Olá alunos,
A notícia de hoje discute algumas questões
acerca dos tributos em nosso país, tais como: Quais impostos elevar, quando
aumentá-los e por quanto tempo? O economista José Alexandre Scheinkman pondera
que devemos primeiro “fazer os impostos muito mais horizontais, mais gerais”,
para só depois pensarmos se precisamos realmente aumentar impostos.
Esperamos que gostem e participem.
Palloma Borges, monitora da disciplina “Economia
Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.
Há
mais questões sobre tributos no Brasil do que apenas "subir ou não
subir", dizem economistas especialistas em contas
públicas.
Quais
impostos elevar, quando aumentá-los, por quanto tempo e por que recorrer a esse
expediente são alguns dos pontos levantados por eles nesta página.
As
preocupações vão além: se for inevitável aumentar a carga de tributos sobre os
brasileiros, o que mais será feito depois disso para que as contas públicas se
equilibrem de forma sustentável?
Para o
economista José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade Columbia e
professor emérito da Universidade Princeton (EUA), há passos que deveriam ser
tomados antes de pensar em subir impostos.
"Vamos
primeiro fazer os impostos muito mais horizontais, mais gerais, e depois pensar
se precisamos realmente aumentar impostos. Não adianta ficar construindo numa
estrutura que está cheia de problemas", afirma.
Ele critica,
por exemplo, o Simples (regime tributário que beneficia pequenas empresas), que
permite que algumas categorias profissionais paguem menos impostos que outras.
Para
Scheinkman, se, depois de corrigidas essas distorções, ficar claro que um
aumento é inevitável, o melhor caminho são tributos "de melhor
qualidade", como a Cide (cobrada sobre combustíveis), que "diminuiria
o uso de automóveis e a poluição".
Mansueto
Almeida, especialista em contas públicas e consultor
No curto prazo
é difícil não ter aumento de impostos. O governo terá neste ano um deficit de
cerca de 1,8% do PIB [Produto Interno Bruto], e novas concessões, se
destravadas, não deverão gerar receita superior a um ponto percentual neste
ano.
É preciso um
aumento permanente de receita que faça frente a um aumento permanente de
despesas, que só neste ano terá elevação de R$ 96 bilhões.
Para voltarmos
a ter superavit primário em 2018, será necessário recriar uma CPMF de 0,38%,
nos moldes da adotada em 2007, o que gerava 1,4% do PIB de arrecadação.
Para
viabilizar a aprovação, o governo poderia aprovar a contribuição com alíquotas
decrescentes, que seriam reduzidas todos os anos, e zeradas em cinco anos.
Assim, o
governo teria cinco anos para buscar um corte de despesas entre 2% e 3% do PIB
à medida que a perda de arrecadação seja compensada pelo crescimento da
economia.
Não será
fácil. Desde 1990, nunca se cortou despesa pública em pontos do PIB em qualquer
mandato presidencial.
Bernard
Appy, ex-secretário-executivo da Fazenda
O desenho
ideal de um ajuste fiscal em meio a uma recessão é colocar o máximo de esforço
no longo prazo e o mínimo no curto prazo. Porém, se não sinalizar que a dívida
é sustentável no longo prazo, a expectativa não melhora e dessa maneira não é
possível reduzir a taxa de juros, o que é fundamental para recuperar a
atividade econômica.
Dado o elevado
grau de desajuste, será necessário mostrar resultado no curto prazo. E, como as
despesas são rígidas, sem aumento da arrecadação não é possível.
Se fizer bem
feito, poderia ser um aumento temporário de carga, em que já se sinaliza que
vai haver uma redução até desaparecer.
O custo
político é inevitável, seja por meio do corte de despesa, seja por meio do
aumento de imposto. Se o aumento de carga tributária contrai a atividade, o
corte de gastos públicos também contrai. Manter as expectativas ruins também
tem efeito ruim na atividade, porque os juros são mais altos. A CPMF é um tributo
ruim no longo prazo, mas é o mais fácil de ser aprovado.
José
Roberto Afonso, especialista em contas públicas do Ibre/FGV
Incontornável
é rever a despesa e sua trajetória, para que no mínimo pare de crescer, e sua
estrutura, para recuperar os investimentos que induzem o crescimento econômico.
É missão
impossível no meio de uma depressão aumentar a carga tributária, que já é alta
e de péssima qualidade.
Aumentar
alíquota sobre uma base de cálculo em deterioração ou até que desapareceu (como
no caso dos lucro), pouco rende.
Se for para
criar novo um imposto ruim e na contramão do mundo, como a CPMF, o melhor é não
fazer nada.
A ideia é
priorizar a revisão do gasto público e adotar uma agenda de reformas, inclusive
a criação de um novo sistema tributário, que seja gradual, mas coerente.
Criar um IVA
[imposto sobre valor agregado] verdadeiro, reformando primeiro o PIS, depois a
Cofins e depois o ICMS. O Ministério da Fazenda sob Joaquim Levy [2015] propôs,
mas o Palácio do Planalto nunca enviou ao Congresso Nacional.
Everardo
Maciel, ex-secretário da Receita Federal e consultor
Acho essa
questão da criação de impostos mal formulada, porque parte do pressuposto de
que a despesa é inflexível, o que não é necessariamente verdadeiro.
Diz-se quase
como um mantra: 90% são despesas obrigatórias e portanto a margem de manobra é
pequena. Mas a questão é a seguinte: que tal discutir a obrigatoriedade?
A obrigação
não decorre de um ato divino nem de cláusula pétrea constitucional. Ela decorre
de normas constitucionais e de normas infraconstitucionais. Que tal discutir
essas questões?
Em lugar de
aumentar o nível de extração da sociedade, você discute como lidar com esse
assunto resolvendo questões do lado da despesa.
Além disso, é
possível aumentar a arrecadação sem aumentar a carga tributária, recorrendo a
impostos do passado. A dívida ativa é de R$ 1,4 trilhão e há outros R$ 600
bilhões em discussão no âmbito administrativo. Não seria possível recuperar
alguma coisa?
É possível
tentar outros caminhos antes de se decidir por um aumento de imposto.
Amir
Khair, mestre em finanças públicas pela EAESP/FGV
Todas as
discussões sobre o tema se baseiam em uma questão falsa do "cobertor
curto", que se resume em ou aumentar impostos ou cortar despesas. Ninguém
coloca no debate que gastamos, só no ano passado, quase R$ 600 bilhões no
pagamento de juros. Essa é uma despesa corrente, tal qual as despesas em folha
de pagamentos.
A dívida do
Brasil, de cerca de 70% do PIB, não é grave, é um patamar inferior ao de muitos
países desenvolvidos. O que foge ao padrão internacional é a taxa de juros que
pagamos sobre essa dívida. Uma das formas de reduzi-la é diminuir as reservas
internacionais, que têm um elevado custo de manutenção.
Há estudos que
indicam que poderíamos ter reservas de US$ 170 bilhões, e não os US$ 375
bilhões atuais. Isso poderia gerar uma economia de R$ 110 bilhões por ano.
Outra forma de
se conseguir receita é por meio da gestão. A inadimplência na Previdência, por
exemplo, gira em torno de 30%. Há pensões que não deveriam ser pagas e é
possível rever contratos com fornecedores. Também é possível reduzir gastos com
folha de pagamentos sem mandar ninguém embora, apenas reduzindo despesas com
bonificação de chefia.
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