web counter free

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O BC corta juro, mas o Brasil vive 'financeirização' precoce


Olá alunos, 

A notícia de hoje fala sobre a "financeirização" precoce, fenômeno que é apontado pela ONU como um estímulo a desemprego e desigualdade. 

Agradecemos a notícia sugerida pelos alunos: Juliana Costa, Carlos Leandro, Flora Carneiro, Gabriel Monteiro, João Pedro, Pedro Ramos, Thais Petrillo, Victor Santilli, Isabelle Fritz, e Marina Castro.

Esperamos que gostem e participem. 
Palloma Borges, monitora da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense. 

Na quarta-feira 19, o Banco Central baixou seu juro pela primeira vez desde outubro de 2012. A taxa, uma das mais importantes da economia, a influenciar o custo dos empréstimos de norte a sul e o tamanho da dívida do governo, agora vale 14% ao ano. Um patamar incapaz de tirar o Brasil do topo do ranking da usura mundial.

O País convive há tanto tempo com juros de agiota, desde os anos 1990, que fica fácil de entender uma das conclusões do mais recente relatório anual da agência das Nações Unidas dedicada a temas comerciais e de desenvolvimento, a Unctad. O Brasil vive precocemente a “financeirização” econômica, mais comum em países desenvolvidos como Estados Unidos e certos europeus.

O fenômeno significa a economia do país girar cada vez mais em função do sistema financeiro e das decisões de banqueiros. Até empresas de outros ramos, como fábricas e lojas, passam a buscar crescentemente lucros no “mercado” e a dar menos importância a suas atividades originais.
De 1995 a 2002, as empresas nacionais investiram em seus negócios o equivalente a 178% de seus lucros, informa o relatório da Unctad, de setembro. De 2009 a 2014, foram 79%. A diferença provavelmente virou aplicação financeira. No primeiro período estudado, os ativos financeiros representavam 7% dos ativos das empresas. No seguinte, 11%.
Não surpreende a fatia da indústria no PIB ter caído – constatação da Unctad - de 27% nos anos 1970 para 11% em 2014. Segundo o organismo, a “financeirização” é um fenômeno de efeitos negativos, já vistos em nações avançadas. Exemplos: aumento das desigualdades de renda e do desemprego, queda da demanda, bolhas financeiras.
Uma forma de reverter isso, conforme a entidade, seria os governos obrigarem as empresas a reinvestirem seus lucros em atividades produtivas sempre que elas recebessem algum incentivo fiscal. Por aqui, seria um baita desafio, a julgar pela profundidade da “financeirização”.
 “O Brasil é um país rentista. Nosso empresariado precisa de taxa de juros altas, é um componente fundamental da política econômica”, diz o sociólogo Adalberto Cardoso, diretor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

O trem da alegria no mundo finanças proporciona situações curiosas. O País enfrenta desde 2015 uma grave crises econômica, dois anos de recessão de uns 3%. E, mesmo assim, o Itaú lucrou no ano passado 23 bilhões de reais, recorde bancário no Brasil, e já acumulou outros 10 bilhões no primeiro semestre de 2016. Idem para o Bradesco: 17 bilhões em 2015, 8 bilhões no semestre.
O magnetismo do “mercado” seduz todos os endinheirados brasileiros. O presidente Michel Temer declarou à Justiça Eleitoral na campanha de 2014 um patrimônio de 7,5 milhões de reais, dos quais 2,2 milhões (30% do total) estavam aplicados em CDB no Santander.
Outra pista do poder sedutor das finanças. É possível um cidadão comprar títulos públicos do Tesouro Nacional sem intermediários, em troca dos altos juros pagos. É uma aplicação chamada Tesouro Direto.
Em janeiro de 2013, dois meses após o Banco Central ter feito a última redução de o juro até a da quarta-feira 19, havia 334 mil pessoas no Tesouro Direto. Agora, são 930 mil. A maioria homens de 26 a 45 anos e moradores da região Sudeste. Juntos, eles têm aplicado 35 bilhões de reais.

