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terça-feira, 22 de agosto de 2023

Expansão do Brics seria mau negócio para o Brasil (?)

 

Caros Leitores,


Nos últimos anos, e de forma crescente, diversos países do Sul Global têm demonstrado interesse em aderir a plataforma BRICS bem como sua instituição promotora de financiamento - o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).


Se por um lado, essa maior adesão poderia significar maior representatividade em decorrência da expansão e fortalecimento do bloco, por outro lado, analistas sinalizam que esse aspecto poderia ser mais benéfico para Rússia e China (expansão de zona de influência)  do que para Brasil e Índia e eventualmente África do Sul (que poderiam ter sua participação “diluída” diante da entrada de novos membros).


Para apresentar esse debate, trazemos nesta semana uma notícia que discute como a ampliação do bloco poderia impactar de maneira diversa em relação aos atuais países que compõem o agrupamento BRICS.


Esperamos que gostem e compartilhem! 


Fernanda Lima é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito.  


No próximo dia 22 de agosto, os líderes do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul se reunirão em Joanesburgo para a 15ª cúpula do Brics. Por vários motivos, será o encontro mais importante da história do bloco, que se transformou em um grupo geopolítico em 2009, quando houve a primeira cúpula dos líderes.

Porém, ao que tudo indica, é justamente isso que o governo sul-africano fará, atitude que não apenas representaria um triunfo diplomático para Vladimir Putin, mas também fortaleceria o grupo Brics: afinal, a África do Sul se mostraria disposta a violar sua própria legislação para preservar a tradição diplomática das cúpulas do Brics, às quais nenhum presidente deixou de comparecer desde que a plataforma foi criada.

Em segundo lugar, na cúpula de Joanesburgo, o grupo Brics estará diante da decisão mais importante de sua história: criar ou não um processo formal para admitir novos integrantes do clube. Em 2010, a China conseguiu convencer o Brasil, a Rússia e a Índia a agregar a África do Sul, argumentando que incluir um país africano dava ao Brics mais legitimidade para falar em nome do mundo em desenvolvimento.

Parte da motivação, porém, provavelmente foi o desejo chinês de tornar supérfluo o IBAS – grupo criado em 2003 composto por Índia, Brasil e África do Sul – pois a consolidação de um agrupamento de três grandes democracias no Sul Global não era do interesse de Pequim. De fato, em 2013, o grupo IBAS, uma das principais inovações da política externa do primeiro mandato Lula, perdeu relevância.

Desde 2017, a China está promovendo sua visão de um Brics ampliado, e perto de 20 países – entre eles o Egito, o Irã, a Argentina e a Arábia Saudita – sinalizaram informalmente seu interesse em aderir. Como a China, cujo PIB é maior do que de todos os outros integrantes somados, sempre será vista como líder do grupo, a expansão faz sentido para Pequim, e um Brics com dez ou vinte integrantes pode ajudar a formalizar a enorme influência econômica e política que a China já exerce globalmente. Para a Rússia, a expansão também faz sentido para se proteger do crescente isolamento diplomático que sofre no Ocidente.

Para a Índia e o Brasil, porém, ampliar o agrupamento teria um custo estratégico significativo: um Brics diluído dificilmente traria o mesmo prestígio, status e exclusividade que o grupo oferece em seu formato atual. É em parte graças ao grupo Brics – tradicionalmente conhecido como “clube dos emergentes” – que o Brasil ainda é visto, por muitos, como uma potência em ascensão, apesar de estar em estagnação há uma década. Enquanto Nova Deli e Brasília têm a capacidade de vetar decisões em um agrupamento de cinco países, é bem mais difícil exercer a mesma influência em uma aliança de dez ou vinte, onde o maior objetivo dos novos integrantes é fortalecer laços econômicos com a China.

Além disso, é importante lembrar que vários dos países que buscam aderir ao grupo – e que possivelmente obteriam apoio chinês e russo para fazê-lo – adotam uma estratégia explicitamente anti-ocidental, contrária à estratégia brasileira e indiana de articular uma postura de não-alinhamento no contexto das crescentes tensões entre os EUA e a China. Um grupo Brics que inclua a Venezuela, o Irã e a Síria, porém, dificultaria as tentativas brasileiras e indianas de garantir que as declarações finais das cúpulas dos líderes adotem um tom moderado.

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