Olá alunos,
A notícia de hoje mostra que a concentração de inovações científicas e técnicas deram lugar a um novo abalo no mercado mundial. Diante disso, é possível afirmar que o próximo triênio será mais decisivo que os 50 anos anteriores.
A notícia de hoje mostra que a concentração de inovações científicas e técnicas deram lugar a um novo abalo no mercado mundial. Diante disso, é possível afirmar que o próximo triênio será mais decisivo que os 50 anos anteriores.
Esperamos
que gostem e participem.
Palloma
Borges, monitora da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal
Fluminense.
Assistimos a uma nova revolução industrial. Os
avanços tecnológicos
e científicos se sucedem a uma velocidade vertiginosa. Seu impacto
não se limita a melhorar os produtos e serviços existentes; o processo
inovador atual tem um caráter disruptivo, ou seja, está
alterando as regras de jogo em múltiplos âmbitos. A robotização
em grande escala, o big data, os smartphones,
as finanças
cibernéticas, a Internet das
coisas, o sequenciamento
do genoma humano, o bitcoin,
as energias
limpas, as plataformas
digitais de trocas entre particulares... Em menos de uma década, o
mundo assistiu a tamanha enxurrada de novidades que o resultado é uma transformação
radical de muitos setores com a entrada de novos concorrentes.
“Ao longo da história houve muitos momentos
disruptivos graças aos avanços técnicos. A diferença do momento atual é a
velocidade com que as mudanças se sucedem, num ritmo jamais visto”, diz João
Saint-Aubyn, especialista da consultoria Roland Berger, que participou
recentemente de uma série de jornadas organizadas pelo programa de fomento
empresarial Cre100do, da Espanha. A primeira Revolução Industrial trouxe
inovações mecânicas como a máquina a vapor e a ferrovia; a segunda abrangeu a
produção em massa através da eletrificação; a terceira popularizou os
computadores e a Internet. “Agora estamos às portas da quarta Revolução
Industrial, que seria caracterizada pela conectividade dos aparelhos, as
comunicações móveis, as redes sociais e a inteligência artificial. Trata-se de
uma época em que as barreiras entre o mundo físico e o digital são mais
confusas, e o consumidor está sempre conectado”, descreve Guillermo Padilla,
sócio-diretor de Consultoria de Gestão da KPMG Espanha.
Um dos traços característicos do momento disruptivo
atual é que se trata de uma revolução principalmente no âmbito da informação.
Os dados são o ingrediente essencial das empresas e da economia. “Essa é a
diferença: não é um projeto, processo ou inovação tecnológica simples. Na
verdade, está sendo gerado há anos, primeiro com a informatização de processos,
e depois com a Internet. Agora o que acontece é que todos esses avanços tecnológicos
se democratizaram, e isso os torna globais, poderosos e, em muitos aspectos,
ainda incertos sobre quem ganhará em cada setor, com quais tecnologias e com
quais avanços”, diz Santiago Carbó, catedrático de Economia da Universidade
Bangor (Reino Unido) e pesquisador do think tank espanhol Funcas.
Uma das consequências econômicas de tanta inovação
disruptiva é que o eixo do sistema se desloca da oferta para a demanda. Os
consumidores assumiram o controle nas relações comerciais. Além disso, há uma
mudança sociológica, quase cultural, pela qual está sendo abandonada a ideia
burguesa de que a melhor forma de demonstrar um determinado status é com a
posse de objetos materiais. Esses dois fatores, junto com desenvolvimento
tecnológico de plataformas digitais que colocam consumidores em contato uns com
os outros, estão por trás do fenômeno da economia colaborativa. Os
especialistas da PwC preveem que os ganhos da chamada economia compartilhada
saltarão dos atuais 15 bilhões de dólares (48 bilhões de reais) para 335
bilhões (1 trilhão) em 2025.
O intercâmbio de bens e serviços entre particulares
está colocando contra as cordas as empresas tradicionais de setores como
turismo, transporte, entretenimento, finanças e música. O Airbnb, por exemplo,
oferece três vezes mais leitos do que o maior dos grupos hoteleiros, e a Uber,
em apenas cinco anos de vida, se tornou a maior rede de transportes do mundo.
Apoio milionário
Os especialistas acreditam que a força da economia
colaborativa acabará se refletindo em outros setores, como material esportivo,
joalheria, têxteis e calçados. “As empresas da economia compartilhada recebem
mais financiamento do capital de risco do que qualquer outra atividade,
superando as redes sociais nos últimos anos. Desde 2009 elas captaram 23
bilhões de dólares (73,4 bilhões de reais) em financiamentos. Esse respaldo
econômico cria uma força disruptiva em numerosos setores”, observa Solange Le
Jeune, analista da gestora de fundos Schroders.
