Olá alunos.
A notícia de hoje analisa, sobre múltiplas perspectivas, alguns aspectos das novas relações sociais de trabalho, sobretudo destacando a possibilidade de se discutir relações de trabalho que perpassam por um salário, mas sem a necessidade de pensa-las, na prática, como se fossem de subordinação entre patrão e empregado.
Gostaríamos de agradecer a colaboração do Grupo 4 Integral - Rebeca Neves, Larissa de Souza, Caio Augusto, Larissa Macedo e Lucas Vignoli - pela contribuição da notícia.
Esperamos que gostem e participem,
Ramon Reis e Lauro Monteiro, monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
É raro ver
trabalhadores reivindicando uma relação de submissão com seus patrões. No
entanto, os condutores de veículos particulares que trabalham em conjunto com
as plataformas digitais, como o Uber, empunharam essa bandeira na França. Eles
querem sair da situação de autônomos para poder contar com direitos sociais,
argumentando que, na verdade, dependem de um empregador ao qual são
subordinados. “Começa uma nova batalha legal em torno do Uber”, destaca o
jornal econômico Les Échos. “A Urssaf [União de Cobrança das Contribuições de
Previdência Social e Alocações Familiares] está processando a plataforma para
reclassificar seus motoristas como empregados, [pois] há uma ‘relação de
subordinação’ entre eles e a plataforma.”
Quase nem
nos lembramos disso, mas os empregados pagam de duas formas as proteções e
garantias relacionadas a seu estatuto de empregados: em dinheiro – suas
contribuições ajudam a cobrir direitos como seguro-saúde, aposentadoria,
programas de treinamento etc. – e in natura – eles são forçados a aceitar a
obrigação de subordinação que os acompanha por toda sua carreira, mantendo-os
em um estado de submissão aos superiores hierárquicos.
Para ter
direito ao estatuto de empregado, na iniciativa privada, e de funcionário, no
setor público, o trabalhador deve comprometer-se a atuar no contexto bastante
específico de uma subordinação permanente, isto é, da obediência aos
representantes da empresa ou órgão, que está no cerne do contrato salarial.
Mas, por causa dos direitos a ele relacionados, o estatuto de subordinado
parece vantajoso e até desejável, como mostra o citado exemplo dos motoristas
ou o dos trabalhadores que se mobilizam para não serem expulsos, empreendendo
longas lutas, às vezes muito violentas, contra os planos de demissões. Essa energia
do desespero em reclamar a perenidade do emprego, mesmo que submetido à dura
realidade do trabalho subordinado, marcou o movimento social – pensemos na luta
dos empregados da Conti, da Goodyear, da PSA Aulnay etc.
No
entanto, não faz muito tempo, essa condição de empregado era rejeitada por quem
sonhava com uma sociedade do trabalho emancipadora, na qual os trabalhadores
não precisariam submeter-se à exploração e à alienação. Hoje considerada uma
espécie de fatalidade, tal condição justifica o sacrifício necessário para
assegurar um mínimo de garantias sobre o futuro: um salário, acesso aos
cuidados de saúde, auxílio em caso de desemprego, além da possibilidade de uma
inserção social e cidadã na sociedade, bem como a participação em uma
comunidade de trabalho que faça algum sentido. A subordinação, essa forma de
renúncia de si mesmo, tornou-se mais que nunca um investimento, que deveria
proteger contra a precariedade material e a perda da autoestima.
Embora
essa condição se imponha cada vez mais como “natural”, inevitável, ela se
revela, na realidade, cada vez mais incômoda. Prova disso é a extensão do
sofrimento no trabalho, que se tornou onipresente. Tal degradação precisa ser
relacionada à individualização crescente da relação assalariada.
Após as
grandes greves de 1968 e a contestação maciça da ordem social taylorista, os
empregadores passaram a tentar atomizar o corpo social das empresas e a
personalizar a relação com o trabalho. Essa política de gestão derrotou aos
poucos os coletivos onde se construía clandestinamente uma identidade de
produtores com suas próprias regras de dignidade e reconhecimento, seus valores
alheios aos da hierarquia. Hoje, os trabalhadores precisam enfrentar sua
condição de empregado assalariado de modo cada vez mais solitário.
