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quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Convite!

Olá alunos, 

Viemos convidá-los para o IV Seminário de Análise Conjuntural.


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No Seminário, de acordo com a chamada do evento: "Serão apresentados os possíveis cenários econômicos e políticos a partir de 2019, dentro de um contexto de provável melhora de confiança interna e de um cenário externo ainda nebuloso, com o mundo crescendo a taxas mais modestas e maior distensão entre Estados Unidos e China, com impactos negativos sobre países emergentes."

Data: 10/12, segunda-feira
Horário: 16 às 18h
Local: Centro Cultural FGV
Endereço: Praia de Botafogo, 186 - Botafogo 


Esperamos que gostem e participem.
Lucas Pessôa e Nathalia Marques são monitores na disciplina "Economia Política e Direito" na Universidade Federal Fluminense. 

domingo, 25 de novembro de 2018

Nova Guerra Fria entre Estados Unidos e China terá impacto mundial e afetará globalização

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Olá alunos, 
A notícia de hoje consiste numa análise da relação bilateral entre as duas maiores potências econômicas (EUA e China), que tem ganhado contornos de competição, e quais são as possíveis projeções dessa conjuntura para o futuro próximo do planeta.
Esperamos que gostem e participem. 
Lucas Pessoa e Nathalia Marques são monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
Depois de sete décadas de Pax Americana, o mundo passa por uma transformação radical, que promete redesenhar a arquitetura global estabelecida sob a liderança de Washington depois da Segunda Guerra Mundial. No centro desse movimento está a crescente tensão entre as duas maiores economias do planeta: a atual potência global, os Estados Unidos, e a potência emergente, a China, cujo PIB deverá superar o americano antes de 2030. Marcada pela complementariedade nos últimos 40 anos, a mais importante relação bilateral do Século 21 entrou em uma fase de competição, na qual Washington e Pequim disputam o domínio das tecnologias que dominarão a economia mundial nas próximas décadas.
Se não acomodarem suas diferenças, os dois países devem embarcar em uma nova Guerra Fria, com impactos imponderáveis sobre a globalização e o crescimento mundial. O risco de um conflito armado é considerado o maior desde a normalização das relações, em 1979, e ambos os lados avaliam suas capacidades militares diante do potencial inimigo. Enquanto a Guerra Fria entre os EUA e a União Soviética contrapôs duas zonas de influência separadas pela Cortina de Ferro, sua nova versão envolveria dois países que desenvolveram uma profunda interdependência ao longo das últimas quatro décadas, com integração de cadeias de produção, comércio e fluxos financeiros.
Os EUA são o principal destino das exportações da China, com uma fatia de 20%, e grande parte desses embarques é de produtos fabricados no país asiático por empresas americanas. Na mão contrária, a China é o maior credor externo dos Estados Unidos e tem uma montanha de US$ 1,15 trilhão em títulos do Tesouro americano.
Mas o componente ideológico está cada vez mais presente na percepção que um país tem do outro. Desde sua chegada ao poder, em 2012, Xi Jinping vitaminou o autoritarismo chinês, restabeleceu o controle do Partido Comunista sobre virtualmente todas as dimensões da sociedade e privilegiou as empresas estatais no desenvolvimento econômico. Donald Trump, que está na Casa Branca desde 2017, se cercou de assessores que demonizam a China, professam a necessidade de conter sua ascensão e deixam pouco espaço para acomodação.
“Os EUA erraram em sua avaliação da China?” é uma das perguntas que dominam o debate acadêmico sobre a relação bilateral. O engajamento de Washington com Pequim era em parte baseado na expectativa de que a adoção de regras de mercado e a integração da China à economia mundial levariam inevitavelmente a uma maior abertura política. Apesar de isso não ter acontecido, alguns analistas sustentam que a virada autoritária de Xi Jinping é reflexo de seu estilo de liderança e não deve pautar políticas de longo prazo dos EUA. O problema é que Xi acaba de mudar a Constituição chinesa para garantir sua permanência no poder por tempo indeterminado. Em consequência, um número crescente de especialistas argumenta que os pressupostos que guiaram o engajamento americano com a China nos últimos 40 anos sofreram mudanças fundamentais, o que deve levar ao abandono da cooperação/acomodação que marcou grande parte da relação bilateral até a chegada de Trump à Casa Branca.
Também é cada vez maior o número de observadores que responde “sim” a outra das perguntas que pululam nos meios acadêmicos: “Há uma incompatibilidade fundamental entre os interesses de longo prazo dos EUA e da China?” No fim do mês, Trump e Xi se encontrarão durante a reunião do G20 na Argentina e tentarão resolver a guerra comercial iniciada pelos americanos com a imposição de tarifas sobre cerca de metade de suas importações da China. Ainda que cheguem a um acordo, isso não resolverá aspectos fundamentais da competição global entre os dois países. A capacidade de ambos os lados administrarem suas diferenças será crucial para a estabilidade global a partir de agora.
Com fortes laços comerciais e de investimentos com a China e os EUA, o Brasil estará no fogo cruzado dessa disputa. O país não tem nada a ganhar com o alinhamento a um dos lados e deve pautar suas decisões com base no interesse nacional - e não em questões ideológicas.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Reforma Trabalhista: 78% das vagas são intermitentes e parciais

