,5% - o número indica que ainda falta fôlego para o País de fato se recuperar da recessão de 2015 e 2016.
Para saber o que leva o Brasil a ter tanta dificuldade em retomar - e sustentar - seu crescimento econômico CartaCapital ouviu cinco economistas, com uma só pergunta: por que o Brasil não consegue crescer?
No ano passado o Brasil cresceu apenas 1%. Antes disso, foram dois anos seguidos de uma recessão que fez a economia brasileira encolher 7% entre 2015 e 2016. Houve um suspiro de alívio em 2017, mas que ficou longe de repor as perdas da crise e levou a economia brasileira a recuperar apenas o mesmo patamar de 2011.
No ano passado, uma safra recorde fez a diferença logo no primeiro trimestre, e levou a economia brasileira a interromper uma sequencia de oito semestre de retração. Mas a ajuda do campo não deve se repetir agora.
O resultado em 2017 foi puxado principalmente pela expansão de 13% na agropecuária. Por outro lado, houve estabilidade no desempenho da indústria e crescimento de apenas 0,3% no setor de serviços, que detêm o maior peso na composição do indicador.
A perda de fôlego da economia fica mais clara na base de comparação anual. Em relação ao 1º trimestre de 2017, o PIB cresceu 1,2%, mostrando uma desaceleração em relação aos trimestres anteriores. A variação trimestre frente ao mesmo trimestre no ano anterior foi de 0, 0,4%, 1,4% e 2,1%, do primeiro para o quarto trimestre, respectivamente.
As baixas expectativas de crescimento estão ligadas à atual instabilidade política e aos altos índices de desemprego, que comprometem o poder aquisitivo da população e o consumo das famílias, que não se confirmou como o alívio esperado para o PIB no ano passado.
E a greve dos caminhoneiros impõe um novo desafio: ainda não é possível calcular os prejuízos que a paralisação trará para a economia brasileira, mas alguns setores serão particularmente afetados.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) avalia os prejuízos em 3 bilhões de reais. Até o domingo 27, 64 milhões de aves adultas e filhotes morreram pelos efeitos da greve. As fazendas não têm recebido ração em quantidade suficiente para alimentar os animais.
Embora o segmento de agropecuária seja o mais vulnerável à atual crise, pois deixar de escoar a produção implica perdas de safra e a morte de animais, outros setores também vêm sofrendo forte impacto, como o da construção civil. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) afirma que 40% das atividades do setor foram atingidas, o que representou um comprometimento de 2,4 bilhões em negócios.
Já a indústria automotiva, que suspendeu suas atividades na última quinta-feira 24, deixou de arrecadar 1,3 bilhão em tributos, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). E o prejuízo das empresas aéreas já passa da casa dos 400 milhões, segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).
Confira a análise dos economistas ouvidos por CartaCapital.
André Biancarelli - professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon-IE/Unicamp)
Em primeiro lugar, porque a retomada, como aquela famosa personagem, “foi sem nunca ter sido”. Muito tímida após a maior contração já registrada, provocada por impulsos pontuais (a liberação do FGTS e uma supersafra agrícola) e sem capacidade de retomar o investimento, a aceleração do PIB em 2017 animou previsões exageradamente otimistas, agora frustradas. Mas o fato é que já ao longo dos trimestres anteriores se verificava uma desaceleração.
Em segundo, razões de ordem conjuntural, ligadas a fatores estruturais. As elevadas taxas de desemprego e informalidade (não atenuadas, bem ao contrário, pela vigência das novas regras trabalhistas) desestimulam o consumo, o que debilita também o crédito já prejudicado pelo elevadíssimo custo.
Ao cenário de destruição de importantes setores produtivos pelo modo como se combateu a corrupção desde 2014 se somou a fragilidade financeira de várias empresas e o alto grau de capacidade ociosa. Ao longo do primeiro trimestre também o cenário internacional foi se deteriorando, e a enorme instabilidade institucional que se aprofunda desde o golpe de 2016 ampliam a incerteza sobre o futuro. Neste cenário, imaginar uma retomada do investimento é pura ilusão.
Mas o terceiro e mais abrangente motivo é a falta de horizonte para a economia brasileira, decorrente das opções de política. A estratégia adotada pelo governo Temer, desde seu início, não tem na retomada do crescimento uma prioridade. Sua missão era a aprovação rápida de um agressivo conjunto de reformas liberalizantes, que alterariam a forma de funcionamento do capitalismo no Brasil.
Tais reformas, quando têm impacto sobre o nível de atividade, é negativo - vide a reforma trabalhista, o teto de gastos, o encolhimento dos bancos públicos e a guinada na gestão da Petrobras. No cenário atual, argumentar que estas reformas seriam a base para a elevação da “confiança” e, por esta via, do crescimento, soa repetitivo e pouco crível.
