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terça-feira, 28 de novembro de 2023

Como a redução populacional da China pode pesar na balança comercial brasileira


Caros Leitores,

A redução populacional da China pode levar a uma potencial retração das demandas de alimentos e de minérios, de forma progressiva e crescente, podendo apresentar reflexos na balança comercial brasileira.

Para discutir esse tema, trazemos essa semana uma notícia para debater os potenciais impactos dessa mudança no tamanho da população chinesa estimado para 2075, buscando compreender os possíveis desdobramentos desse processo no que se refere à pauta de exportação brasileira para a China

Esperamos que gostem e compartilhem!

Alejandro Louro Ferreira é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito.

Chamou mais a atenção, no estudo divulgado pela Goldman Sachs em dezembro de 2022, a condição da China de maior economia do mundo pela paridade cambial para muito em breve (2025? 2028?), do que a redução populacional projetada para 2075, dos atuais 1,4 bilhão de habitantes, para 1 bilhão. Como é apenas um número, os impactos de 400 milhões de habitantes a menos (duas vezes a população brasileira) na China, nos próximos 50 anos, aparentemente são minimizados, e isso apesar do agravante de que já em 2050 a China deverá ter 400 milhões de pessoas idosas, em uma população total, na melhor das hipóteses, de 1,3 bilhão de habitantes.

Novamente as dimensões da população volta a ser "a" questão na China, só que agora com o sinal trocado. Quando a República Popular da China foi fundada, em outubro de 1949, estimava-se haver no país 541 milhões de habitantes. Na aprovação da Política do Filho Único, em 1979, a população era de quase um bilhão de habitantes (total oficialmente alcançado em 1981). Agora, na previsão mais otimista, a China voltará a 1 bilhão em 2100. Evidentemente, não há consenso entre as estimativas divulgadas da divisão de população da ONU, as do estudo publicado pela revista "The Lancet" (já citadas em posts anteriores), e as projeções populacionais com as quais o governo chinês trabalha ("conservadoras" e "pessimistas"). Independentemente de com qual projeção está trabalhando, o certo é que o tema está sendo tratado como "prioridade número 1" do governo Xi Jinping, porque a luz amarela acendeu no ano passado, com a primeira diminuição populacional (800 mil habitantes) em 60 anos.

Para os grandes exportadores brasileiros, que dimensionaram sua capacidade de produção para atender o mercado chinês, 2075 não está tão longe assim. Nem 2050. Até porque a redução das demandas de alimentos e de minérios será progressiva – e crescente. Ainda que muitos pensem logo na transferência dos excedentes para a cada vez mais populosa Índia (em 2075, espera-se que tenha 1,7 bilhão de habitantes), é bom lembrar a enorme diferença de poder aquisitivo das populações dos dois países – a renda per capita chinesa é o triplo da indiana, o que explica o fato da Índia importar pouca comida, se comparada com a China, apesar de produzir apenas metade da quantidade que ela produz.

É bem verdade que pode ser que ocorra na Índia nos próximos 50 anos a redução da pobreza em grande escala que ocorreu na China a partir de 1980, com a incorporação de 800 milhões de pessoas na economia real. Afinal de contas, espera-se que a Índia atinja a condição de segunda maior economia mundial até 2050, e ela não poderá chegar lá com metade de sua população na condição atual de pobreza e miséria. Portanto, até 2075 China continuará a ser o maior mercado consumidor do mundo, apesar do encolhimento populacional maior ou menor que ocorrerá. E continuará sendo também o maior mercado consumidor de pessoas idosas – hoje com 280 milhões, em 2050 com 400 milhões. Um desafio e tanto para as e os profissionais de marketing, hoje às voltas com esse fenômeno do envelhecimento no Brasil, Estados Unidos, Europa e Ásia. Aliás, envelhecimento e encolhimento populacional – inclusive em nosso outrora país "deitado em berço esplêndido".

Contas rápidas ajudam a dimensionar o impacto da redução populacional na China até 2050 na estimativa "otimista" (sim, porque se a previsão de 400 milhões a menos em 2075 se concretizar, pode significar 200 milhões a menos já em 2050): 100 milhões de pessoas a menos equivale à redução do consumo alimentar de meio Brasil; 30 milhões de moradias desocupadas; e quantos milhões de celulares, notebooks, carros e bicicletas a menos? Toda a infraestrutura ainda por ser construída na China precisará ser recalculada a menor, com impacto direto na demanda de recursos financeiros e no consumo de energia, cimento e aço. E todas as previsões de aumento da automação e da robótica terão de ser revistas, porque haverá cada vez mais necessidade de substituição do trabalho humano daqui pra frente, devido à (ainda) inacreditável combinação do aumento do envelhecimento e redução populacional na China, com impacto negativo direto em sua população economicamente ativa.

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