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sábado, 28 de setembro de 2013

O jornalismo e a internet


Olá alunos,

Nesse artigo, o economista Paul Krugman reflete sobre como a internet impactou positivamente o discurso econômico, contribuindo tanto para melhorá-lo, quanto para difundi-lo. 
Esperamos que gostem e participem.

Juliana Padilha e Silvana Gomes
Monitoras da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense 

Um artigo online para a revista New York, o comentarista Jonathan Chait zombou de Robert Samuelson por sua recente coluna no Washington Post em que lamentou a ascensão da internet. Não quero reforçar isso, mas esta é uma ocasião para dizer algo sobre minhas próprias percepções de como a web mudou o jornalismo.
Hoje, obviamente, a internet causa grandes problemas comerciais para as organizações noticiosas. E esse é um problema real. Alguém tem de fazer as reportagens básicas, o que significa que alguém tem de pagar as contas. Mas esse terá de ser o tema de outra postagem um dia desses.
Quero falar sobre o efeito da internet na qualidade da reportagem, que, acredito, tem sido extremamente positivo.
Analistas como Samuelson parecem ter saudade de uma época em que homens sábios, empoleirados em suas plataformas nas grandes organizações noticiosas, separavam a verdade da mentira e produziam opiniões sólidas para as massas. O problema é que essa era nunca existiu. Eu li muita reportagem econômica na era pré-internet, e de modo geral era péssima. Em parte isso se explicava por que os repórteres e os analistas muitas vezes sabiam pouco sobre economia. Na verdade, havia uma espécie de preconceito contra empregar repórteres muito experientes, sob a alegação de que não seriam capazes de se comunicar com o leitorado. Em parte era porque não havia um mecanismo eficaz para verificar fatos e interpretações: um repórter ou analista podia dizer algo que todo mundo que conhecia o assunto percebia que estava errado, mas não tinha meios de expressar seus argumentos em tempo real.
Deixe-me dar um exemplo. Alguns anos atrás, Samuelson refutou a importância de John Maynard Keynes em uma coluna, pois as condições haviam mudado. Hoje em dia temos muita dívida, enquanto, segundo Samuelson, “quando Keynes escreveu a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, em meados dos anos 1930, os governos dos países mais ricos eram relativamente pequenos e suas dívidas, modestas”.
Meu palpite é que ,na era pré-internet, uma afirmação como essa simplesmente teria ficado ali. Os economistas se queixariam dela na sala do café, mas ficaria nisso. Neste caso, porém, toda a econoblogosfera imediatamente atacou, apontando que a proporção entre dívida e PIB na Grã-Bretanha nos anos 1930 era na verdade muito maior que hoje. (A política do New York Times, aliás, teria exigido uma correção formal. Ora, bem.)
A questão é que, em oposição à imagem idealizada da maneira como as coisas eram, na verdade os jornalistas reais se beneficiam da capacidade de os jornalistas tarimbados divulgarem seu conhecimento rapidamente.
Há muita desinformação na web, é verdade, mas é pior que a desinformação que os indivíduos costumavam obter de outras fontes? Não acho.
A internet também teve outro efeito positivo mais sutil: os jornais hoje têm uma ideia muito melhor do que realmente interessa a seus leitores. Naqueles não tão bons velhos tempos, minha sensação é de que a diretoria acreditava que as coisas de interesse de quem estava dentro do círculo também interessavam ao público mais amplo. Os repórteres e analistas que cultivavam contatos e relatavam sem respirar as últimas reviravoltas no escândalo do senador Bomfog eram considerados astros. Mas hoje temos verdadeira métrica. As listas de mais vistas e mais comentadas são altamente imperfeitas, e você certamente não gostaria que elas ditassem toda a direção do jornal. Senão, o NYT seria totalmente dedicado a artigos sobre comida e como aplicar técnicas de adestramento animal em seu marido. Mas a disponibilidade dessa métrica abalou a insularidade da indústria, e isso é totalmente bom.
Finalmente, deixe-me dizer apenas que, pondo de lado as organizações de notícias, a verdade é que vivemos em uma era de ouro do discurso econômico. Sim, há muita coisa ruim por aí, parte dela de indivíduos com grande reputação, mas a relação frouxa entre as reputações e a qualidade da análise é algo que ainda estamos aprendendo. E a quantidade de coisa boa, material entregue em tempo real, em blogs abertos a qualquer cidadão disposto a ler, e não nas páginas de jornais econômicos com alguns milhares de leitores no máximo, é surpreendente. Quando se trata de análise econômica útil, esses são os bons velhos tempos.

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