Reforma trabalhista: 78% de vagas criadas são intermitentes ou parciais




Olá alunos,

A presente notícia trata-se de uma análise comparativa entre o que foi prometido pela reforma trabalhista brasileira e o que está acontecendo de fato após a aprovação da mesma.

Esperamos que gostem e participem.
Nathalia Marques e Lucas Pessoa são monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.

Com a divulgação do saldo de empregos de julho, tem-se que desde a entrada em vigor da reforma trabalhista (Lei 13.467/17) foram gerados apenas 50.545 postos de empregos formais em 9 meses. O resultado é irrisório frente ao fechamento de 2,9 milhões de empregos com carteira entre dez/14 e dez/17, uma média de 79,5 mil postos a menos por mês, durante 36 meses.

Não é apenas a insuficiência da geração de postos formais que preocupa. A qualidade dos postos é o ponto crítico no pós-reforma: Foram gerados 26.300 postos intermitentes e 13.320 parciais no período (saldo). Ou seja 78,4% do saldo de empregos formais gerados desde novembro foi em contratos “atípicos” e precários, que passam a ser reconhecidos pela Reforma Trabalhista. 

A ampliação dos contratos atípicos concentrou-se em setores econômicos com maior rotatividade e menores salários: 62% do saldo de emprego com contratos intermitentes estavam nos setores de comércio ou serviços, com menores salários. Esse setor, além de acumular o maior saldo de contratos intermitentes, também é o segundo com maior diferença salarial entre admitidos e desligados (-16,35%), o que estimula a rotatividade.
As ocupações com maior saldo de contratos intermitentes são respectivamente assistente de vendas, servente de obras, alimentador de linha de produção,faxineiro, vigilante e garçom, o que sugere que as medidas para “modernização” do mercado de trabalho, reduzindo seguridade no trabalho acometem prioritariamente ocupações que já eram mais vulneráveis e com menores salários.
O quadro é semelhante entre os contratos por tempo parcial, com praticamente as mesmas ocupações no topo do ranking: assistente de vendas, servente de obras, operador de caixa, faxineiro, alimentador de linha de produção, repositor de mercadorias, vendedor de comércio varejista e vigilante
O desligamento por comum acordo, criado com a reforma  (Art.484-A), também é expressivo: Foram 94,5 mil desligamentos sob essa forma. Nesses casos, o trabalhador não acessa integralmente as verbas rescisórias e não tem acesso ao seguro-desemprego.
Alterações para a mensuração de novos contratos da reforma foram aplicadas apenas aos registros administrativos do Ministério do Trabalho. Porém, os dados da PNAD Contínua – IBGE apontam para conclusões similares.
Por estes dados é possível verificar degradação do mercado de trabalho, expressa na redução em 9,7% do emprego com carteira assinada no Brasil, passando de 36,5 milhões de postos com carteira no trimestre encerrado em dezembro de 2014 para 33,0 milhões no trimestre encerrado em julho de 2018.
Ademais, observa-se recuo da ocupação em geral, que passou de 92,9 milhões para 91,2, representando uma queda de 1,3% no mesmo período. Em compensação, há expressivo aumento no número de empregadores (11,7%), conta própria (6,2%), emprego no setor privado sem carteira (5,8%), e do trabalho doméstico sem carteira (8,9%).
Portanto, verifica-se uma redução da ocupação em geral, uma redução ainda mais intensa dos empregos com carteira assinada e, por outro lado, há o aumento do trabalho desprotegido.
A PNAD Contínua demonstra ainda que a despeito das promessas de geração de 6 milhões de empregos[1], o mercado de trabalho se contrai e o desemprego persiste. A taxa de desemprego era de 6,5% em dezembro de 2014 e apresentou rápida expansão durante a crise.
Quando a reforma entrou em vigor, a taxa de desemprego estava em 12,0%. O dado mais recente da PNAD Contínua revela uma taxa de desocupação de 12,4% (12,9 milhões de desocupados no país).
A reforma não atacou o desemprego, mas desarrumou o trabalho formal no Brasil, precarizando o trabalho existente. Tendência similar foi constatada em estudo comparativo realizado por Salas e Pernías (2017)[2]. Os autores apontam que, com a crise de 2008, diversos países colocaram em marcha Reformas Trabalhistas, sob o discurso de que seriam um antídoto ao alto desemprego.
Ao analisar os impactos das reformas trabalhistas levadas a cabo em países como Alemanha, Reino Unido, Espanha, entre outros, verificou-se que os efeitos mensurados no mercado de trabalho são similares aos encontrados no Brasil: um processo de substituição da força de trabalho abrangida por contratos formais, por formas atípicas de contratação e consequente aumento na desigualdade de renda.
No Brasil, essa tendência funde-se a uma estrutura pré-existente, marcada por heterogeneidades e desigualdades profundas. Assim, soma-se um passado excludente a uma perspectiva de futuro também altamente excludente. Não é de se espantar que já se aponte para o retorno de níveis elevados de pobreza e extrema pobreza no país.
O Relatório Luz da agenda 2030 de desenvolvimento sustentável[3], apontou expansão de 53,2% no número de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza desde 2014, passando de 14,1 milhões de pessoas para 21,6 no final de 2017. A extrema pobreza já atinge 11,8 milhões de brasileiros, nível mais alto desde 2005.