Ora,
quanto mais a subordinação é individualizada e personalizada, mais difícil de
suportar ela se torna. Mais crua, mais perturbadora, quase obscena, ela já não
se inscreve em experiências coletivas, afetando diretamente a pessoa para além
do trabalhador. A gestão foca cada vez mais a dimensão íntima do indivíduo, em
detrimento de sua dimensão profissional, isto é, bem mais suas habilidades
interpessoais do que o conhecimento e o ofício, dimensões inerentemente mais
coletivas. Os objetivos definidos pelos superiores e a avaliação de cada
empregado são altamente individualizados, solicitando explicitamente seu
envolvimento subjetivo, emocional, afetivo, em um contexto de concorrência
sistemática. Os trabalhadores são convidados a ser ambiciosos, apaixonados, a
mostrar seu talento, a se comprometer profundamente e, até, a surpreender seus
superiores. Um ex-gestor da France Télécom me contou que definiu a seguinte
meta para um de seus subordinados: “Tornar possível o impossível”.
Não é
exatamente o profissional, dotado de certo tipo de qualificação, que é
subordinado no exercício de seu trabalho, ao lado de seus colegas: é uma pessoa
específica, com suas aspirações, desejos, necessidades, que se torna objeto de
uma consideração muito particular por parte de seus superiores e dos
departamentos de recursos humanos (DRH) – os quais já não hesitam em se
redefinir, em algumas empresas, como “DRH da benevolência e da felicidade”,
sendo assistidos por um chief happiness officer (textualmente!).
Códigos de ética para empregados “virtuosos”
Se, de um lado, as decisões de organização do trabalho e de gestão dos
empregados são tomadas a montante, em bases financeiras, abstratas e anônimas,
de outro, os empregados são solicitados, no contexto de sua atividade, de
maneira muito pessoal. Trata-se, diante de objetivos cada vez mais exigentes,
de provar sua lealdade, seu engajamento, sua adesão à causa da empresa. Os
gestores jogam com a necessidade de reconhecimento de seus empregados por meio
de uma gestão dos afetos e das emoções, cujos recursos alimentam toda uma
literatura.
No
entanto, esse não é o único paradoxo: solicita-se a esses empregados, em
entrevistas de avaliação, que sejam intuitivos, audaciosos, ágeis, autônomos e
responsáveis; contudo, em seu cotidiano de trabalho, são impostos
procedimentos, protocolos, processos, metodologias, “boas práticas”, isto é,
formas de trabalho abstratas e uniformes inventadas por consultores
especialistas de grandes consultorias internacionais que ministram de fora as
balizas da prática – são os “planejadores”, nas palavras de Marie-Anne
Dujarier.
Assim, a
subordinação concretiza-se por meio desses dispositivos que prendem os
empregados e os obrigam a trabalhar segundo critérios de desempenho e objetivos
decididos unilateralmente. Ela se manifesta como uma negação de suas
capacidades profissionais (ou profissionalismo), que poderiam legitimar sua
vontade de expressar outra visão do trabalho. Em uma reunião de um grupo de
discussão de gestores de alto nível, ouvi um deles, que nem era tão alto assim,
afirmar, com um impressionante suspiro: “Para mim, o grande problema é que em
nossa empresa todos os empregados estão convencidos, com o pretexto de que
estão lá há muitos anos, que sabem mais sobre seu trabalho do que eu!”. E todos
os outros afirmaram em alto e bom som que com eles era a mesma coisa. Os
gestores estavam indignados com a pretensão dos trabalhadores de que estes
conheceriam seu trabalho, e sua preocupação era, acima de tudo, conseguir
convencer os empregados de que deveriam confiar nas instruções dadas e se
conformar aos métodos pensados para eles, sem eles. É a mesma lógica que leva
os diretores de hospitais a quererem impor “boas práticas” aos médicos – o que
chega ao ponto de definir o número de minutos a ser dedicado a cada paciente.
Esses
empregados forçados a trabalhar segundo métodos que podem entrar em contradição
com seus valores profissionais e morais são “apoiados” por códigos de ética e
conduta, conjuntos de valores elaborados pela direção. Esses documentos colocam
em cena um empregado “virtuoso”, ou seja, disponível, leal, móvel, flexível,
comprometido com a excelência e profundamente engajado, corajoso e disposto a
desafiar-se, a assumir riscos. “O diktat da moda é: ‘Saia de sua zona de
conforto’. […] Poderíamos chamar de comfortless management. […] Eis a panaceia,
o ápice, o motor da criatividade, o trampolim para superar os desafios.”
