O agrupamento BRICS tem dinamizado novos processos no interior do bloco decorrentes da XV Cúpula ocorrida entre 22 e 24 de Agosto de 2023. Dentro desse contexto tem sido discutida a viabilidade de uma moeda alternativa ao dólar, a expansão do grupo com a iniciativa BRICS+ bem como o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (New Development Bank) nesse processo.
Para debater esses temas, trazemos essa semana esta notícia que discute o papel do Bloco no âmbito da geopolítica econômica internacional, buscando compreender quais as possibilidades do Banco dos BRICS funcionar como uma alternativa à centralização financeira ocidental.
Esperamos que gostem e compartilhem!
Alejandro Louro Ferreira é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito.
O declínio da velha ordem liderada por norte-americanos e europeus é um fato cada vez mais concreto. Estamos vivendo novos tempos. São inúmeros os exemplos: a perda de influência geopolítica, econômica e ideológica. Vamos analisar o caso do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o “Banco do Brics”, tentando responder à seguinte questão: o NBD poderá funcionar como uma alternativa à centralização financeira ocidental? Mais especificamente: o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, manterão o controle e a imposição de receituário neoliberal na oferta de créditos internacionais?
Gostaríamos de chamar a atenção para um detalhe sobre a maioria das análises sobre o NBD até o presente momento. A grande parte faz menção quase que exclusivamente aos impactos econômicos do banco na arquitetura financeira mundial, deixando de lado os aspectos geopolíticos que a instituição provocará no cenário internacional. Os impactos econômico-financeiros serão, sem dúvida alguma, importantes. Os geopolíticos, serão ainda maiores.
O século XXI trouxe uma série de transformações para a economia internacional e para as relações internacionais. A República Popular da China se consolidou como grande player mundial em decorrência de seu crescimento econômico a partir dos anos 1980. Com o fim da Guerra Fria, a economia capitalista apresentou uma grande expansão, ao mesmo tempo em que os EUA e a Europa iniciavam o seu processo de declínio gradual no atual Ciclo Sistêmico de Acumulação, comandado por Washington (Arrighi 1996). Este contexto propiciou uma “janela de oportunidades” para uma atuação antissistêmica por parte de vários países como China, Rússia, Índia e Brasil (Pennaforte 2021). Cada um com seus objetivos políticos, econômicos e estratégicos, mas tendo como horizonte um mundo multipolar e multilateral.
A criação do NBD em 2015, se constituiu na primeira iniciativa financeira (institucional) fora do eixo euro-atlântico desde 1945. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, norte-americanos e europeus vêm comandando o sistema financeiro internacional que, ao longo do tempo, impôs uma série de medidas econômicas para a oferta de crédito, pelo FMI, aos países em desenvolvimento que buscavam a industrialização. Tais medidas econômicas promoviam grandes impactos sobre a sociedade ao impor cortes de gastos que sempre impactavam as áreas sociais, promoviam refluxo nos investimentos e provocavam a recessão, principalmente na América Latina.
A concepção do NBD se deu em 2014, na Cúpula do Brics de Fortaleza, com sua entrada em funcionamento em Xangai (China), no ano de 2015, com um capital autorizado de 100 bilhões de dólares. Pela primeira vez na história, os países “emergentes” ou do Sul Global iniciaram a criação de um órgão financeiro com possibilidades de oferecer créditos à comunidade internacional. Com a ajuda do NBD, inúmeros países interessados nos financiamentos poderão avançar em seus projetos de desenvolvimento sob melhores condições.
O NBD coloca o Brics como um possível protagonista global na disputa por áreas de influência no sistema internacional e poderá se constituir em um importante mecanismo geopolítico e econômico, no atual momento de transição sistêmica para um cenário onde o eixo Washington-Bruxelas perderá a sua influência. Um novo polo de oferta de créditos trará novas perspectivas para inúmeros países que não dependerão mais necessariamente do FMI ou Banco Mundial para iniciar ou dar prosseguimento aos seus processos de desenvolvimento.
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