quarta-feira, 21 de novembro de 2018

10% mais ricos contribuem para mais da metade da desigualdade no Brasil



Desigualdade ricos


Olá alunos,


A notícia de hoje versa sobre o levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Aplicada) acerca da desigualdade de renda no Brasil e traz reflexões sobre como políticas tributárias e redistributivas podem contribuir pra a redução de tal disparidade.

Esperamos que gostem e participem. Nathalia Marques e Lucas Pessoa são monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.clique aqui


Os 10% mais ricos da população brasileira respondem por 51,5% da desigualdade de renda total do país, uma das mais altas do mundo. É o que revela um estudo inédito publicado pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea). Esse percentual é maior do que o encontrado em outros países, como Estados Unidos (45%), Alemanha (44%) e Grã-Bretanha (41%). A pesquisa ainda constatou que a maior parte desse contribuição está na metade mais rica do grupo abastado (no 5% do topo), que responde por mais de 45% do índice de desigualdade. No ano passado, quem recebeu mais do que 5.214 reais por mês estava entre os 10% mais ricos do Brasil.
Os dados foram medidos por um indicador ainda pouco utilizado na literatura socioeconômica, a J-divergência, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, entre 1981 e 2015. Diferentemente de outros índices utilizados no mundo para aferir o tamanho da desigualdade, como o Gini, a J-divergência consegue, a partir de dados amostrais, estimar quanto da disparidade total vem de cada pessoa ou de cada grupo, definido por faixas de renda. "Ela compara a distância da renda de cada indivíduo com a média de renda do país [o rendimento domiciliar per capita do Brasil ficou em 1.268 reais em 2017]. Conhecer a contribuição do grupo mais abastado, por exemplo, pode ajudar o país no redesenho de suas políticas redistributivas, como impostos progressivos sobre renda e patrimônio", explica um dos autores do estudo, o técnico de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Carlos Henrique Corseuil.
A preponderância dos mais ricos sobre o nível e a trajetória da J-divergência pode ajudar, segundo os estudiosos, a compreender o que, afinal, aconteceu com a desigualdade de renda no Brasil desde o início deste século. Pesquisas mostravam até 2014 uma queda considerável na desigualdade, sobretudo quando a medida usada era a Pnad anual, os dados mais usados até então para acompanhar o fenômeno. Muitos trabalhos destacam o papel dos aumentos reais de salário mínimo e de benefícios atrelados a eles para justificar o recuo da desigualdade. No entanto, o estudo "A desigualdade é mais alta e estável do que se imaginava" de Marcelo Medeiros, Pedro Souza e Fábio Castro, divulgado em 2015, apontou estabilidade da desigualdade no período. No caso da última pesquisa, as rendas dos 10% mais ricos encontradas na Pnad são substituídas por estimativas a partir de tabulações anuais do Imposto de Renda – Pessoa Física (IRPF). "Este trabalho não permite responder definitivamente se o verdadeiro índice de Gini das rendas caiu ou não no Brasil, mas pode ajudar a qualificar melhor a discrepância entre as histórias contadas pela Pnad e pelo IRPF e as conclusões tiradas a partir destas", escrevem os autores do estudo inédito.
Na avaliação de Marcelo Medeiros, o novo estudo é importante para realmente saber quais os dados de renda da camada mais alta. "Se você quiser estudar a desigualdade, você terá que olhar para os mais ricos". O pesquisador ressalta, entretanto, que, mesmo com maior conhecimento do diagnóstico,  não há fórmula mágica para combater a desigualdade. "É um conjunto de políticas muito grande que vai ter que ser combinado e mantido de maneira persistente para causar de fato uma redução da desigualdade. A mudança na tributação sozinha não resolve. Apenas o conjunto de todas elas", explica.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