O
empregado deve, portanto, mobilizar integralmente sua pessoa, no plano
cognitivo e emocional, a fim de alcançar objetivos que não teve a oportunidade
de discutir, com recursos que lhe foram impostos e utilizando procedimentos
inegociáveis, sob o risco de parecer não adaptado, incompetente, de má vontade,
melindroso e, por fim, decepcionante, sem valor e sem interesse. Muitas entrevistas
realizadas em empresas evidenciam o sentimento de solidão e autodesvalorização
que pode sobrecarregar os empregados após uma entrevista de avaliação: “Eles
estão certos, eu sou um inútil”, confessou para mim um gerente (ex-aluno da
École Polytechnique) de um grande banco.
As
intermináveis reestruturações dos departamentos e serviços, as constantes
mudanças de software, as várias recomposições das funções, as sistemáticas
mobilidades impostas, as terceirizações em cascata, os sucessivos
deslocamentos, tudo isso borra os referenciais e mergulha os empregados em uma
precarização subjetiva. Os profissionais, sejam quais forem, são
permanentemente reduzidos à categoria de aprendizes. Eles precisam de novo e de
novo provar a si mesmos e se esgotam procurando reconstruir um mínimo de
controle sobre seu ambiente de trabalho.
Essa
estratégia de gestão torna obsoletos seu conhecimento e sua experiência. Ela os
mergulha em um estado de dependência quanto aos procedimentos, às boas práticas
etc., concebidos para eles e os quais eles não têm legitimidade para contestar,
pois estão na condição de aprendizes eternos. Desse modo, precisam conectar-se
com tais procedimentos, que lhes servem de salva-vidas em um contexto no qual
ninguém pode contar com a ajuda de ninguém, já que todos estão presos dentro da
mesma lógica.6 Isso explica a amplitude do consumo de substâncias como álcool,
drogas e tranquilizantes no local de trabalho, para aguentar o tranco.
Esse mundo do emprego apavora os jovens, desespera os mais velhos, cansa os que
já chegaram aos 40. Romances, filmes, peças de teatro e documentários enfocam o
sofrimento, o desconforto, as terríveis frustrações e dramas que o habitam.
Lançado no ano passado, o filme Corporate, um thriller dirigido por Nicolas
Silhol, expõe, por meio do suicídio de um empregado, a violência gerencial. Os
meios de comunicação relatam suicídios, e as políticas públicas enumeram
medidas contra os riscos psicossociais. Os sindicatos denunciam o assédio, as
pressões que levam ao burnout, mas não questionam a subordinação. Esta parece
inexorável.
Há quem
acredite, inclusive, que, no contexto da guerra econômica incessantemente
lembrada, é necessário pedir ainda mais ao empregado já constrangido pela
subordinação: aumentar as horas de trabalho, reduzir o efetivo (especialmente
no setor público) e aumentar a idade mínima para se aposentar. É essa a posição
do Movimento das Empresas da França (Medef), que deseja reduzir as
contrapartidas da subordinação, defendendo o enxugamento da legislação trabalhista,
considerada excessivamente complexa e, sobretudo, excessivamente protetora dos
empregados; a redução do papel dos médicos e inspetores de trabalho; e a
diminuição dos direitos das comissões de saúde e segurança.
É nesse
sentido que podemos interpretar a Lei El Khomri, que, recomendando medidas como
a inversão da hierarquia das normas, enfraquece os empregados na relação de
forças e na negociação. Para o Partido Socialista, impor às diretorias das
empresas limites de poder e autoridade seria algo “ultrapassado” e,
especialmente, traria o risco de prejudicar o desempenho no trabalho, que só
poderia ser incrementado em um contexto mais liberal. O partido se rendeu,
portanto, à ideologia patronal, considerando que é necessário basear-se em uma
desconfiança a priori em relação aos empregados e encontrar arranjos
organizacionais capazes de contê-los, colocando-os sempre em uma posição de
restrição.