Walter Franco Lopes - professor universitário, mestre em Economia pela University of London e em Filosofia pela PUC-SP
Sem a geração de emprego e renda de forma sustentada e crescente no curto, médio e longo prazos inviabilizamos o combate de nossos reais problemas. Problemas que se avolumam, criando bolsões de pobreza, promovendo a exclusão social e a desigualdade em todas as suas formas.
Fracassamos em promover o crescimento econômico sustentado de longo prazo não apenas por sermos incapazes - como nação - de usufruir das vantagens competitivas e comparativas próprias de nosso território. Erramos quando negligenciamos grande parcela da população do processo de geração de riquezas, inviabilizando qualquer articulação mais abrangente de caráter político-econômico por parte do Estado.
Precisamos idealizar e colocar em prática um projeto efetivamente nacional centrado no crescimento e no combate às históricas desigualdades. Neste exato momento a maior de suas prioridades: o emprego.
A imensa desigualdade corrói qualquer articulação possível entre capital, trabalho e demais fatores de produção, bloqueando movimentos mais dinâmicos da economia como um todo, impedindo, de tal modo, que o País cresça.
Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da FGV
No último ciclo de crescimento, famílias, empresas se endividaram muito. Então o processo de desalavancagem é lento e doloroso. Em nossas análises sempre destacamos que a recuperação seria mais lenta que a observada em outras saídas de recessão, sem estima elevadas taxas de crescimento para 2017 e 2018.
Além disso, o governo se endividou muito, pressionando a taxa de juros de longo prazo da economia. Apesar da queda de juros de curto prazo, os juros longos continuam elevados. Quando uma empresa toma a decisão de investir ou não, por exemplo, é a taxa longa que mais importa. Então podemos dizer que este cenário prejudica uma retoma mais rápida da economia.
Outro ponto que merece destaque é que no último ciclo de crescimento, o investimento também cresceu muito, mas de forma muito ineficiente no Brasil. Isso se reflete em uma produtividade negativa do capital, ou seja, uma má alocação de recursos.
De maneira resumida é o seguinte: seria melhor não ter investido, pois perdemos dinheiro. E não faltam exemplos de maus investimentos públicos e privados no Brasil, como obras de infraestrutura, obras do setor de petróleo, setor automobilístico, etc... É necessário digerir estes maus investimentos e desenvolver mecanismos para evitar que isso aconteça de novo.
Antonio Corrêa de Lacerda - professor de economia da PUC-SP
O Brasil não cresce porque não há vetores para impulsionar o crescimento. Do lado da demanda, desemprego elevado, renda retraída, falta de confiança do consumidor, crédito caro e escasso, dentre outras questões, são limitadores da expansão.
Do lado da oferta, a falta de perspectiva de crescimento da demanda não anima o investidor a realizar novos projetos. O custo do financiamento é elevado e quase não existem linhas de longo prazo. O 'custo/brasil' continua desestimulando a produção e o investimento.
O governo confiou que a sinalização para um ajuste fiscal despertaria o resgate da confiança, algo que obviamente não ocorreu. Faltam políticas de estimulo à produção e investimentos, a política industrial saiu da pauta.
As medidas pontuais de estimulo ao consumo como liberação do FGTS têm efeito limitado. Enquanto não se implementar uma política de desenvolvimento, ficaremos reféns do curto prazo, do baixo crescimento e elevado desemprego.
João Ricardo Costa Filho - Professor de Macroeconomia do Ibmec/SP
A economia brasileira perdeu a capacidade de crescer e a baixa produtividade do trabalho é o principal fator por trás disso. Mas, o que explica a baixa produtividade? Primeiro, as políticas para o que os economistas chamam de capital humano (saúde e educação) têm sido extremamente insuficientes durante toda a nossa história, para dizer o mínimo. Como podemos produzir produtos de maior valor agregado se os nossos trabalhadores não estão saudáveis e não dispõem de conhecimento para executar as tarefas?
Além de destinarmos uma parcela cada vez menor à pesquisa, prejudicando o nosso crescimento econômico, as políticas desenhadas para proteger empresas ineficientes e favorecer grupos específicos tornam-se um fardo que dificulta com que "saiamos do lugar". Nesses quesitos, ainda não conseguimos deixar a era Vargas. Quando o Brasil vai entrar no século XXI?
É importante considerar também o papel da baixa taxa de poupança. A escassez de capital faz com que a "disputa" pelo mesmo resulte em juros altos, inviabilizando investimentos, o que reduz o potencial de crescimento. Adicione uma carga tributária complexa, regressiva e alta e temos a receita perfeita para travar o crescimento de uma economia que luta para escapar da chamada "armadilha da renda média".
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