CAI A MÁSCARA DA REFORMA TRABALHISTA: Desemprego e precarização vêm à tona

Olá alunos,

A notícia de hoje tem como objeto central uma análise da incidência prática das alterações decorrentes da Reforma Trabalhista de 2017, evidenciando uma contraposição à alegada "modernização" de seus defensores. 

Esperamos que gostem e participem. 
Nathalia Marques e Lucas Pessoa são monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.

A reforma trabalhista completou em agosto nove meses de vigência e já é evidente seu fracasso na missão de criar mais empregos formais de qualidade e contribuir na retomada do crescimento econômico. Com o aprofundamento da crise econômica a partir de 2015, o Brasil acompanhou os malabarismos teóricos de economistas ortodoxos para estabelecer uma relação causal entre a superação da crise econômica e a destruição do aparato político e institucional que promovia seguridade ao trabalhador e mitigava a assimetria no mercado de trabalho. 

A reforma trabalhista, mal debatida e aprovada em tempo recorde pelo Congresso em julho de 2017, foi apresentada como medida imprescindível para a “modernização” das relações de trabalho no país e para a superação da crise econômica. Os mesmos defensores da austeridade1 que transformou uma desaceleração em recessão econômica em 2015 defendiam a reforma trabalhista como saída para a crise. 

A reforma, ao flexibilizar as relações de trabalho, reduzir direitos trabalhistas, permitir a livre negociação entre trabalhadores e empresários e deixar que o próprio mercado defina níveis de remunerações e condições de trabalho, contribuiria para a retomada do crescimento econômico, segundo seus defensores. Tal pensamento é baseado na ideia de que o mercado de trabalho brasileiro não era flexível e que o desemprego e a queda da atividade econômica são responsabilidades dos trabalhadores. Em primeiro lugar, o Brasil possui um mercado de trabalho historicamente marcado por informalidade, alta rotatividade, baixos salários e desrespeito à regulação do trabalho. Ademais, a pressuposição de que os trabalhadores são responsáveis pelo desemprego está fundada na ideia de que estes preferem o desemprego a trabalhar por baixos salários – o que justificaria retirar direitos trabalhistas como seguro-desemprego, com o propósito de combater o “corpo mole”. 

Por outro lado, o nível de emprego depende do volume de gastos e investimentos na economia como um todo: buscar entender o nível de desemprego observando apenas o mercado de trabalho é como tentar apreender o funcionamento do motor de um carro olhando para suas rodas. Até poucos anos atrás, as estatísticas oficiais acerca do trabalho não haviam sido capazes de incorporar especificidades brasileiras e ao mesmo tempo adequar-se a padrões internacionais de medição das situações de emprego e desemprego. No entanto, com a Pnad Contínua (PnadC), houve uma tentativa de medição mais complexa de fenômenos que impactam os mercados de trabalho periféricos como o Brasil (ao contrário da Europa): subemprego, desalento, entre outros, consolidados no indicador “Subutilização da força de trabalho”. Sobre esse indicador, do segundo trimestre de 2017 para o segundo trimestre de 2018, cresceu de 26,3 milhões para 27,6 milhões a quantidade de pessoas subutilizadas, isto é, os subocupados por insuficiência de horas trabalhadas, os desocupados e a força de trabalho potencial. 

