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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

EUA são vistos em Davos como maior fator de risco político em 2020

O presidente Donald Trump é recebido por jornalista na sua chegada ao Fórum Econômico Mundial. 

Olá alunos, 

Trazemos hoje mais uma notícia a respeito das reverberações políticas no mundo econômico.

Esperamos que gostem e participem!
Lucas Pessôa é membro do Grupo de Pesquisas "Estados Instituições e Análise Econômica do Direito.   

Algo que habitualmente caracteriza as grandes potências, e especialmente os Estados Unidos, é a sua estabilidade política. Mas não neste ano, e não sob a presidência de Donald Trump. As eleições presidenciais norte-americanas, o processo de impeachment contra o mandatário e a crescente polarização política no país introduzem muitos fatores de incerteza. Trump comparece nesta terça-feira ao Fórum de Davos pela segunda vez em sua presidência sem que os participantes do evento alpino tenham a esperança de esclarecer dúvidas ou aplacar inquietações. Os EUA despontam como principal fator de risco político em 2020.

Pela primeira vez desde que passou a elaborar um relatório anual, a consultoria de riscos Eurasia aponta como maior risco a política dos Estados Unidos, um país cada vez mais polarizado, que terá eleições presidenciais em novembro. “Confrontamos os riscos de eleições presidenciais em novembro que muitos vão considerar ilegítimas, a incerteza sobre o que acontecerá depois e um entorno de política externa muito menos estável como consequência do vácuo decorrente”, alerta o relatório.

Também pela primeira vez na história, um presidente norte-americano, Donald Trump, vai à reunião do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) no mesmo dia em que, a 4.000 quilômetros de Davos, ele começa a ser julgado no Senado por supostas tentativas de pressionar a Ucrânia a investigar seu rival político Joe Biden e de obstruir a posterior investigação parlamentar sobre o caso. “A cada irregularidade que vai sendo conhecida, fica mais claro que Trump sabia, assim como a sua equipe, mas isso não evitará que o Senado —onde os republicanos têm maioria— o absolva, o que agravará a questão da ilegitimidade”, observa em Davos o presidente do Eurasia, Ian Bremmer. “Será o pior ambiente político para eleições nacionais nos Estados Unidos desde a eleição de 1876”, analisa.

Do mesmo modo, é a primeira vez que a política em um país desenvolvido é apontada como um fator de risco e instabilidade, uma condição tradicionalmente associada aos países emergentes, como recordam fontes financeiras internacionais. Por tudo isso, a presença de Trump em Davos, nesta terça e quarta-feira, faz desta uma edição excepcional do evento que reúne anualmente a elite econômica global numa estação de esqui da Suíça. O presidente chega acompanhado de seus secretários do Tesouro, Steven Mnuchin, e de Comércio, Wilbur Ross, além de sua filha e assessora Ivanka Trump, entre outros.

“Embora estejamos em um fórum internacional, o discurso do presidente estará marcado pela política doméstica e a campanha eleitoral. Trump dirá que cumpriu sua promessa eleitoral e tornou a América grande outra vez”, diz, no Centro de Congressos de Davos, Carlos Pascal, vice-presidente da consultoria IHS e ex-embaixador norte-americano na Ucrânia, entre outros destinos. “Vai bater no peito por ter dobrado a China, por ter feito o mesmo com o Canadá e o México como forma de reduzir os desequilíbrios comerciais e proteger os direitos dos trabalhadores, de ter acabado com o Estado Islâmico e ter acabado com o maior terrorista iraniano”, diz Pascal, que concorda quanto ao impacto do impeachment e da campanha eleitoral sobre a política externa norte-americana. “Se ele for mal no julgamento político, o México que se cuide, que é certamente o elo mais frágil. O mesmo acontece com a Europa”, alerta o ex-diplomata, especialista em energia. Bremmer insiste na mesma linha: “O impeachment perderá eficácia e deixará de ser um instrumento crível de contenção política”.

De fato, a política norte-americana se tornou novamente um dos fatores de risco indiretos para a economia mundial, como apontava nesta segunda-feira a economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Gita Gopinath. “Podem surgir novas tensões comerciais entre os Estados Unidos e a União Europeia, e as tensões entre a China e os EUA podem voltar”, disse Gopinath.

Vários especialistas concordam que até as eleições de novembro será difícil que as tensões com a China recrudesçam, porque, ao congelar a aplicação de novas tarifas a Pequim, Trump agiu para evitar prejuízos maiores aos consumidores do seu país. Depois das eleições de novembro, porém, a guerra comercial e tecnológica pode se intensificar novamente.

O WEF dedicará várias sessões a abordar os conflitos comerciais dos Estados Unidos com seus sócios, num sinal da preocupação que esta questão provoca entre os participantes em Davos. “Devemos nos acostumar à nova realidade que está marcada pela incerteza”, acrescentava na segunda-feira a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva.

Tensão entre potências

Pouco antes do pronunciamento de Donald Trump no plenário do Centro de Congressos, e a poucos metros de distância, falará nesta terça-feira Ren Zhengfei, presidente e fundador da Huawei, empresa tecnológica chinesa que está no olho do furacão da disputa comercial sino-americana. Seu tema será justamente os desafios da corrida tecnológica.

Greg Austin, especialista do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, em Singapura, salienta que, na mesma semana em que EUA e China selaram uma trégua comercial, o secretário de Estado Mike Pompeo fez um discurso no Vale do Silício pedindo às empresas tecnológicas norte-americanas que evitem fazer negócios com o gigante asiático, pois essas transações podem estar contribuindo para reforçar o poderio militar “e repressor” de Pequim. Apesar das boas palavras do presidente e da pompa que cercou a assinatura da trégua comercial em Washington, as tensões entre as duas potências estão longe de amainar.

Europa e multilateralismo

Ursula von der Leyen estreou nesta segunda-feira em Davos no cargo de presidente da Comissão Europeia, mas não é uma desconhecida para o Fórum Econômico Mundial, de cujo conselho de assessores participou durante anos.

O WEF estendeu-lhe tapete vermelho neste regresso, convidando-a a pronunciar as palavras de inauguração da 50ª edição, antes que a estrela da cúpula, Donald Trump, se apresente na estação alpina.

“Viemos aqui hoje para discutir, debater e nos comprometer com soluções e novas alianças, para combater a mudança climática, reforçar o crescimento inclusivo e garantir a paz e a prosperidade para todos”, disse a presidenta. Von der Leyen aproveitou para defender a aposta europeia no multilateralismo, em clara contraposição aos Estados Unidos de Donald Trump, e advogou também pelo modelo europeu de “economia social de mercado” como alternativa para obter um sistema econômico mais “justo e sustentável”, uma declaração alinhada com o espírito de uma edição de Davos que põe o capitalismo sob exame. “Acredito, como você, Klaus [Schwab, presidente e fundador do Fórum de Davos], que podemos conseguir que nossa economia se reconcilie com nosso planeta. Que podemos reconciliar o desenvolvimento humano com a proteção de nosso meio ambiente. Mas só juntos podemos fazê-lo.”

Para os investidores, Von der Leyen suscita um notável interesse nesta edição de Davos por outros motivos além de ser uma estreante. A presidenta da Comissão chega ao evento logo depois da aprovação do Plano Verde, que visa a transformar a Europa no primeiro continente neutro em emissões até 2050, e para isso quer mobilizar recursos públicos e privados num total de um trilhão de euros (4,66 trilhões de reais). Essa linguagem o público de Davos domina como ninguém.

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