Caros leitores,
Essa semana ocorrerá a cúpula dos BRICS de 2021. O evento, que já recebeu atenção prioritária dos países que compõem o bloco, ocorrerá de forma mais discreta e por videoconferência neste ano, marcando uma reestruturação das relações entre seus membros.
Diante disso, trazemos uma notícia que analisa a realidade dos BRICS neste momento, inclusive tendo em vista o contexto geopolítico que o envolve e as perspectivas decorrentes da pandemia. Nessa relação, busca-se refletir algumas concepções políticas e o futuro.
Esperamos que gostem e compartilhem!
Ygor Alonso é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito (GPEIA/UFF).
A cobertura modesta dedicada pela imprensa estatal chinesa aos preparativos para a 13ª reunião de cúpula do Brics, que será realizada nesta quinta-feira, demonstra o encolhimento do grupo na agenda política de seu membro mais poderoso. É um claro contraste com a importância dada até alguns anos atrás por Pequim ao grupo de países emergentes, também integrado por Brasil, Índia, Rússia e África do Sul.
As nuvens carregadas que pairam sobre as relações entre alguns dos membros, particularmente da China com a Índia, mas também com o Brasil, tornaram o Brics um mecanismo que ainda tem significado particular para cada um dos países, mas esvaziaram o seu sentido como um bloco coeso que tem objetivos estratégicos comuns e capazes de obter mudanças no sistema internacional, como era sua ambição ao ser criado, em 2006.
A percepção nos meios diplomáticos é que para o Brasil o bloco se reduz a um meio de desenvolver cooperação em algumas áreas de interesse. Já a China tem o interesse de mostrar liderança entre países emergentes, como alternativa à hegemonia dos EUA.
Em virtude da pandemia, pelo segundo ano seguido o encontro de líderes será feito por videoconferência, e, assim como o formato, os resultados também devem ser virtuais. Se há algo em comum entre os países é a baixa expectativa.
As atitudes hostis à China do presidente Jair Bolsonaro e de seus seguidores criaram em Pequim a percepção de que uma relação de confiança com o governo brasileiro não será possível enquanto o bolsonarismo estiver no poder. Embora o comércio bilateral venha batendo recordes, e em público a postura do governo chinês seja de “paciência estratégica”, Pequim agora tem menos interesse em manter abertos canais de diálogo para avançar temas de interesse do Brasil, como a abertura de mercado para mais produtos brasileiros.
Entre China e Índia a tensão é mais explícita. A disputa de fronteira no Himalaia, que em 2020 provocou o primeiro confronto com mortes entre os dois países em 45 anos, mantém uma ferida aberta na relação bilateral e intensificou um movimento geopolítico, levando o governo de Nova Dhéli a se aproximar mais dos EUA. Sob a presidência rotativa da Índia, a reunião de cúpula do Brics deve ter o Afeganistão entre os principais assuntos, segundo a imprensa indiana. Três dos cinco membros do grupo — China, Índia e Rússia — têm interesse direto, embora por motivos distintos, no que virá com o Talibã no poder.
A China confirmou a participação do presidente Xi Jinping no encontro desta quinta-feira, previsto para ocorrer entre 9h e 10h30 (pelo horário de Brasília). Em nota à coluna, o ministério de Relações Exteriores da China disse que a fragilidade da economia mundial diante dos efeitos da pandemia aumenta a responsabilidade dos países emergentes em uma retomada. A China pretende fortalecer a cooperação entre os países do Brics na área de saúde, especialmente em vacinas, economia, finanças e segurança, afirmou o ministério. A cúpula do Brics é a oportunidade de promover um “multilateralismo genuíno”, acrescentou.
A cooperação depende de vontade política, diz Zhou Zhiwei, diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Academia Chinesa de Ciência Sociais. Os desafios que o Brics enfrenta hoje decorrem não apenas de mudanças no cenário internacional, mas de reviravoltas na política interna de países-membros, principalmente Brasil e Índia, afirma. É preciso ver o Brics numa perspectiva de longo prazo, mas também com foco em iniciativas urgentes como a recuperação da economia e a cooperação em vacinas, o que deveria ser prioridade para países como Brasil e Índia, que estão entre os mais atingidos pela Covid, diz Zhou.
— O Brics ainda tem importância geopolítica e geoeconômica, porque o objetivo principal é reformar o sistema internacional, elevando a participação dos países em desenvolvimento nos processos decisórios para promover uma ordem internacional mais justa e razoável.
Entretanto, mesmo os temas onde supostamente há convergência, como a defesa do multilateralismo e a reforma dos organismos internacionais, esbarram em interesses que não se afinam. Brasil, África do Sul e Índia fizeram algum avanço no esforço para incluir uma linguagem mais firme sobre a ampliação do grupo de membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, mas China e Rússia permaneceram ancoradas na manutenção do status quo.
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