Para comparação, antes da adoção das políticas de austeridade no Brasil (o que ocorreu a partir de 2015), havia no país 15,3 milhões de subutilizados no segundo trimestre de 2014, quase a metade do número hoje. A análise desse indicador composto revela que, à dessemelhança do que se observa em mercados estruturados, no Brasil existe uma ampla gama de situações que não podem ser adequadamente mensuradas pelo binômio emprego/desemprego. Aliás, o grande aumento do total de desocupados (+101%) no Brasil desde 2015, início da crise econômica – 6,4 milhões de pessoas em dezembro de 2014 para 12,9 milhões em junho de 2018 –, foi acompanhado pelo aumento do subemprego e do desalento, sintomas dos tempos presentes. O desalento chegou a 4,8 milhões no segundo trimestre de 2018, ponto mais alto da série histórica. De dezembro de 2014 a junho de 2018, o número de trabalhadores em situação de subemprego aumentou 38%, e a força de trabalho potencial, 91%. 

Entretanto, a reforma prometia, além de reduzir a desocupação e o desalento, gerar novos postos de trabalho. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o saldo de emprego formal entre novembro de 2017 e junho de 2018, período de vigência da reforma, é de 3.226 postos. Já o saldo de geração de empregos intermitentes é de 22.901, e de postos em tempo parcial, de 12.507. A PnadC revela também uma degradação do mercado de trabalho, expressa na redução em 10,1% do total do emprego com carteira assinada no Brasil, passando de 36,5 milhões para 32,8 milhões entre outubro, novembro e dezembro de 2014 e abril, maio e junho de 2018, ponto mais baixo da série histórica. Entre o quarto trimestre de 2014 e o segundo trimestre de 2018, houve recuo da ocupação, que passou de 92,9 milhões para 91,2, representando uma queda de 1,8% no período e aumento no total de empregadores (10,1%), dos trabalhadores por conta própria (6,0%), do emprego sem carteira (4,8%) e do trabalho doméstico (4,8%). 

E é bom lembrar que os argumentos de “modernização” do trabalho para retirar direitos são os mesmos utilizados no século XIX, que geraram sociedades pauperizadas e violentas. Na mesma linha, a reforma agrava problemas históricos brasileiros, como alto desemprego e informalidade, degradação da qualidade dos postos de trabalho formais, grande peso do desemprego oculto por situações de trabalhos precários ou desalento, que acabam empurrando os desempregados para a inatividade. 

A partir da reforma tem ocorrido uma substituição de ocupações mais estáveis, como emprego por tempo indeterminado, por ocupações em tempo parcial e contratos intermitentes, PJs, terceirizados etc. Em suma, o impacto real da reforma trabalhista não se deu sobre o desemprego, que persiste, e sim nos postos de trabalho formais, que estão sendo paulatinamente substituídos por contratos precários.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Dez anos depois, governos têm menos fôlego contra crises financeiras

Olá alunos,

A notícia de hoje tem como temática a questão cíclica que condiciona o desenvolvimento da economia e as crises financeiras, onde as instituições bancárias têm papel fundamental na discussão.

Agradecemos a notícia sugerida pelos alunos: Lucas Marques; Victor Miranda; Nicolas Novis; Ademir Felipe; e Breno Lima.

Esperamos que gostem e participem. 
Nathalia Marques e Lucas Pessoa são monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.



Em 15 de setembro completaram-se dez anos de um evento mais determinante para nossos tempos do que o 11 de setembro de 2001: a falência do banco Lehman Brothers, marco do início da crise financeira e econômica de 2008.

Se as consequências do atentado da Al-Qaeda ainda ressoam sobre o Oriente Médio, aquelas do colapso do mercado de derivativos de hipotecas subprime afetam não apenas 200 milhões de desempregados oficiais do mundo, mas praticamente cada pessoa, cada decisão política e cada eleição do planeta.

Some-se a isso que, embora pouco ou nada se tenha feito para enfrentar as raízes do terrorismo, foram adotadas em quase todos os países medidas de segurança e vigilância que tornam muito difícil cometer hoje, ao menos com métodos semelhantes, um atentado comparável àquele que atingiu as Torres Gêmeas e o Pentágono.