Para quem tem dinheiro, o Brasil é a terra prometida. Para quem não tem...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Crise questiona a posição dos BRICS como potências emergentes

Olá alunos, 

A postagem de hoje procura mostrar que alguns problemas fazem diminuir as expectativas depositadas nas cinco economias que compõem os BRICS.

Esperamos que gostem e participem.
Palloma Borges, monitora da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.

Com apenas a exceção da Índia, os países emergentes que mais ganharam força nos últimos anos enfrentam problemas que questionam seu papel na economia mundial. Quando em 2001 se cunhou o termo BRICS, este grupo de cinco potências formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul emergiu como um bloco sólido, a grande promessa de crescimento inabalável. Mas a crise mundial também os afetou, em maior ou menor medida. Cada um carrega um fardo diferente, do excesso de dívida aos problemas de suas moedas. Ainda são potências emergentes, mas seus caminhos se separaram.

Em 2009 o Comitê Olímpico Internacional conferiu ao Rio de Janeiro os Jogos Olímpicos que terminam neste domingo. Um ano depois, a economia brasileira crescia 7,5% e o país se posicionava como nova superpotência mundial. Se na escolha das sedes dos grandes eventos esportivos estão subjacentes critérios geopolíticos, as decisões mais recentes atestam que há pouco mais de cinco anos os BRICS eram imparáveis: Brasil, Rússia, China e África do Sul foram os eleitos a partir de 2008 para acolher todos os grandes eventos esportivos, da Olimpíada à Copa do Mundo. Mas hoje esse protagonismo internacional murchou.

"Das cinco economias BRICS, quatro desaceleraram e até entraram em contração em 2015. A economia da China continuou freando e seu reequilíbrio, da produção de mercadorias até os serviços, pesou sobre o comércio mundial e sobre os preços das matérias-primas. Brasil e Rússia, dois grandes exportadores de matérias-primas, atravessam uma forte contração acompanhada da depreciação de sua moeda, superam suas metas de inflação e suas finanças públicas se deterioram. Na África do Sul, os gargalos crônicos no fornecimento de energia são um fator importante por trás do fraco crescimento." Assim avaliava o Banco Mundial, em um relatório de perspectivas econômicas globais, publicado em janeiro, a frágil saúde do grupo estrela dos emergentes. Salvava-se do perigo a Índia. "O crescimento na Índia continuou sólido, impulsionado por um forte otimismo dos investidores e o efeito positivo nas receitas reais da queda dos preços do petróleo", assinala.
Para além da potência de seu crescimento, a diversidade dos problemas que cada um desses emergentes arrasta põe em dúvida até o próprio conceito de BRICS. São ainda um bloco? Alguns especialistas duvidam de que suficientes laços os unam agora, a ponto de avaliá-los em conjunto. O Goldman Sachs, o banco de investimentos no qual trabalhava o economista Jim O' Neil quando cunhou o termo em 2001, fechou há alguns meses o fundo de investimento dedicado aos BRICS, depois de anos de perdas. Integrou seus investimentos em um outro, mais amplo, destinado a todos os mercados emergentes.

Brasil, com pés de barro

O Fundo Monetário Internacional prevê que a economia brasileira volte a crescer 0,5% em 2017. Mas, por ora, o país está mergulhado no abismo da recessão. Fadi Hassan, professor de economia no Trinity College, de Dublin, e assessor do banco italiano Unicredit, explica que a do ano que vem será "uma retomada depois de anos duríssimos. O Brasil é um exportador de matérias-primas e paga pelo desabamento dos preços. Dar nova forma à economia movendo recursos para outros setores requereria muito tempo". Apesar da dura desaceleração vivida, Rosa Duce, economista-chefe do Deutsche Bank, recorda que no panorama financeiro mundial o Brasil continua sendo peça-chave. "Quando os fundos de investimento põem no ponto de mira a América Latina nunca prescindem desse país. É importante demais."

