Olá alunos.
A notícia de hoje é, na realidade, uma interessante coluna do economista Paulo Nogueira Jr. à CartaCapital.
Esperamos que gostem e participem,
Lauro HCMSJr é monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
Começo hoje uma coluna quinzenal em CartaCapital. Vou começar light, falando
sobre a “turma da bufunfa”. O leitor já ouviu falar? Trata-se da minha principal,
talvez única, contribuição à literatura econômica. Ainda não ganhou, entretanto,
reconhecimento universal. Ofereço uma definição sintética: a turma da bufunfa é um
agrupamento, razoavelmente estruturado, que se dedica a fomentar, proteger e
cultuar o vil metal. O seu núcleo duro é composto de banqueiros, financistas e
rentistas. Na periferia figuram os economistas, jornalistas e outros profissionais.
Os economistas são os sacerdotes do culto, encarregados de suprir a
fundamentação metafísica para as atividades da turma. O fenômeno é antigo. John
Kenneth Galbraith explicava que a teoria econômica moderna, ensinada como
ciência, tinha também o que ele chamou de “função instrumental”, isto é, a de
confirmar e reforçar os pressupostos dos círculos dominantes da sociedade. Muito
antes dele, os marxistas denunciavam o caráter ideológico e “de classe” da
economia política.
Nas décadas recentes, o fenômeno adquiriu, porém, dimensão estarrecedora. A
turma da bufunfa inchou de maneira medonha. As instituições financeiras tornaram-se o centro do poder e da apropriação de riqueza. Em outras palavras, estabeleceu-se
a hegemonia avassaladora do capital financeiro.
Antes de prosseguir, faço uma pequena pausa. Gosto de descrever física e
espiritualmente os meus personagens. Os “bufunfeiros”, leitor, se parecem muito
uns com os outros. São, eu diria, intercambiáveis. Primeiro traço geral: são gordos,
no mínimo balofos, e não raro obesos. Mas são gordos de um tipo muito singular. É
que, normalmente, as banhas predispõem aos aconchegos, ao carinho, à
conciliação e ao bom humor. No caso em tela, as banhas não têm esses efeitos
salutares. Os bufunfeiros são quase sempre sisudos, cinzentos, intolerantes. Não
se lhes ouve uma piada ou mesmo um simples gracejo.
O maior elogio que se pode fazer a um economista bufunfeiro é dizer que ele é
“sério” e “bem treinado”. Para merecer esses qualificativos o economista se esmera
em repetir fórmulas áridas e teses respeitáveis. Frases prontas substituem a
necessidade de pensar. O mesmo encadeamento de palavras, sempre o mesmo, e
em tom sentencioso produz na opinião pública um efeito quase hipnótico.
Paro e releio o que escrevi até agora. Está ficando um pouco vago e abstrato.
Hesito. Devo dar nome aos bois? Ou deixá-los tranquilos no pasto? Na última vez
em que nomeei bois a boiada estourou para cima de mim. Cortaram a minha coluna
no Globo. Em CartaCapital, sinto-me mais protegido. E toda exposição teórica,
convenhamos, precisa de exemplificação.
Vejamos. Um bom exemplo seria o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn.
Para começar, o seu visual obedece ao figurino e a boca mole balbucia,
monotonamente, os chavões que o mercado espera. Recentemente, tive a
curiosidade de tentar descobrir o que pensa e o que diz o chefe do nosso BC. Terá
publicado algo interessante? Nada encontrei de substancial. O seu discurso e seus
textos intercalam homenagens ao Conselheiro Acácio com a repetição mecânica da
vulgata ortodoxa.
Antigamente, valia a pena ler economistas conservadores, como Eugênio Gudin,
Otávio Gouveia de Bulhões, Mário Henrique Simonsen, Roberto Campos. Sempre
se aprendia algo. Encontravam-se capacidade analítica, ironia, cultura, polêmica
inteligente e, pasmem, até espírito público. Os economistas bufunfeiros atuais não
oferecem nada disso. Um deles, outro dia, seguia distraído, quando de repente
tropeçou numa ideia. Recompôs-se rapidamente, olhou para o lado temendo
testemunhas e retomou o seu caminho, imperturbável.
Conto, para encerrar, um pequeno episódio. Há alguns anos, fui almoçar no Itaú, a
convite do então presidente do banco, Olavo Setubal. Estava presente um
economista, chefe do departamento econômico. A certa altura, baixou a falta de
assunto. Perguntei então o que ele sabia de dois economistas nomeados havia
pouco para a diretoria do Banco Central. O economista explicou, sem qualquer
ironia, que um deles era economista sério, treinado nos EUA. O outro também, só
que tinha “umas ideias” de vez em quando...
Para a turma da bufunfa, ideias são fonte de inquietação, sintomas de rebeldia.
A coluna do sr. Paulo Nogueira Jr. encontra-se na revista CartaCapital, Edição 985, de 10 de janeiro de 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário