Olá alunos,
Em momentos de crise alternativas são apontadas para sairmos de tal
situação. O enfoque principal é sempre o Estado porém, hoje, um grupo de
empresários apresentam um meio de investimento distinto, com um capitalismo consciente,
buscando fazer diferença. A postagem de hoje pretende nos apresentar tal
proposta.
Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges
Monitoras da Disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade
Federal Fluminense.
Em momentos de crise,
a tese de que o Estado deve se envolver mais na economia para minimizar
distorções promovidas pelo mercado ganha força e novos adeptos. Entretanto, um
grupo de empreendedores quer provar que forças de mercado, desde que bem
orientadas, podem contribuir para resolver problemas como a desigualdade social. Este é
o conceito do “capitalismo consciente”, movimento idealizado por executivos de
peso nos Estados Unidos, como o fundador da Whole Foods, John Mackey, e que tem
se alastrado pelo mundo na última década.
Fazem parte do movimento empresas que nasceram para resolver um problema social, mas que
não abrem mão da remuneração do capital, principalmente porque é o lucro que
garante a continuidade das operações. No Brasil, elas representam um segmento
ainda tímido, mas com grande potencial de crescimento, o chamado setor 2,5.
"São empresas que atuam entre o segundo e o terceiro setor. Ao
mesmo tempo que surgiram com o propósito de resolver algum problema social ou ambiental, buscam obter
lucro para serem sustentáveis no longo prazo, sem depender de doações de
terceiros", afirma Bernardo Bonjean, presidente e sócio-fundador da
Avante, empresa que oferece microcrédito para empreendedores de comunidades
carentes, em parceria com instituições financeiras.
O executivo, que acumula quinze anos de atuação no mercado financeiro,
fundou a Avante há três anos, movido por um desejo de “fazer a diferença”. Em
2012 pediu demissão e começou a estruturar seu empreendimento. "O mercado
financeiro tende a
gerar mais valor para os acionistas do que para a sociedade. Sentia a
necessidade de realizar um trabalho do qual eu me orgulhasse, que pudesse
humanizar o atendimento a um cliente que mais precisa de crédito, mas que ao mesmo tempo recebe
pouca atenção das financeiras", explica. Bonjean resolveu focar o seu
negócio no empreendedor de favelas. Segundo
estimativas do Instituto Data Favela, moram nessas comunidades 12 milhões de
pessoas, que movimentam uma renda anual de 63,2 bilhões de reais.
"O maior sonho da classe G (gente)", ironiza Bonjean, "é
abrir um negócio próprio. Entretanto, além do capital, os empreendedores de
comunidades mais carentes demandam também informação sobre como fazer a gestão
desse recurso. Não podemos esquecer que a maior parte das novas empresas no
Brasil não sobrevivem mais de quatro anos", destaca.
A Avante, que possui uma agência de atendimento em Paraisópolis,
em São Paulo, começou a apostar este ano na formação de agentes de crédito, que
deverão captar clientes em diferentes comunidades, batendo de porta em porta.
Atualmente, a empresa conta com 50 agentes no mercado, atuantes em São Paulo e em Pernambuco, número de
profissionais que deve subir para 500 até 2018. As regiões atendidas também
deverão ser ampliadas. A empresa pretende começar a operar no Ceará, Maranhão e Piauí.
O valor médio do financiamento concedido pela Avante é de 3,5 mil. Ao
todo, 52% das propostas recebidas são aprovadas. "Fazemos uma avaliação da
capacidade de pagamento dos clientes, levando em consideração também as
impressões dos agentes. O fato de irmos até o cliente, que geralmente recebeu
não de diversas empresas que ele procurou, resulta numa relação mais próxima e
recíproca de confiança, uma fidelização que é muito importante para o
negócio", afirma Bonjean. O microcrédito,
conforme explica o executivo, é o primeiro contato do cliente com a empresa.
Mas a Avante também oferece crédito para que o cliente realize algum sonho de
consumo, como imóvel, veículo próprio e até reforma.
"Oferecemos soluções para o empreendimento e para a família. o primeiro
passo, porém, e garantir uma fonte de renda, viabilizando a microempresa do cliente", diz.
Assim como qualquer produto tradicional de financiamento, há cobrança de
juros. "Precisamos ter lucro para continuar emprestando para os clientes e
também fazemos a distribuição de parte desse lucro para os acionistas. Todo mundo
precisa viver, realizar sonhos. Uma empresa social não deve abdicar de atender
todos os seus stakeholders.
O cliente é o principal deles, mas os acionistas também estão na conta",
afirma. Na Avante, contudo, o maior salário não ultrapassa nove vezes o menor
salário. "No mercado, é comum que essa diferença supere cem vezes".
"O que os bancos fazem apenas com os seus maiores clientes, como as
grandes empresas, fazemos com o microempreendedor.
Somos também a única financeira que oferece crédito para empreendedores
negativados", conta. "Acreditamos que, sem uma segunda chance,
dificilmente as pessoas conseguirão se reerguer e serem bem sucedidas. Muitas
vezes elas ficam negativadas por problemas como desemprego, doença ou invalidez
na família", complementa. Mesmo assim, a taxa de inadimplência é bem
inferior à média do mercado, atingindo 0,9% de uma carteira de R$ 2,5 milhões.
Segundo dados de agosto do Banco Central, a taxa de inadimplência das operações de crédito do sistema
financeiro, referente a atrasos superiores a noventa dias, é de 3% da carteira
dos bancos.
O critério da segunda chance também é válido para a seleção dos agentes.
Bonjean destaca que recentemente contratou um profissional com "passagem
criminal". "Por ser uma experiência que tem dado certo, pretendo
expandir. Se a pessoa tem interesse e força de vontade para mudar, ela deve ser
contratada. É uma forma também de evitar que ela volte para a
criminalidade", diz. Geralmente, a Avante contrata profissionais das
próprias comunidades onde atua. “Temos recebido muitos currículos de jovens do país todo, interessados em
trabalhar com a gente. Percebemos que cada vez mais as pessoas buscam um
trabalho com propósito, em que possam contribuir para a sociedade e também
ganhar dinheiro suficiente para viver”, complementa.
Vox Capital
Para continuar seu projeto de expansão, a Avante deverá receber uma nova
rodada de investimentos este ano. Com isso, passará a ter um valor de mercado
estimado em 42 milhões de reais, informa. Bonjean, sem revelar quem são os
investidores e o valor a receber. A primeira rodada contou com “investimento
anjo” e, a segunda, com um aporte de 4 milhões da Vox Capital, empresa que, por
meio de um fundo de
investimentos em
participações (FIP), injeta capital em empreendimentos de impacto social.
A expectativa de Bonjean é que a carteira de crédito da companhia salte
dos atuais 2,5 milhões de reais para 1 bilhão de reais até 2018, quando 500
agentes financeiros estiverem captando clientes em mais regiões do país.
"O capitalismo não precisa ser predatório. O mercado
também deve ter um papel importante na promoção do desenvolvimento econômico e
social e, consequentemente, na redução das desigualdades", defende Antônio
Ermírio Neto, sócio-fundador da Vox Capital, empresa que, por meio de um fundo
de investimento em participações (FIP), injeta capital em negócios de impacto
social, como a Avante.
Como o seu nome sugere, o executivo é de fato neto de Antonio Ermírio de
Moraes, que foi presidente e membro do conselho de administração do Grupo
Votorantim, gigante que seu pai (e bisavô do fundador da Vox), José Ermírio de
Moraes, ergueu do zero. Membro da quarta geração de empreendedores da família,
Neto começou a demonstrar talento para empreendimentos sociais na gestão do
Geração de Impacto, fundo familiar do Votorantim. Formado em administração
pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), também trabalhou na Endeavor,
organização de apoio a empreendedores.
“Precisamos quebrar o paradigma de que para se obter lucro devemos
abdicar de projetos sociais”, destaca Neto. Com essa premissa, Neto, e dois
sócios, fundaram a Vox Capital. A empresa comprou participação de seis
empreendimentos de impacto, como forma de ajudá-los a se desenvolver. Em 2012,
foi lançado o FIP, que absorveu esses seis negócios e recebeu mais quatro,
totalizando dez empresas investidas. A seleção de todas essas empresas partiu
da análise minuciosa de mais de 1,5 mil negócios sociais. “Todas as outras 1490
companhias tinham potencial de crescimento, mas ainda não estavam prontas para
receber aporte”, explica.
O capitalismo não precisa ser predatório. O
mercado também deve ter um papel importante na promoção do desenvolvimento
econômico e social e, consequentemente, na redução das desigualdades.
Antônio
Ermírio Neto, sócio-fundador da Vox Capital
Visto a crescente demanda por capital de empreendedores sociais no país,
a Vox resolveu criar um programa de aceleração de startups
de impacto, o Vox Labs. Fizeram parte da primeira edição do projeto dez
empresas. “Em vez de participação acionária, entramos com uma dívida
conversível em ação. Depois de doze meses, decidimos fazer a conversão para uma
das empresas, que hoje faz parte do nosso FIP”. Três companhias ainda estão na
aceleradora, enquanto que cinco já quitaram suas dívidas com a Vox. “Somente
uma não conseguiu recuperar esse investimento inicial, prejuízo que absorvemos.
Faz parte do negócio, afinal”, complementa.
Na aceleradora, cada empresa recebe um crédito entre 50 mil e 300 mil
reais da Vox. Já a média de investimento por empresa no FIP é de 5 milhões de
reais. Para 2016, a Vox prepara o lançamento de mais um FIP de empreendedorismo social. A escolha dos projetos que
recebem recursos da Vox passa por critérios como potencial de impacto social,
qualidade do time empreendedor, proposta de valor e inovação do negócio.
Os investidores do FIP são predominantemente institucionais, com
destaque para o Fundo Multilateral de Investimentos, do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID),
um fundo do Banco de Investimentos da América Latina (CAF) e outro da
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Também investem no FIP pessoas
físicas de alto poder aquisitivo.
Embora o objetivo do FIP seja o de fomentar negócios de impacto social
no Brasil, o fundo tem dois parâmetros de rentabilidade (benchmarks) que devem ser
seguidos, um financeiro e um social. O financeiro é composto pelo Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acrescido de 6%. O outro é pautado por um
rating da GIIRS, órgão internacional que mede o grau de impacto social de um
negócio. “Todos os anos é feita a auditoria. A empresa recebe uma pontuação de
até cinco estrelas. O benchmark para as empresas do nosso fundo é três
estrelas”, explica. Caso a empresas investidas não atinjam o benchmark social,
a Vox abre mão de metade da taxa de performance do fundo, de 20%.
O prazo de maturação do fundo é de dez anos. Neto não revela como vem
sendo a performance do FIP até então, mas os números que apresenta são
animadores: ele garante que o crescimento médio no valor das empresas
investidas é de 28% ao ano.
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