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terça-feira, 15 de agosto de 2023

Crescimento do Brics altera a posição do Brasil no grupo, avaliam especialistas

Caros Leitores,


As manifestações de interesse realizadas por países como Arábia Saudita, Indonésia e Venezuela, em integrar a plataforma BRICS, vêm suscitando a discussão sobre como a ampliação deste agrupamento poderia afetar a posição do Brasil em termos de oportunidades voltadas a acordos políticos e econômicos no cenário internacional.


Para contribuir para o debate acerca da inserção de novos países na plataforma BRICS - inclusive sobre a ampliação de possibilidades de cooperação internacional para o Brasil -  trazemos nesta semana a presente notícia que aborda como essas transformações poderiam conduzir a uma nova fase no âmbito da ordem mundial.



Esperamos que gostem e compartilhem! 


Fernanda Lima é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito.

A inclusão de novos membros no Brics, bloco que hoje comporta Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, poderá alterar a posição do Brasil no grupo. Essa é a opinião de especialistas ouvidos pela CNN.

O professor de Relações Internacionais do IBMEC de Belo Horizonte Christopher Mendonça explica que “quanto mais ampla a cooperação for em número de participantes, mais importantes os seus membros se tornam em razão da capacidade de diálogo. Isso faria com que o Brasil tivesse mais oportunidades”.

Para Márcio Coimbra, coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, “os Brics estão sempre querendo crescer e trazer mais países para o bloco”. Entretanto, pondera: “Existe espaço para crescimento, mas tem que ver para que lado o Brics vai crescer.”

“Está se falando muito de Arábia Saudita, da Indonésia. Mas a gente primeiro tem que ver para que lado os Brics vão crescer. E esse crescimento vai levar, claro, a uma menor importância do Brasil dentro do bloco. Porque vai dissolver a presença de países médios, como Brasil, dentro de um bloco onde você tem duas potências maiores, a China e a Rússia”, comenta Coimbra.

Após se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no começo desta semana, o líder da Venezuela, Nicolás Maduro, manifestou o interesse de seu país em ingressar no grupo dos Brics.

Maduro cita que o bloco representa a construção de uma nova geopolítica mundial. Para ele, os cinco países estão se transformando em um “ímã” que busca um mundo de cooperação e paz.

“Aspiramos, sim. Queremos fazer parte dos Brics. E acompanhar a construção dessa nova geopolítica mundial”, disse o presidente venezuelano

Lula, por sua vez, disse que apoiará a entrada do vizinho sul-americano no bloco. “Ainda vou participar da primeira reunião dos Brics depois de oito anos. Têm propostas de outros países que querem entrar, e vamos discutir, pois depende da vontade de todos. Se tiver um pedido oficial [da Venezuela], será levado para os Brics. Se perguntar minha vontade, eu sou favorável”, afirmou.

Christopher Mendonça expressa que caso seja aceita a inclusão da Venezuela no bloco, existem chances de que outras economias de médio porte passem a integrá-lo.

“Países como a Argentina, o México, o Chile e a Colômbia além de outros países na África e na Ásia podem encontrar espaço para desenvolver novas parcerias para além de suas regiões. Acredito que ampliar o Brics seja apenas o começo de uma nova fase”, exemplifica Mendonça.

O Banco do Brics e o protagonismo do Brasil

O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como Banco do Brics, tem Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil, como sua líder desde abril.

Em 30 de maio, durante a abertura a cerimônia de abertura do encontro anual do banco, Dilma declarou que “a expansão no número de membros do banco irá fortalecer a nossa base de capital“.

Fontes do governo afirmam à CNN que a presidente está preparando o terreno para tentar integrar a Argentina ao Banco dos Brics futuramente. A adesão seria uma prerrogativa para que o país vizinho conseguisse acesso aos financiamentos feitos pelo NBD, que são restritos aos seus associados.

Fundado em 2014, a entidade reunia inicialmente, apenas Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Em 2021, Bangladesh, Emirados Árabes e Egito foram incluídos como membros. A adesão do Uruguai também foi aprovada e deve ser formalizada em breve.

Mesmo com a liderança de uma ex-chefe do Executivo brasileiro, os educadores não observam um protagonismo no país frente ao bloco.

“Embora tenha indicado a presidente do Banco do Brics, os brasileiros ainda contemplam uma liderança como a chinesa em razão da magnitude da economia do país. Sabendo dessa grande capacidade de mercado da China, o presidente Lula esteve recentemente em visita oficial ao país com fins de estreitar os laços e possibilitar novas parcerias. A China é o país da rodada”, exemplifica Christopher Mendonça.

A avaliação vai na mesma linha de Márcio Coimbra. “O Brasil não está sendo um protagonista do bloco. Os protagonistas do bloco são claramente China e Rússia. São os dois países que controlam politicamente e economicamente os Brics. O Brasil ainda é um sócio menor, mas geopoliticamente importante também, não desprezível.”

Importância do Brics e a Rússia

De acordo com os especialistas, o Brics vem aumentando sua importância na geopolítica mundial, principalmente pela conjuntura econômica dos Estados Unidos e devido à guerra na Ucrânia. Entretanto, é observado que o último fator pode prejudicar sua imagem.

“Sim, o bloco vem aumentando a sua importância na geopolítica mundial, mas ele também está sofrendo retrocessos. Então, na verdade, a gente pode dizer que ele está no mesmo lugar. Por quê? A questão da invasão da Ucrânia pela Rússia deixou o Brics numa situação muito mais difícil do que estava anteriormente. Então, os avanços conseguidos para o países como Brasil e Índia são ofuscados por outros países como, por exemplo, a Rússia e a China”, relata Márcio Coimbra.

Segundo Mendonça, “durante os últimos cinco anos, em razão de conjunturas específicas, o bloco não se manteve no centro das discussões internacionais, mas sinaliza que pretende ser um fórum alternativo aos já existentes sobretudo por incluir economias emergentes em sua estrutura”.

No entanto, o aumento do Brics pode beneficiar os russos, conforme os professores.

“A Rússia pode se beneficiar com o aumento do poder do Brics em função de angariar apoio de China, África do Sul, Brasil e Índia em relação à guerra da Ucrânia e isso realmente tem acontecido”, declara Coimbra.

“A Índia tem comprado petróleo mais barato da Rússia e tem refinado esse petróleo e revendido para a União Europeia. Isso tem sido um dos grandes escândalos recentes que a União Europeia está enfrentando e ela tende a deixar de importar petróleo da Índia, porque o país está fazendo uma triangulação com a Rússia. A China também vem comprando petróleo mais barato da Rússia. O Brasil com a questão dos fertilizantes. A África do Sul diminuiu as imposições internacionais e tá recebendo o Putin para a Cúpula dos Brics”, prosseguiu.

Mendonça cita as sanções que a Rússia enfrenta, como dos Estados Unidos e de países europeus, e que o aumento do bloco lhe dá mais possibilidades.

“Com o aumento do Brics a Rússia amplia o seu espectro de negociação. Muitos países do Ocidente têm aplicado sanções aos russos em razão da sua atuação na guerra. Com a ampliação do Brics haveria maiores possibilidades de trocas comerciais com parceiros que se abrissem para tal. Certamente a ampliação do bloco favorece bastante a Rússia”, finaliza.

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