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domingo, 20 de janeiro de 2019

Antes que seja tarde demais, precisamos entender a nova lógica do mundo dos negócios


Ruptura (Foto: ilustração sobre imagem da thinkstock)

Olá alunos,

Nesta notícia, encontramos uma análise a respeito das novas perspectivas do mundo dos negócios destacando seus atibutos e vicissitudes.   

Esperamos que gostem e participem.
Lucas Pessôa é monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense".

A competição entre empresas na era digital é muito diferente da que conhecemos no passado. Os modelos de estratégia competitiva, criados décadas atrás, precisam ser atualizados para dar conta dos novos componentes da atual arena competitiva. As distâncias “diminuíram” no mundo globalizado. As barreiras culturais e linguísticas são facilmente transponíveis. Empresas de software engoliram os gigantes industriais na briga de valor de mercado e isso diz muito sobre o mundo em que vivemos.
A nova arena caracteriza-se por quatro fatores:
1 QUEDA DAS FRONTEIRAS ENTRE SETORES
Antes da era digital, comparávamos produtos, serviços e empresas de um mesmo segmento. Hoje, comparamos experiências de uso — e isso transcende essas barreiras. Não importa a complexidade do produto, a frequência de uso, a sensibilidade dos dados ou as exigências da regulamentação. O usuário digital quer a mesma experiência da Amazon num banco digital ou a mesma experiência do Uber quando usa o seu plano de saúde. E a experiência de uso engloba todos os pontos de contato com a marca, inclusive o pós-venda e o atendimento a eventuais reclamações. É muito diferente fazer uma reclamação na Amazon e tentar o mesmo numa empresa tradicional. Na primeira, o usuário costuma sair encantado e ainda mais engajado na marca, enquanto nas empresas tradicionais, na melhor das hipóteses, o usuário pode ter a sua reclamação atendida. Isso impõe um desafio relevante para as companhias tradicionais (as incumbents), que montaram seus processos e sistemas décadas atrás e agora precisam se adaptar a esta nova realidade;
2 EMPODERAMENTO DO CONSUMIDOR
O cliente hoje tem o poder de se comunicar e de influenciar milhares ou até milhões de pessoas. Muitos não compram nada hoje sem antes consultar os comentários dos usuários que já avaliaram aquele produto. Ao tomarmos conhecimento de uma marca nova, automaticamente consultamos os sites de reclamações para obter informações sobre a reputação da empresa. As companhias monitoram o que os consumidores dizem sobre elas nas redes sociais e tomam decisões com base nisso. A marca deixou de ser um conjunto de atributos planejado pela empresa para se tornar a soma das vozes dos usuários no mercado. São os consumidores que constroem a reputação das marcas e não há mais verba de publicidade que seja suficiente para reverter este movimento;
3 COMPETIÇÃO ENTRE EMPRESAS DE TAMANHOS DIFERENTES
Startups brigam com as incumbents em nichos e com produtos específicos. As grandes empresas têm dificuldade em enxergar que um competidor tão pequeno possa ameaçá-las, porque o modelo mental de competição é aquele antigo, com empresas de tamanhos comparáveis e do mesmo segmento competindo entre si. Por isso, tendem a rejeitar a ideia de que as startups as ameaçam. Para ofuscar ainda mais a visão das corporações, startups e grandes empresas possuem KPIs (Indicadores de Desempenho) diferentes. Enquanto as incumbents olham para receita, lucratividade e retorno aos acionistas, startups olham para a satisfação dos usuários (NPS), taxa de crescimento da base de consumidores e custo de aquisição de cliente. Quando grandes empresas analisam as startups, esquecem-se de usar os seus indicadores (das startups) e olham para aqueles que elas mesmas usam. E aí chegam a conclusões erradas, como a tradicional: “nenhuma delas está ganhando dinheiro”. A maioria pode não estar ganhando dinheiro, mas porque não atingiu o estágio em que isso importa. O problema é que quando esse momento chegar, talvez seja tarde para as corporações reagirem. Que o diga a Blockbuster, entre outras que ficaram pelo caminho;
4 FIM DAS BARREIRAS DE ENTRADA
Num mundo em constante transformação, as barreiras de entrada caem tão rapidamente que talvez o conceito já tenha deixado de existir. Em quase todos os países em que entrou, o Uber enfrentou a ira dos taxistas e ações na Justiça. Havia uma série de barreiras — e todas foram tombando, uma a uma. São poucos os locais em que a empresa ainda não conseguiu entrar. Companhias de transportes de longa distância, como linhas aéreas e ferrovias, possuem uma barreira clara, a do alto investimento necessário. Pois o Hyperloop, a nova engenhoca de Elon Musk, que propõe transportar pessoas e cargas a uma velocidade de 1.200 km/h, pode derrubar essa barreira também. Vai tentar fazer isso com o uso de uma tecnologia inovadora, cujo custo operacional representa um décimo do de uma ferrovia, e com um modelo de negócio também inovador, em que diferentes players poderão se juntar e ligar cidades com um Hyperloop, enquanto a empresa criadora das futuristas cápsulas vai apenas supervisionar a construção e ganhar royalties. Segmentos que ainda se protegem atrás das regulamentações, como serviços financeiros, já deveriam ter notado que elas mudam hoje com velocidade nunca vista. A tecnologia torna as regras obsoletas com enorme velocidade. São minoria no mundo os reguladores insensíveis a essa realidade.
A nova arena faz com que as vantagens competitivas das empresas sejam cada vez mais temporárias. Não há mais grandes fortalezas sustentáveis no longo prazo. O novo cenário impõe às organizações a necessidade de praticar uma capacidade para a qual não se prepararam: a colaboração. Mas não na antiga concepção, em que a corporação define uma solução e chama parceiros para ajudá-la. E sim a colaboração em que as empresas formam um ecossistema de parceiros que, juntos, identificarão problemas e desenvolverão soluções, em condições iguais.

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