A nova lei
sobre o trabalho prevista na França para este verão, sob a presidência de
Emmanuel Macron, vai nesse sentido: “libertar” as diretorias das empresas da
rigidez que as impede de demitir e contratar, bem como de negociar as condições
de trabalho e emprego nos níveis mais locais, aqueles em que a negociação é
precisamente a menos vantajosa para os empregados…
Aos antípodas do empreendedorismo
Outros reivindicam um enfraquecimento do lugar tomado pela relação de
assalariamento na sociedade, por meio da redução das horas de trabalho (é
particularmente a reivindicação do Partido Comunista Francês) ou da introdução
da renda universal, que permitiria aos indivíduos não depender exclusivamente
do salário (como defendia Benoît Hamon, candidato socialista nas eleições
presidenciais). Desse ponto de vista, trata-se de afrouxar gradualmente o jugo
do trabalho assalariado, reduzindo sua envergadura e o lugar que ele ocupa na
vida dos indivíduos; de limitar, quantitativamente, a influência dos
constrangimentos que o definem.
Paradoxalmente,
essa visão é compartilhada pelas direções de empresa que gostariam, a fim de
tornar mais leves suas “despesas” e responsabilidades, de mobilizar cada vez
mais trabalhadores fora da lógica do salário. À sua maneira, essas companhias
procuram reduzir o “jugo” que representam para elas os direitos e garantias que
constituem o outro lado da relação assalariada. Assim, esforçam-se para
desenvolver competências dos indivíduos “que lhes permitam assumir a si
próprios”, a enfrentar por conta própria os riscos, sem deixar de prendê-los
com imposições suficientemente fortes para garantir o lucro. Isso ocorre sob a
forma do autoempreendedorismo e, particularmente, da economia de plataforma
digital (como o Uber). Esses trabalhadores, apresentados como amantes da
liberdade e da aventura, da ousadia e da flexibilidade, veem-se diante de
imposições bastante específicas em termos de equipamentos (carro, bicicleta),
vestuário e até roteiros de interação verbal, que são obrigados a respeitar sob
pena de multa. As plataformas também estabelecem os preços a serem cobrados e
recebem avaliações dos clientes, não hesitando em punir os trabalhadores,
recorrendo, portanto, a um poder disciplinar.9 Por mais independentes que
pareçam ser, os “parceiros” da plataforma Deliveroo, por exemplo, são multados
caso recusem mais de três chamadas de serviço durante seu horário de trabalho.
Regra semelhante existe para os motoristas do Uber, embora sejam eles mesmos
que devam pagar os impostos referentes à atividade, as contribuições sociais, a
gasolina e o carro…
Ocorre que
87% dos trabalhadores em atividade são assalariados. Portanto, é espantoso que
seja sistematicamente ignorada a via de modernização que consistiria em manter
(ou até fortalecer) os aspectos positivos do assalariamento, libertando-o dessa
dimensão alienante que é a subordinação.
Por que
não mirar essa coerção arcaica e ilegítima da subordinação, que é fonte de
sofrimento e não contribui, muito longe disso, para a qualidade ou eficiência
do trabalho? Por que não desconectar a subordinação das garantias e proteções
sociais, mesmo que elas tenham se constituído juntas?
Até o
patronato começou a pensar sobre isso. Na verdade, ele tem consciência das
limitações dos métodos de gestão atuais, que se revelam ineficazes para
garantir o desempenho das empresas francesas diante da concorrência. Estas não
podem, de modo algum, tentar vencer a competição pelo custo: nunca serão
capazes de superar as empresas dos países em desenvolvimento com baixo custo de
mão de obra. Portanto, precisam apostar na qualidade do engajamento dos
empregados, em sua inteligência e experiência coletiva, em sua força
propositiva, para melhorar as condições de trabalho, para dar realmente lugar à
renovação das ideias, dos produtos, para satisfazer de maneira autêntica as
necessidades dos consumidores e integrar outros imperativos, além da rentabilidade
a curto prazo.
