Olá alunos,
A postagem de hoje revela que, o atual cenário econômico internacional aponta para uma crise semelhante
a que ocorreu em 2008. Para o professor de economia da PUC, Antônio Carlos Alves dos Santos, o Brasil encontra como principal adversário
o fato de o governo e a oposição estarem demonstrando ter uma imensa dificuldade
de chegar a consensos e construir uma pauta mínima em nome de um bem comum. Nesse contexto, um acordo entre ambos seria
primordial para afastarmos as ondas de pessimismo que têm alcançado o nosso
país.
Esperamos que gostem e participem.
Palloma Borges, monitora da disciplina “Economia Política e Direito” da
Universidade Federal Fluminense.
Não faz nem uma década que as bolsas em todo o
mundo desabaram com o anúncio da quebra do banco Lehman Brothers, nos Estados
Unidos, e já há quem sinta as vibrações de um novo terremoto financeiro de
proporções globais.
Diante da freada da economia chinesa,
da brusca queda do preço do petróleo e da expansão do fenômeno dos juros
negativos em países ricos, alguns economistas têm defendido que uma nova crise
como a de 2008 estaria se avizinhando.
O megainvestidor
George Soros, por exemplo, levantou essa possibilidade durante um evento no Sri
Lanka, no mês passado. "Quando olho para os mercados financeiros há um
sério desafio que me faz lembrar da crise de 2008", disse.
Há, certamente, quem considere as
comparações exageradas – ou mesmo perigosas, como afirmou o Secretário do
Tesouro americano, Jacob Lew.
"Adoto um otimismo cauteloso ao
olhar essas muitas áreas (da economia global) em que há riscos", disse Lew
em entrevista à BBC News. "Acho importante não permitir que esses riscos
se tornem profecias autoanunciadas."
No entanto, mesmo autoridades e
economistas mais céticos sobre um novo crash global admitem que 2016 começou
com um perigoso "coquetel" de ameaças econômicas – como definiu
recentemente o ministro das Finanças britânico, George Osborne.
Mas, afinal, quais são os sinais que
estão gerando tanta incerteza no que diz respeito à economia internacional? E
como essas turbulências poderiam afetar o Brasil em um momento em que o país
tenta superar dificuldades internas?
Para o professor de economia da PUC
Antônio Carlos Alves dos Santos, a economia internacional enfrenta uma espécie
de "tempestade perfeita".
As dificuldades começaram com o
desaquecimento da China e seu impacto sobre os preços das commodities.
No início do ano, uma grande
instabilidade da bolsa de Xangai reforçou as suspeitas de que a economia
chinesa poderia ter uma desaceleração drástica – o que no jargão econômico é
conhecido como "hard landing".
Soros, ao fazer o paralelo com 2008,
mencionou justamente as incertezas sobre o gigante asiático.
"A China tem um grande problema
de adaptação", disse, explicando que o país está com dificuldades para
encontrar um novo modelo de crescimento.
Petróleo e juros
A queda do preço do barril de
petróleo para abaixo dos US$ 30 também foi um fator que ampliou o clima de
incertezas em 2016.
O produto já acumula uma
desvalorização de 70% desde 2014. Primeiro, em função de uma demanda fraca –
para a qual também contribuiu o desaquecimento chinês. Segundo, porque o
período de bonança do setor impulsionou uma série de investimentos em novas
áreas de exploração e fontes alternativas de combustível fóssil - o que acabou
levando a uma superprodução.
"Agora, a incógnita é como as
empresas do setor e seus credores serão afetados por esse novo patamar de
preços", diz Santos.
"Temos rumores, por exemplo, de
que produtoras de gás de xisto nos EUA estão passando por sérias dificuldades
financeiras", completa Wilber Colmerauer, diretor do Emerging Markets
Funding, em Londres.
"E também há dúvidas sobre o
impacto desse novo cenário nos bancos que emprestam para empresas e países
produtores."
A terceira fonte de incertezas no
cenário global são as taxas de juros negativas adotadas por alguns países para
seus títulos e depósitos das instituições financeiras nos Bancos Centrais.
Colmerauer explica que essas taxas
negativas comprimem as margens de lucro dos bancos - então há quem acredite que
alguns deles podem ter problemas.
"A verdade é que nunca vimos
tantos países adotarem essa política de juros negativos, trata-se de um
fenômeno novo. Então há muita incerteza sobre quais podem ser suas
consequências", diz.