Nada comparável foi feito para evitar a repetição de uma crise financeira de proporções mundiais. Os bancos foram salvos de sua própria incompetência com dinheiro público, a maioria dos responsáveis não foram punidos, as promessas de reduzir a concentração do setor foram esquecidas e as poucas medidas de controle e regulamentação adotadas na época têm sido revogadas. 
Se algo mudou, foi no sentido de reforçar a despreocupação dos financistas. Estão certos de que os governos, depois das consequências da falência do Lehman, nunca mais se atreverão a deixar falir um grande banco. Entretanto, querer não é poder.

Os governos atingidos ainda arcam com o aumento da dívida à qual se obrigaram para resgatar o sistema financeiro e com a compressão de gastos pela “austeridade” imposta a desempregados, minorias e necessitados para garantir os lucros e dividendos dos acionistas dessas corporações.
Se ou quando houver uma nova grande crise internacional, haverá menos gastos a serem cortados e menos espaço para aumento das dívidas públicas. Também haverá menos disposição dos governos a cooperarem para contê-la.
Em 2008, havia no Ocidente pouca contestação à globalização neoliberal, o que, se, por um lado, criou condições para a crise ao esvaziar a supervisão de bancos e facilitar a circulação de fluxos financeiros, também criou um consenso entre os governos sobre o caminho a seguir.
As elites da América do Norte, Europa e Ásia sabiam estar no mesmo barco e precisar agir em conjunto para evitar seu naufrágio – às custas da plebe, naturalmente. Dez anos depois, principalmente por causa das consequências desse resgate sobre o eleitor comum, os egoísmos nacionais e os movimentos isolacionistas estão em alta e as organizações multilaterais desmoralizadas.
Comércio e finanças internacionalizados, talvez mais que há dez anos, combinados com um sistema político cada vez mais fragmentado é uma combinação incendiária, principalmente neste momento.
Os esforços para estimular a economia e minimizar as consequências da crise resultaram em quase dez anos de juros básicos reais negativos e oferta ilimitada de dinheiro pelos bancos centrais dos países ricos.
Em consequência da fraqueza da demanda – consumidores desempregados ou com temor do desemprego relutaram em se endividar, mesmo com juros baixos – e da escassez de inovações tecnológicas capazes de atrair grandes investimentos, boa parte do dinheiro, talvez a maior, foi desperdiçada em especulação improdutiva, da qual o sintoma mais agudo foi a febre da Bitcoin e outras criptomoedas, que atingiu seu pico no final de 2017.
Entretanto, essa conjuntura sem precedentes na história do capitalismo não poderia durar indefinidamente sem pôr em questão os próprios pressupostos do sistema.
No ano passado, considerando não haver mais risco de recessão nos EUA, o Fed começou de novo a aumentar a taxa, de 2% desde junho de 2018.
Embora ainda não supere a inflação do dólar – 2,7% nos 12 meses até agosto, 2,4% esperados para os próximos 12 –, bastou para atrair de volta aos EUA capitais especulativos espalhados pelo mundo e pôr em apuros quem aproveitou a era dos juros negativos para tomar empréstimos.
O primeiro canário na mina, como dizem os economistas (alusão ao costume de mineiros de carvão de ter gaiolas nos túneis para que a morte desses pássaros, muito sensíveis a gases tóxicos, servisse de alarme), foi a Argentina, incapaz de resistir à fuga desses recursos e rolar sua dívida com juros em alta.
O dólar subiu de menos de 15 pesos no início de 2017 para 40 hoje. Buenos Aires recorreu ao FMI, mas há dúvidas sobre se o empréstimo de emergência em discussão basta para dar conta dos pagamentos previstos até o final do ano, quanto mais para 2019. A relação entre a dívida pública e o PIB, que era de 46% no fim do governo de Cristina Kirchner, deve chegar a 111% em dezembro.
Outro possível canário é a Turquia. Enquanto Mauricio Macri conta em tese com a simpatia do governo de Donald Trump e dos economistas ortodoxos por seu rigor neoliberal e alinhamento incondicional com os Estados Unidos, Recep Tayyip Erdogan é aluno rebelde de economia e geopolítica, às turras com Washington e Bruxelas, e um teste da fragmentação do Ocidente, ao qual ainda se supõe pertencer como integrante da Otan.