Petróleo golpeia a Rússia

O desabamento do rublo (que em 2014 chegou a cair 8% em relação ao dólar) e o flagelo das sanções internacionais têm sido os fatores que mais castigam a economia russa. "O embargo é, sem dúvida, o desafio mais duro para a economia de Moscou", sentencia Faid Hassan.
Além das decisões políticas, a queda vertiginosa do preço do petróleo teve consequências para o país, o terceiro maior produtor do mundo, segundo os dados da British Petroleum (o brent, a referência europeia, é cotado ao redor de 50 dólares (160 reais), 63% a menos que em julho de 2014.

Índia se salva

A Índia representa a exceção que confirma a regra, e vem remando na direção contrária em relação aos demais integrantes do BRICS: cresceu 7,6% em 2015 e o fará em 7,4% este ano e no que vem, segundo o FMI. É o quarto maior consumidor de petróleo do mundo, e a queda dos preços do produto alimentou sua economia. Os analistas concordam em que as políticas de Raghuram Rajan, o até agora governador do Banco Central indiano (deixa o posto em 4 de setembro) têm muito que ver com estes resultados. Entre as principais medidas de Rajan está a luta contra a inflação: embora tenha alcançado na segunda semana de agosto 6,07%, o nível mais alto desde setembro de 2014, continua muito abaixo dos 10,92% de 2013, quando Rajan assumiu o cargo. É uma conquista importante em uma economia cujos bons resultados, segundo Duce, do Deutsche Bank, estão muito ligados ao consumo. "A Índia não tem grande dependência de financiamento estrangeiro, e esta autossuficiência tem sido uma de suas forças", opina Jean-Michel Six, economista-chefe da S&P para Europa, Oriente Médio e África, que alerta: "O crescimento é notável, mas de modo algum comparável aos resultados que a China obteve há 15 anos".

O dragão perde potência

Parece exagero duvidar de uma potência como a China, que no ano passado cresceu 6,9%. Mas este gigante precisa de uma economia dinâmica para garantir todos os anos trabalho para milhões de recém-formados e o incessante fluxo de migrantes que abandonam o campo em busca de fortuna nos centros urbanos. A recente desaceleração, portanto, fez soarem os alarmes. O dado do PIB de 2015 foi o pior desde 1990 e levou Pequim a reduzir as previsões de crescimento de 7% para 6,5% no plano quinquenal em vigor até 2020. As consequências da tempestade na bolsa, que açoitou o país no ano passado, continuam afetando os centros de negócios da China. Além do mais, o país "sofre de um grave problema que tem a ver com a dívida privada: o endividamento bancário beira 200% do PIB", afirma Hassan, do Trinity College. No entanto, Six destaca o fato de que o crescimento da China "segue sendo quase o triplo do da União Europeia [2,6%, segundo as estimativas do FMI]" e dá ênfase a outro dado: "As reservas de moedas estrangeiras chinesas eram 7% das dos EUA em 1980 e hoje são 60%. Faz sentido considerar parte do mesmo grupo uma economia desta envergadura e a do Brasil?", se pergunta.

África do Sul e o calcanhar de Aquiles energético

O crescimento da África do Sul, que superou a barreira de 3% em 2011, de acordo com o FMI, levou a uma forte expansão na infraestrutura, fundamental para a modernização do país. Mas agora a falta de manutenção, em razão da piora da economia - o FMI prevê para 2016 um fraco crescimento de 0,1%-, cobra a conta: "As interrupções do fornecimento de energia são tão frequentes e de tal magnitude que prejudicaram seriamente a produção industrial", garante Six. Outro fator que minou o desenvolvimento sul-africano, insiste, tem sido a "instabilidade das relações trabalhistas, que com frequência resulta em greves [como a do setor petrolífero no início deste mês] e violentas manifestações". No entanto, Duce ressalta que o aumento das exportações de ouro, um ativo de refúgio diante da atual incerteza dos mercados, poderia servir como base para uma lenta recuperação.

sábado, 3 de dezembro de 2016

Um em cada cinco jovens na América Latina não estuda nem trabalha

Olá alunos, 

A notícia de hoje mostra algumas razões pelas quais é possível afirmar que a economia latino-americana viveu uma década dourada, mas os jovens não se beneficiaram tanto como se esperava.

