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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O raio-X dos investimentos da China no Brasil




Olá alunos,

A matéria de hoje tem o intuito de mostrar como a economia chinesa vem influenciando o mercado econômico internacional e como isso pode influenciar o mercado brasileiro.

Gostaríamos de agradecer ao grupo 1 do turno noturno, responsável pela contribuição da notícia. Parabenizamos os alunos Bruno Henrique, Carol, Karina Moraes, Bruna e Douglas pela excelente colaboração!

Esperamos que gostem e participem.
Ramon Reis e Lauro Monteiro, monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.

Principal parceiro comercial brasileira desde 2009, quando superou os Estados Unidos, a China não vem poupando esforços para estreitar laços com o Brasil.
O país em crise deu novo alento a esse movimento. Com dinheiro de sobra e maior propensão ao risco, o gigante asiático viu no Brasil uma grande oportunidade para ampliar seus negócios - e melhor, gastando menos.
Só neste ano, segundo dados da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, eles planejam investir mais de US$ 20 bilhões na compra de ativos brasileiros - 87% mais do que no ano passado.
O apetite é tão forte que o Brasil se transformou no segundo maior destino de investimentos chineses em infraestrutura no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Desde 2015, um levantamento das consultorias AT Kearney e Dealogic mostrou que a China comprou 21 empresas brasileiras, gastando um total de US$ 21 bilhões.
No ano passado, por exemplo, só o setor de energia, de acordo com o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), respondeu por quase 80% de todos os investimentos confirmados. As gigantes chinesas State Grid e China Three Gorges compraram, respectivamente, a CPFL e a Duke Energy, em transações bilionárias. Já a China Communications Construction Company (CCCC) adquiriu a construtora Concremat e o Shanghai Pengxin Group arrematou mais da metade da empresa de trading e processamento de grãos Fiagril.
Por trás dessa lógica, está a estratégia da China de continuar buscando meios para sustentar seu crescimento - apesar de ter, recentemente, registrado índices inferiores aos do passado, o país ainda é considerado o motor da economia global.
Neste sentido, não surpreende a intenção do governo Temer de vender aos chineses projetos de concessões e privatizações no Brasil, foco da visita que o presidente faz a Pequim. Na sequência, o presidente participa da cúpula dos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do sul) em Xiamen, no sudeste do país.
No ano passado, segundo dados do CEBC, dos 16 projetos anunciados pelos chineses, totalizando US$ 12,5 bilhões, 12 deles - ou US$ 8,4 bilhões - foram confirmados.
"O montante supera o de 2015 e aprofunda a tendência iniciada naquele ano, momento em que começou a ser notável o crescimento do valor investido por empresas chinesas no país", diz o relatório "Investimentos Chineses no Brasil 2016", publicado anualmente pelo CEBC.

'Quarta onda'

O atual movimento dos asiáticos no Brasil é considerado por analistas como a quarta onda de investimentos chineses no Brasil.
Iniciada em 2015, essa nova fase é caracterizada não apenas pelo aumento do valor investido, mas também pelo tipo de projetos nos quais as empresas têm focado sua atuação.
Naquele ano, as compras feitas pela China atingiram o patamar mais alto da história, ultrapassando o valor de US$ 60 bilhões, de acordo com um levantamento da consultoria Rhodium Group.
Na esteira do que vinha acontecendo no mundo, o Brasil também recebeu mais investimentos dos chineses, que passaram a focar mais na área de produção e transmissão de energia elétrica. O agronegócio também não foi deixado de lado.

Fusões e aquisições

Outra mudança se deu em relação ao modo de ingresso das companhias chinesas no Brasil, assinala Tulio Cariello, coordenador de pesquisa e análise do CEBC.
Desde 2014, a China vem optando por operações fundamentadas em fusões e aquisições (conhecida pela sigla M&A, em inglês) de empresas que já atuam no Brasil, sejam elas nacionais ou estrangeiras.
"Esse tipo de entrada tem sido a mais usual entre a maioria dos projetos chineses no país. Isso porque essas empresas não só conhecem o mercado, mas já sabem lidar com a burocracia brasileira. São ativos que tendem a oferecer menos riscos e garantir maior eficiência", explica Cariello.
Ele acrescenta que essa é uma das razões pelas quais, no passado, muitos dos investimentos chineses anunciados não se confirmarem. Esse foi o caso, por exemplo, de 2010, quando dos quase US$ 36 bilhões de investimentos anunciados, apenas US$ 13 bilhões, ou um terço do total, realmente se materializaram.
Além disso, Cariello cita outros fatores para a crescente taxa de efetivação do investimento chinês.
Em primeiro lugar, as empresas chinesas - a maioria controlada pelo Estado - que hoje investem no Brasil, por exemplo, se beneficiam da experiência obtida por aquelas que chegaram antes. Em segundo, bancos do gigante asiático, que dão respaldo a investimentos e comércio bilateral, também já operam no país. Por fim, a China montou um escritório de sua agência de promoção comercial em São Paulo, o CCPIT (China Council for the Promotion of International Trade), com o objetivo de auxiliar empresas que queiram investir no Brasil.

Histórico

Segundo o CEBC, durante a primeira leva de investimentos no Brasil, a China priorizou investimentos em atividades diretamente ligadas às commodities (matérias-primas), o principal produto brasileiro exportado ao gigante asiático. Um exemplo emblemático disso foi a compra de 40% das operações brasileiras da espanhola Repsol pela estatal chinesa Sinopec.
Em um segundo momento, entre 2011 e 2013, as empresas chinesas miraram novas oportunidades na área industrial, especialmente nos setores de máquinas e equipamentos, automotivos e aparelhos eletrônicos, vislumbrando o mercado consumidor interno brasileiro. O bom momento da economia e o mercado doméstico em expansão se tornaram uma combinação perfeita para a chegada de companhias como a Sany (máquinas e equipamentos) e Chery (automóveis), além da ampliação daquelas já estabelecidas no país, como Huawei e Lenovo (eletrônicos e comunicação).
A terceira fase de investimentos, por sua vez, começa por volta de 2013 e é marcada pelo interesse chinês no setor de serviços, principalmente no campo financeiro. Naquele momento, bancos chineses se estabeleceram no país ou adquiriram participação acionária em bancos brasileiros ou internacionais já em operação no Brasil.
O objetivo era apoiar a internacionalização do yuan (a moeda chinesa) além de oferecer respaldo ao comércio e aos investimentos bilaterais. A entrada no mercado brasileiro do ICBC (Industrial and Commercial Bank of China), por meio de um investimento inicial de US$ 100 bilhões, caracterizou esse período.
No ano passado, dentre os projetos confirmados, o setor de energia liderou os investimentos chineses no Brasil, seguido por siderurgia e mineração.
Já a região Sudeste (56%) respondeu por mais da metade dos empreendimentos do gigante asiático em território nacional, seguido pelo Nordeste (17%) e pelo Centro-Oeste (17%). Sul e Norte atraíram 6% dos investimentos.
Na análise por Estado, São Paulo liderou a lista, somando 44% de todos os investimentos no país. Rio de Janeiro, Goiás, Maranhão, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Ceará e Amazonas ficaram entre as Unidades da Federação melhor posicionadas quanto ao interesse dos chineses.


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