Olá alunos,
O texto de hoje, cuja autoria é de Luis Nassif, trata da taxa de câmbio e dos diversos desdobramentos que esta pode ocasionar para a economia como um todo. Assim, são abordadas questões que dizem respeito, por exemplo, ao delicado equilíbrio entre importações e exportações, e à verticalização da produção.
Esperamos que gostem e participem.
Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Quando se discute taxa de câmbio e manufaturas, surge sempre o
dilema clássico. Câmbio desvalorizado melhora os preços dos produtos internos
em comparação com os externos. Câmbio valorizado reduz o custo dos insumos e
equipamentos importados.
O dilema é esse: caso a importação resulte em custos menores de
produção, baratearia o produto final, tornando-o mais competitivo no mercado
externo. Perde-se competitividade no insumo mas ganha-se no produto final – que
movimenta a cadeia produtiva. Essa melhora no valor agregado do produto final
compensaria a perda com a substituição dos insumos internos por importados?
O trabalho Taxa de câmbio, comércio exterior e desindustrialização
precoce – o caso brasileiro, dos economistas Nelson Marconi e Marcos Rocha, da
Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, tenta responder a
essa questão.
“O processo de
desenvolvimento é fundamentalmente um processo de transformação estrutural, com
a realocação dos ativos produtivos da agricultura tradicional para a atividade
moderna, indústria e serviços”, explica o trabalho. A partir daí, tem-se a
diversificação da economia através da geração de novas atividades produtivas.
Nos estágios iniciais do desenvolvimento, há uma elevação da
participação relativa da indústria em relação à agricultura. Na etapa seguinte,
crescem os serviços. Há uma nova composição da oferta requerendo novos
investimentos que agregam tecnologia à economia. Com novas tecnologias, o setor
manufatureiro consegue rendimentos de escala crescente, estimulando a demanda e
incluindo mais investimento e diversificação da estrutura produtiva.
Além disso, as exportações de manufaturados têm efeito positivo
sobre toda a cadeia de fornecedores, para se adequar aos padrões
internacionais, refletindo-se em ganhos de produtividade dentro e fora da
indústria.
Aí entra-se em um tema contemporâneo que reedita o velho conceito
da divisão internacional do trabalho: a verticalização da produção, com
determinados países especializando-se em algumas etapas do processo produtivo,
mas o produto final sendo desenvolvido pelos países centrais.
Segundo alguns autores, seria uma troca virtuosa: os países ricos
produziriam bens mais intensivos em tecnologia; ao terceirizar parte da
produção para os emergentes, os ricos ganham em competitividade e os emergentes
em transferência de conhecimento e tecnologia.
Embora não se deva ignorar as possibilidades trazidas pela
verticalização, ou alguns ganhos decorrentes da importação de insumos para
aumento de competitividade do produto final, há que se ter cuidado.
O trabalho demonstra que um dos grandes diferenciais da produção
de manufaturas é a produção de bens intermediários na cadeia produtiva. “Ao
substituir a oferta nacional pela estrangeira no suprimento de insumos,
rompem-se alguns elos na estrutura produtiva”.
Estudos econômicos são importantes como bússolas. Mas políticas
econômicas são construídas em cima da observação permanente da realidade, do
bom senso e do espírito prático para diferenciar importações predatórias das
virtuosas.
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