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domingo, 11 de setembro de 2016

Pochmann: Desemprego é fruto de ajuste fiscal com economia estagnada





Olá alunos, 

A postagem de hoje traz uma breve entrevista com  Marcio Pochmann, professor do Instituto de Economia da Unicamp e presidente da Fundação Perseu Abramo, segundo o qual, cortar gastos públicos e recorrer às privatizações não vai tirar o Brasil da crise.

Esperamos que gostem e participem.
Palloma Borges, monitora da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense. 

O desemprego subiu em todas as grandes regiões do País, fechando o segundo trimestre do ano em 11,3%. Divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira 17, os dados indicam que as taxas são as mais altas já registradas para cada uma das regiões do País desde 2012.
Na avaliação do economista Marcio Pochmann, a crise do emprego está relacionada a dois fatores: o ajuste fiscal amparado no modelo neoliberal durante o mandato Dilma Rousseff e aposta nas elevadas taxas de juros e na valorização do real pelo governo interino de Michel Temer.
Professor do Instituto de Economia da Unicamp e presidente da Fundação Perseu Abramo, Pochmann alerta que cortar gastos públicos e recorrer às privatizações não vai tirar o Brasil da crise. Confira a entrevista concedida a CartaCapital.

CartaCapital: Por que a taxa de desocupação está em alta?
Mario Pochmann: O mercado de trabalho reflete o que ocorre na economia. O movimento recessivo foi mais perceptível em 2015, mas o desemprego demorou um pouco para aparecer de forma robusta. Estamos vivendo uma consequência da situação recessiva do país.
E o desemprego é um sofrimento humano, e também um desperdício de capacidade de produção. Estamos falando de uma pessoa desempregada a cada dez, e se olhar pela divisão etária, têm três jovens desempregados a cada dez. A situação é dramática.
A queda de perspectiva da juventude é extremamente frustrante, porque houve um esforço enorme para que a população jovem voltasse a estudar e ampliasse o nível de escolaridade. Todo esse esforço vai terminar em desperdício de conhecimento, porque o país não gera emprego. Pior: quanto mais chefes de família perderem seus empregos, sejam homens ou mulheres, mais jovens vão abandonar os estudos e procurar um trabalho, porque há solidariedade dentro da família.
Esse cenário também traz uma piora nas condições de procura por emprego, porque a tendência é ter uma queda na renda quanto mais pessoas procuram o mesmo trabalho.

CC: O ajuste fiscal e a contenção de gastos públicos aprofundam o desemprego?
MP: Certamente. A recessão não surgiu espontaneamente, é resultado da opção política de aplicar o receituário neoliberal de ajuste fiscal. A economia estava em processo de desaceleração desde 2010, praticamente em recessão, até que o desempenho da economia chegou próximo de zero em 2014.
No ano seguinte, tomou-se a decisão de um ajuste fiscal com economia estagnada. O corte de gastos e elevação de juros empurraram a economia para baixo, enquanto a alta taxa de juros imposta por Temer faz a recuperação demorar ainda mais.
Com a remuneração no mercado financeiro elevada, torna difícil encontrar atividades produtivas com estabilidade equivalente. Portanto, é fato que a opção dos empresários seja mais a de fechar no mercado financeiro do que buscar ocupar a capacidade ociosa ou um investimento. Até mesmo as concessões, que foram apresentadas como um tronco do governo Temer para a saída da recessão, já demonstraram falha em primeira experiência, porque não houve nenhum comprador.
Não é cortando gastos públicos e oferecendo alternativas de compra do setor público pelo setor privado que a crise vai acabar. Se não houver horizonte de crescimento da produção, o setor privado não se sente motivado a apostar na recuperação da economia.

CC: Quais são as perspectivas para a economia no médio prazo?
MP: Entramos numa discussão se há espaço para uma recuperação. Tivemos recessões no Brasil dos anos 1980 para cá, e elas não vieram acompanhadas da recuperação sustentável. O País saiu das últimas crises, mas não voltou a crescer de forma sustentada, tendo um desempenho muito baixo do ponto de vista econômico.
Então a recuperação só se dá em dois níveis: a economia deixa de cair e até volta a crescer, mas com desempenho relativamente baixo porque somente ocupa a capacidade ociosa da economia. Ou a economia cresce ocupando a capacidade ociosa já existente ao mesmo tempo em que se ampara em investimentos que ampliam a capacidade produtiva. É isso que vai fazer o crescimento se sustentar ao longo do tempo.
A dúvida, agora, é se a economia terá condições de se recuperar ocupando a capacidade ociosa. Mas dificilmente isso vai acontecer com essa alta taxa de juros e a valorização do real, um segundo equívoco do governo Temer. Isso obviamente vai colocar um freio ao setor exportador, que vinha se apresentando como um possível elemento de recuperação da economia brasileira. 

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