Palloma Borges, monitora da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense. 


A economia latino-americana viveu uma década de ouro, que incorporou milhões de pessoas à classe média, que passou de 21% da sociedade para 35%. Mas os jovens dessa região não se beneficiaram tanto quanto era esperado. Agora além do mais estão em uma situação muito vulnerável por causa da crise que enfrenta essa área do planeta com a queda do preço das matérias-primas. São 32 milhões de jovens latino-americanos entre 15 e 29 anos, um em cada cinco, que não estudam nem trabalham, de acordo com o relatório Perspectivas Econômicas da América Latina, da OCDE.


A pobreza e a marginalização se alimentam especialmente com essa geração, de acordo com o relatório, publicado no contexto da 25ª Cúpula Ibero-americana em Cartagena de las Índias (Colômbia). Cerca de 64% dos jovens latino-americanos vivem em lares pobres e vulneráveis.


A América Latina foi, nos últimos anos, uma das grandes promessas do planeta. Um crescimento sustentado na maioria dos países, graças ao aumento do preço das matérias-primas, e políticas de inclusão da era dourada da esquerda fizeram com que o mundo olhasse para essa região com enormes expectativas. A classe média aumentou, nasceram polos empresariais, cresceu o comércio e milhões de pessoas saíram da pobreza enquanto se expandia significativamente a cobertura da saúde pública e da educação. Mas o ponto de partida era tão baixo, a desigualdade tão forte, que o primeiro vento contrário, com uma desaceleração da economia latino-americana nos últimos cinco anos que agora já é claramente uma recessão, com dois anos de queda do PIB regional pela primeira vez desde a década de oitenta, pode destruir a maior parte dessas conquistas. E o bloco mais vulnerável parece ser a juventude, de acordo com o relatório da OCDE que se especializou em analisar a situação desse grupo.

Crise das expectativas


Todos os dados analisados indicam a mesma coisa: a saída do desastre latino-americanos dos anos oitenta e parte da década dos noventa diminuiu abruptamente quando ainda não tinha chegado a um ritmo suficiente para tirar a região de seu atraso em relação aos países mais avançados. A América Latina tem uma grande vantagem sobre a Europa, os EUA e outras regiões mais desenvolvidas: é muito jovem. Um quarto da população tem entre 15 e 29 anos. No entanto, as carências na educação, formação profissional e a desigualdade e falta de oportunidades em vastas áreas da região, especialmente nas periferias das grandes cidades, colocam em risco essa vantagem.
As conquistas até agora têm sido importantes, segundo o relatório. Mas não são suficientes. Entre 2000 e 2015 caiu de 42% para 23% a proporção de latino-americanos com menos de quatro dólares disponíveis por dia. Isso é causado por melhores salários, mais empregos e mais transferências. Mas em 2015, tudo isso foi truncado e sete milhões de pessoas caíram de volta na pobreza. Já há 175 milhões de pobres, 29,2% da população, e outras 25 ou 30 milhões de pessoas estão em risco de cair nela se a recessão continuar.
Isso está afetando especialmente os jovens, que estão sofrendo com uma enorme crise de expectativas. O relatório também detalha um dado inquietante já observado no Latinobarómetro, a principal pesquisa regional com mais de 20.000 entrevistas. “A desconexão profunda entre suas expectativas e demandas e a realidade está alimentando o descontentamento social e debilitando a confiança nas instituições democráticas. O resultado é que apenas um em cada três jovens confia nos processos eleitorais na América Latina e no Caribe”, diz o texto.
O principal problema é a desconexão dos jovens que abandonam a escola com o mundo do emprego formal, que nunca alcançam. “Os jovens procedentes de lares pobres e vulneráveis abandonam a escola antes que seus pares de lares acomodados e, quando trabalham, geralmente é em empregos informais. Com 15 anos, quase 70% dos jovens de famílias pobres estão estudando, enquanto que com a idade de 29, três de cada 10 nem estuda, nem trabalha. Outros quatro trabalham no setor informal, apenas dois trabalham no setor formal e um é estudante trabalhador ou estudante”, diz o estudo.