Existe, há
algum tempo, uma corrente que se diz detentora de inovações significativas
nesse sentido. São as empresas “libertas”, que ficaram conhecidas do grande
público por meio do documentário Le Bonheur au travail [A felicidade no trabalho],
dirigido por Martin Meissonnier e transmitido pelo canal francês Arte, no final
de 2014. Desde então, o termo “empresas libertas” (que alguns passaram a
rebatizar como “libertadoras”) ganhou espaço. Essas empresas colocam em prática
a horizontalidade, a holacracia (organização em círculos de decisão), os
métodos “ágeis”, a redução da linha hierárquica etc. Essas práticas refletiriam
sua premissa básica: a confiança a priori nos empregados, a qual permite que
eles se autodirijam. Algumas servem de modelo: o Ministério da Previdência
Social da Bélgica, a Favi, a Poult, a Chronoflex, a Harley-Davidson etc. Elas
inspiram muitos gestores de grandes empresas que se consideram “libertados” –
parece que é o caso, até, de algumas agências do Pole Emploi [entidade francesa
de apoio ao emprego].
Essencialmente,
porém, o rótulo é concebido e aplicado pelos dirigentes de tais empresas, e
praticamente não há pesquisas sociológicas aprofundadas sobre esses métodos
organizacionais. Considerando as experiências anteriores, temos o direito de
nos perguntar se não estamos diante da enésima inovação gerencial destinada a
convencer os empregados da boa-vontade dos dirigentes de empresa e de sua
capacidade de fazer a diferença nos recursos humanos.
A ênfase
na capacidade de auto-organização dos empregados, neste momento, teria o
objetivo de economizar uma grande fatia da hierarquia intermediária. Os
dirigentes apostam que os empregados estão suficientemente balizados pelas
“boas práticas” ou protocolos, e suficientemente convencidos da eficácia desses
dispositivos, de modo a não precisarem mais de gestores próximos, remunerados
para fazer o papel de enquadrá-los.
As
condições da “libertação do trabalho” não podem ser unilateralmente decretadas
pelos dirigentes, mesmo que eles se considerem no direito de representar,
sozinhos, a empresa. É significativo que o Centro Nacional do Patronato Francês
(CNPF) tenha mudado de nome, em 1998, passando a se chamar Movimento das
Empresas da França (Medef). Até o momento, a modernização da iniciativa de
gestão (seja sob a forma de empresas “libertas” ou das plataformas digitais)
consiste, sobretudo, em transferir aos trabalhadores uma série de encargos e
responsabilidades que antes recaíam sobre os empregadores, sem, no entanto,
afrouxar as limitações impostas pela subordinação.
Uma
contribuição real dos empregados na definição de seus métodos de trabalho e dos
critérios de desempenho que determinam esse trabalho supõe que se reconheça a
esses trabalhadores o direito e a legitimidade de desenvolverem uma relação, em
seu trabalho e em sua empresa, baseada no profissionalismo e na experiência.
Essa é a condição indispensável para libertar a inventividade, a criatividade,
a agilidade, que fazem tanta falta, e também para romper com o mal-estar que
acompanha a organização do trabalho infantilizadora e desrespeitosa da gestão
moderna em suas várias formas.
Digamos já
que não existe, no presente, um modelo alternativo no qual seja possível nos
basearmos para avançar. Ele precisa ser inventado. Isso só pode ser feito com a
mobilização da inteligência coletiva dos empregados em seus locais de trabalho
– em outras palavras, fora do contexto de subordinação que paralisa e anestesia
qualquer vontade de inovar, em razão da espada de Dâmocles que pende sobre a
cabeça de cada empregado. E não pode ser feito em empresas que estejam
separadas do público a que se destinam os bens e os serviços produzidos.
Assim, é
possível imaginar a instauração de conselhos corporativos nos quais sentariam
não apenas empregados na condição de profissionais, mas também representantes
dos consumidores e dos cidadãos imbuídos de preocupações ambientais que
deveriam contribuir para a definição da qualidade dos bens e serviços, cientes
das condições de sua produção.
Para que o
trabalho constitua uma atividade socializadora e cidadã, para que crie empregos
e alimente lógicas de consumo respeitosas em relação às pessoas e à natureza, é
imperativo começar a olhar a subordinação por outro prisma e
“desnaturalizá-la”.
Pode-se
dizer que isso é irreal e utópico, e que é preciso ter a “coragem do
pragmatismo”. Isso seria ignorar que nossa realidade decorre de uma série de
construções e escolhas sociais anteriores. Inventar outras realidades é
legítimo, possível e urgente.
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