Olá
alunos,
A postagem
de hoje traz uma breve entrevista com Marcio Pochmann, professor do Instituto de Economia da
Unicamp e presidente da Fundação Perseu Abramo, segundo o qual, cortar gastos
públicos e recorrer às privatizações não vai tirar o Brasil da crise.
Esperamos que gostem e participem.
Palloma
Borges, monitora da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade
Federal Fluminense.
O desemprego subiu em todas as grandes regiões do País,
fechando o segundo trimestre do ano em 11,3%. Divulgados pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira 17, os dados
indicam que as taxas são as mais altas já registradas para cada uma das regiões
do País desde 2012.
Na avaliação do economista Marcio Pochmann, a crise do emprego está
relacionada a dois fatores: o ajuste fiscal amparado no modelo neoliberal
durante o mandato Dilma Rousseff e aposta nas elevadas taxas de juros e na
valorização do real pelo governo interino de Michel Temer.
Professor do Instituto de Economia da Unicamp e
presidente da Fundação Perseu Abramo, Pochmann alerta que cortar gastos
públicos e recorrer às privatizações não vai tirar o Brasil da crise. Confira a
entrevista concedida a CartaCapital.
CartaCapital: Por que a taxa de
desocupação está em alta?
Mario Pochmann: O mercado de trabalho reflete o que ocorre na economia. O movimento recessivo foi mais perceptível em 2015, mas o desemprego demorou um pouco para aparecer de forma robusta. Estamos vivendo uma consequência da situação recessiva do país.
Mario Pochmann: O mercado de trabalho reflete o que ocorre na economia. O movimento recessivo foi mais perceptível em 2015, mas o desemprego demorou um pouco para aparecer de forma robusta. Estamos vivendo uma consequência da situação recessiva do país.
E o desemprego é um sofrimento humano, e também
um desperdício de capacidade de produção. Estamos falando de uma pessoa
desempregada a cada dez, e se olhar pela divisão etária, têm três jovens
desempregados a cada dez. A situação é dramática.
A queda de perspectiva da juventude é
extremamente frustrante, porque houve um esforço enorme para que a população
jovem voltasse a estudar e ampliasse o nível de escolaridade. Todo esse esforço
vai terminar em desperdício de conhecimento, porque o país não gera emprego.
Pior: quanto mais chefes de família perderem seus empregos, sejam homens ou
mulheres, mais jovens vão abandonar os estudos e procurar um trabalho, porque
há solidariedade dentro da família.
Esse cenário também traz uma piora nas condições
de procura por emprego, porque a tendência é ter uma queda na renda quanto mais
pessoas procuram o mesmo trabalho.
CC: O ajuste fiscal e a
contenção de gastos públicos aprofundam o desemprego?
MP: Certamente. A recessão não surgiu espontaneamente, é resultado da opção política de aplicar o receituário neoliberal de ajuste fiscal. A economia estava em processo de desaceleração desde 2010, praticamente em recessão, até que o desempenho da economia chegou próximo de zero em 2014.
MP: Certamente. A recessão não surgiu espontaneamente, é resultado da opção política de aplicar o receituário neoliberal de ajuste fiscal. A economia estava em processo de desaceleração desde 2010, praticamente em recessão, até que o desempenho da economia chegou próximo de zero em 2014.
No ano seguinte, tomou-se a decisão de um ajuste
fiscal com economia estagnada. O corte de gastos e elevação de juros empurraram a economia para
baixo, enquanto a alta taxa de juros imposta por Temer faz a recuperação
demorar ainda mais.
Com a
remuneração no mercado financeiro elevada, torna difícil encontrar atividades
produtivas com estabilidade equivalente. Portanto, é fato que a opção dos
empresários seja mais a de fechar no mercado financeiro do que buscar ocupar a
capacidade ociosa ou um investimento. Até mesmo as concessões, que foram
apresentadas como um tronco do governo Temer para a saída da recessão, já
demonstraram falha em primeira experiência, porque não houve nenhum comprador.
Não é cortando gastos públicos e oferecendo alternativas
de compra do setor público pelo setor privado que a crise vai acabar. Se não
houver horizonte de crescimento da produção, o setor privado não se
sente motivado a apostar na recuperação da economia.
CC: Quais são as perspectivas para a economia no médio
prazo?
MP: Entramos numa discussão se há espaço para uma recuperação. Tivemos recessões no Brasil dos anos 1980 para cá, e elas não vieram acompanhadas da recuperação sustentável. O País saiu das últimas crises, mas não voltou a crescer de forma sustentada, tendo um desempenho muito baixo do ponto de vista econômico.
MP: Entramos numa discussão se há espaço para uma recuperação. Tivemos recessões no Brasil dos anos 1980 para cá, e elas não vieram acompanhadas da recuperação sustentável. O País saiu das últimas crises, mas não voltou a crescer de forma sustentada, tendo um desempenho muito baixo do ponto de vista econômico.
Então a recuperação só se dá em dois níveis: a
economia deixa de cair e até volta a crescer, mas com desempenho relativamente
baixo porque somente ocupa a capacidade ociosa da economia. Ou a economia
cresce ocupando a capacidade ociosa já existente ao mesmo tempo em que se
ampara em investimentos que ampliam a capacidade produtiva. É isso que vai
fazer o crescimento se sustentar ao longo do tempo.
A dúvida, agora, é se a economia terá condições de
se recuperar ocupando a capacidade ociosa. Mas dificilmente isso vai acontecer
com essa alta taxa de juros e a valorização do real, um segundo equívoco do
governo Temer. Isso obviamente vai colocar um freio ao setor exportador, que
vinha se apresentando como um possível elemento de recuperação da economia
brasileira.
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