Olá alunos,
A notícia de hoje fala sobre a "financeirização" precoce, fenômeno que é apontado pela ONU como um estímulo a desemprego e desigualdade.
Agradecemos a notícia sugerida pelos alunos: Juliana Costa, Carlos Leandro, Flora Carneiro, Gabriel Monteiro, João Pedro, Pedro Ramos, Thais Petrillo, Victor Santilli, Isabelle Fritz, e Marina Castro.
Esperamos que gostem e participem.
Palloma Borges, monitora da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
Na quarta-feira 19, o Banco Central baixou seu juro pela
primeira vez desde outubro de 2012. A taxa, uma das mais importantes da
economia, a influenciar o custo dos empréstimos de norte a sul e o tamanho da
dívida do governo, agora vale 14% ao ano. Um patamar incapaz de tirar o Brasil
do topo do ranking da usura mundial.
O País convive há tanto tempo com juros de agiota, desde os anos 1990,
que fica fácil de entender uma das conclusões do mais recente relatório anual
da agência das Nações Unidas dedicada a temas comerciais e de desenvolvimento,
a Unctad. O Brasil vive precocemente a “financeirização” econômica, mais comum em
países desenvolvidos como Estados Unidos e certos europeus.
O fenômeno significa a economia do país girar cada vez mais em função do
sistema financeiro e das decisões de banqueiros. Até empresas de outros ramos,
como fábricas e lojas, passam a buscar crescentemente lucros no “mercado” e a
dar menos importância a suas atividades originais.
De 1995 a 2002, as empresas nacionais investiram em seus negócios o
equivalente a 178% de seus lucros, informa o relatório da Unctad, de setembro.
De 2009 a 2014, foram 79%. A diferença provavelmente virou aplicação
financeira. No primeiro período estudado, os ativos financeiros representavam
7% dos ativos das empresas. No seguinte, 11%.
Não surpreende a fatia da indústria no PIB ter caído –
constatação da Unctad - de 27% nos anos 1970 para 11% em 2014. Segundo o
organismo, a “financeirização” é um fenômeno de efeitos negativos, já vistos em
nações avançadas. Exemplos: aumento das desigualdades de renda e do desemprego,
queda da demanda, bolhas financeiras.
Uma forma de reverter isso, conforme a entidade, seria os governos
obrigarem as empresas a reinvestirem seus lucros em atividades produtivas
sempre que elas recebessem algum incentivo fiscal. Por aqui, seria um baita
desafio, a julgar pela profundidade da “financeirização”.
“O Brasil é um país rentista.
Nosso empresariado precisa de taxa de juros altas, é um componente fundamental
da política econômica”, diz o sociólogo Adalberto Cardoso, diretor do Instituto
de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (UERJ).
O trem da alegria no mundo finanças proporciona situações curiosas. O
País enfrenta desde 2015 uma grave crises econômica, dois anos de recessão de
uns 3%. E, mesmo assim, o Itaú lucrou no ano passado 23 bilhões de reais,
recorde bancário no Brasil, e já acumulou outros 10 bilhões no primeiro
semestre de 2016. Idem para o Bradesco: 17 bilhões em 2015, 8 bilhões no
semestre.
O magnetismo do “mercado” seduz todos os endinheirados brasileiros. O
presidente Michel Temer declarou à Justiça Eleitoral na campanha de 2014 um
patrimônio de 7,5 milhões de reais, dos quais 2,2 milhões (30% do total)
estavam aplicados em CDB no Santander.
Outra pista do poder sedutor das finanças. É possível um cidadão comprar
títulos públicos do Tesouro Nacional sem intermediários, em troca dos altos
juros pagos. É uma aplicação chamada Tesouro Direto.
Em janeiro de 2013, dois meses após o Banco Central ter feito a última
redução de o juro até a da quarta-feira 19, havia 334 mil pessoas no Tesouro Direto. Agora, são 930 mil. A maioria
homens de 26 a 45 anos e moradores da região Sudeste. Juntos, eles têm aplicado
35 bilhões de reais.
Para quem tem dinheiro, o Brasil é a terra prometida. Para quem não
tem...