Até agora, apesar do envolvimento militar na Síria, Ancara resistiu melhor que Buenos Aires, mas pode desencadear uma crise financeira mais grave, dado o comprometimento de bancos europeus com investimentos nesse país, principalmente o espanhol BBVA (também envolvido na Argentina e outros países latino-americanos), seguido pelo italiano Unicredit, de um país cujos sistemas financeiro e político foram especialmente fragilizados pela crise.
Os mercados imobiliários também são armadilhas em potencial. Em Londres, os preços estratosféricos dos imóveis podem cair bruscamente com a perda do status de capital financeira da Europa após o Brexit de março de 2019, salvo um acordo cada vez mais improvável.
Nos EUA, sustentar a recuperação dos preços dos últimos anos parece cada vez mais difícil: os jovens, com dificuldade crescente de pagar as prestações do crédito educativo, não estão em condições de comprar casas próprias e aqueles que conseguiram comprá-las com financiamento imobiliário na era dos juros negativos não querem vendê-las para comprar outras maiores porque isso implica assumir novas dívidas, com juros bem mais altos.
Riscos maiores em dimensão são, porém, aqueles dos investimentos em cadeias de produção ameaçadas pelas guerras comerciais recém-deflagradas.
O risco de dissolução total do Nafta e paralisação de um fluxo comercial de 314 bilhões anuais do México para os EUA e 243 bilhões no sentido contrário foi aparentemente contornado por um acordo que, grosso modo, garante o uso de um porcentual de mão de obra estadunidense sem desmantelar as fábricas instaladas no México, à custa da importação de componentes europeus e asiáticos.
Isso força transnacionais a repensarem suas linhas de produção, e deve encarecer um pouco o produto final, mas não é o fim do mundo. O maior problema é que obter um acordo à custa de ameaças e arrogância encorajou Trump a tentar dobrar a China com a mesma estratégia.
Na segunda-feira 17, a Casa Branca anunciou tarifas de 10%, a serem aumentadas para 25% em janeiro, sobre 200 bilhões anuais de importações de produtos chineses. Somados aos 50 bilhões anteriormente tarifados, isso significa quase a metade dos 505 bilhões de vendas da China aos EUA – e Trump ameaçou tarifar também o restante se Pequim retaliasse.
Xi Jinping fez exatamente isso, tarifando 60 bilhões além dos 50 bilhões de importações de produtos dos EUA anteriormente afetados, ou que representa 85% dos 130 bilhões de 2017.
O governo republicano tem, nesse caso, mais apoio interno. A linha dominante dos democratas defende o Nafta, visto como uma das realizações de Bill Clinton, mas se alinha com as queixas das transnacionais dos EUA sobre concorrência desleal e roubo de propriedade intelectual pelos chineses – e democratas de esquerda como Bernie Sanders, se são menos simpáticos ao Nafta, são ainda mais hostis ao comércio com a China.
Há hoje consenso nos EUA de que a China é a principal ameaça à sua hegemonia e precisa ser enquadrada. Como no século XIX, trata-se de forçar a abertura de seus portos e desarmar sua estratégia protecionista, a mesma que fez dos EUA, da Alemanha e do Japão países ricos e poderosos.
Por outro lado, a China não está disposta a ceder – e mesmo se lhe faltam mais importações dos EUA a tarifar, tem outras maneiras de retaliar, incluindo despejar no mercado trilhões em títulos do Tesouro em suas mãos, sabotar a diplomacia e estratégia internacional de Washington e cortar o fornecimento de insumos cruciais para empresas dos EUA.
Para Pequim, não é uma questão de toma-lá-dá-cá, mas de preservar o desenvolvimento, o prestígio internacional e o próprio regime, ameaçado tanto pela pressão popular por melhores salários e condições de trabalho quanto pelo crescente endividamento interno, parte desconhecida do qual referente a créditos podres de bancos a projetos industriais e de infraestrutura malsucedidos ou golpeados pela crise internacional.
confronto pode durar anos e desorganizar o comércio internacional de forma muito mais extensa do que qualquer outra disputa imaginável – exatamente o contrário do que aconteceu em 2008, quando estava na moda o conceito de “Chimérica” (simbiose entre China e EUA), Pequim amenizava os riscos para o sistema financeiro comprando títulos e seu crescimento reduzia ou adiava o impacto da crise sobre os exportadores de matérias-primas.
Uma crise hoje é tão provável quanto há dez anos e mais perigosa, porque é muito provável que, desta vez, as grandes nações disparem entre si em vez de buscar uma saída comum.