Segundo o banco J.P. Morgan, há hoje
cerca de US$ 6 trilhões em títulos públicos com juros negativos, o dobro do que
há dois meses.
Na semana passada, até o FED, o Banco
Central americano, anunciou que deixaria em aberto a possibilidade de adotar os
juros negativos em função das adversidades da economia global, gerando grande
alvoroço nos mercados que esperam um aumento da taxa este ano.
Já praticam juros negativos em seus
títulos ou como taxa de referência o Banco Central Europeu, a Suécia, a
Dinamarca e a Suíça, além do Japão, que recentemente emitiu pela primeira vez
um título de longo prazo com rentabilidade negativa.
Se um país adota os juros negativos,
na prática os investidores têm de pagar para emprestar seu dinheiro – em vez de
receber uma remuneração. Os bônus de dez anos do governo do Japão, por exemplo,
foram negociados por -0,035%, o que significa que quem emprestar para o país
hoje, daqui a uma década poderá reaver um pouco menos do valor investido.
O fenômeno é impulsionado por uma
corrida por economias de baixo risco. A lógica é que há tanta instabilidade no
mercado que os investidores não se importam em perder um pouco de dinheiro pela
certeza de que seus ativos estarão seguros.
Do lado das autoridades financeiras,
o objetivo é estimular investimentos na economia real e, em alguns casos,
combater a deflação – ou seja, a queda sistemática dos preços.
O problema é que muitos interpretam
essa política como um sinal de que as autoridades financeiras do país em
questão não acreditam que sua economia vá melhorar tão cedo – e continuam
preferindo perder pouco sem risco a arriscar perder muito investindo em uma
economia pouco dinâmica.
O fato do FED ter mencionado a taxa
de juros negativa como uma opção, por exemplo, acabou sendo interpretado pelos
mercados como um sinal de que o banco ainda não considera que a retomada da
economia americana é segura.
Queda no crescimento
Recentemente, o Banco Mundial
contribuiu para essas visões mais pessimistas ao revisar sua previsão de
crescimento para a economia global este ano de 3,2% para 2,9%.
Para Santos, porém, o cenário
complicado não quer dizer que haverá um crash. "Há uma compreensão dos
líderes globais de que isso deve ser evitado e várias medidas podem ser tomadas
nessa direção", diz ele.
"Só para mencionar um exemplo: a
Arábia Saudita pode ser convencida a cortar sua produção de petróleo e voltar a
atuar com uma estabilizadora desse mercado."
No que diz respeito ao impacto de um eventual
aumento das turbulências externas no Brasil, parece haver certo consenso de que
se já não estava fácil para o país voltar a crescer em função de fatores
internos - como a crise política -, a tarefa ficaria ainda mais difícil com um
vendaval lá fora.
O atual cenário, de desaceleração das
economias do sul do globo, é bem diferente do da crise de 2008, quando países
emergentes atraíram a atenção de investidores que não conseguiam mais ganhar
dinheiro em países desenvolvidos.
Segundo Colmerauer, hoje uma nova
crise global poderia gerar uma fuga de capitais do Brasil (embora, para ele,
também não haja sinais claros de que caminhamos para um colapso).
O resultado seria uma desvalorização
ainda maior do real que, ao afetar o preço de produtos importados ou
exportáveis (que no geral seguem os preços do mercado externo), pressionariam a
inflação.
As exportações poderiam ganhar
competitividade com um real mais fraco. Por outro lado, com uma economia global
menos aquecida, a demanda por produtos exportados também seria menor.
"Com essa onda de juros
negativos, podemos dizer hoje que o crédito está barato para quem tem um bom
nome na praça", diz Colmerauer. "Fossem outros tempos o Brasil
poderia se aproveitar disso e tomar recursos emprestados para investir em infraestrutura,
por exemplo. Mas com as nossas dificuldades internas, problemas econômicos e a
perda de grau de investimento estamos em um outro grupo de países: o dos que
tem cada vez mais dificuldade para atrair recursos mesmo aumentando muito suas
taxas de juros."
Para Santos, um dos grandes problemas
para o Brasil é que a falta de acordo entre os grupos políticos pode dificultar
uma reação a qualquer situação mais complicada que possa surgir no cenário
internacional.
"Em situações de crise global,
muitas vezes é preciso dar respostas rápidas", diz ele. "Mas o
governo e a oposição estão demonstrando ter uma imensa dificuldade de chegar a
consensos, em construir uma pauta mínima em nome de um bem comum", opina.
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