As empresas tradicionais não conseguem acompanhar o
ritmo, porque os gostos dos seus clientes mudaram, e os novos competidores não
são os tradicionais, e sim recém-chegados com DNA 100% digital. Um evidente
campo de batalha dessa agitação transformadora é o setor financeiro. O
crescimento do crowdfunding –o Banco Mundial estima que as vaquinhas digitais
movimentarão 90 bilhões de dólares (287 bilhões de reais) em 2020– e o
desenvolvimento do setor fintech (empresas tecnológicas que prestam serviços
financeiros) geram uma pressão sobre os bancos tradicionais. “A disrupção é
algo traumático porque acarreta uma transformação profunda. No setor
financeiro, a combinação de diferentes fatores está gerando uma ruptura na cadeia
de valor”, admite Álvaro Martín, chefe de regulação digital do BBVA Research,
durante sua palestra no evento do Cre100do. “É preciso escutar os millennials,
inclusive copiar o que outras empresas fizeram com sucesso. São necessários uma
mudança de cultura e um pouco de humildade, porque uma mudança tão profunda
você não consegue fazer sozinho”, acrescenta o executivo bancário.
O investimento em novas tecnologias relacionadas ao
setor financeiro cresceu de maneira exponencial nos últimos anos, passando de
1,8 bilhão de dólares em 2010 para 19 bilhões em 2015 (de 5,7 para 60,6 bilhões
de reais, pelo câmbio atual). A maior parte desse dinheiro se concentra por
enquanto na área de pagamentos. Apesar de tanto investimento e da contínua
especulação sobre a extinção dos bancos, até agora apenas 1% dos lucros dos
bancos de varejo migrou para modelos digitais. “Embora as companhias de fintech
tenham vantagem em tudo o que é relativo à inovação, os bancos tradicionais
ainda têm a sua escala a seu favor. Não chegamos ao ponto de inflexão da
disrupção digital. Entretanto, dado o crescimento do investimento em fintech,
esta situação não vai continuar por muito tempo”, alertou Kathleen Boyle,
analista do Citi, em um relatório.
A indústria automobilística é outro setor exposto a
uma profunda transformação graças aos avanços tecnológicos. O Barclays calcula
que a demanda por carros poderia cair até 40% em médio prazo. “Muitos jovens
não precisam carro. Um veículo compartilhado pode substituir oito carros
individuais. O conceito de mobilidade sob demanda, o uso do veículo entre
várias pessoas e a condução automática já estão colocando o setor à prova, ao
romper a cadeia de valor”, salienta Saint-Aubyn.
Mortalidade empresarial
A disrupção tecnológica teve um primeiro impacto
visível: a longevidade média das empresas caiu em dois terços nos últimos 50
anos. Além disso, é cada vez mais efêmera a liderança de uma companhia na
classificação global de lucros ou faturamento, devido ao encurtamento dos
ciclos de inovação. “Uma empresa que não assumir sua transformação profunda e
permanente como ferramenta fundamental para assegurar a competitividade perante
a globalização dos mercados não poderá manter sua posição de liderança”,
observam os autores do estudo intitulado Setores da Nova Economia, publicado
pela Universidade Politécnica de Madri.
As companhias tradicionais costumam ter dois tipos
de reação quando ameaçados por novos competidores digitais. A primeira é
pressionar os Governos para que imponham barreiras de entrada. Os especialistas
consultados, entretanto, acreditam que é impossível instalar porteiras no
mercado. “Enganam-se aqueles que querem reagir à inovação com mais regulação.
As normas nunca solucionaram nada em momentos de mudança, exceto aquelas que
serviram para garantir a saúde e as condições de vida dos trabalhadores”,
recorda Josep Valor, professor de Sistemas da Informação da escola de
administração IESE, em Madri.
A outra reação das empresas da velha economia tem
sido aplicar o axioma que recomenda se unir ao inimigo quando não for capaz de
derrotá-lo. Em outras palavras, sacar o talão de cheques e comprar (a preço de
ouro) start-ups que possam futuramente lhes fazer sombra. “Haverá fusões,
aquisições, joint ventures... Mas atenção, comprar uma empresa por si só não
vale nada, o que traz a disrupção é tudo o que vem depois. O importante é
modificar a cultura e gerar um ambiente onde o talento possa emergir”, avisa
Carlos Emilio Gómez, diretor do Waze Europe, uma empresa do Google.
A inovação disruptiva que estamos observando afeta
não só as empresas como também numerosas variáveis econômicas, da produtividade
ao déficit público, passando pelo nível de emprego e os índices de crescimento.
“A transformação digital que vivemos poderia ser comparada à transição de uma
sociedade agrária para uma sociedade industrial”, dizem os especialistas da
consultoria Pioneer num relatório titulado Investir em um Mundo Disruptivo.
Funcionários dessa gestora de recursos recordam que
a economia mundial atravessa um momento onde a maior parte dos países sofre um
excesso de endividamento. Uma possível solução para reduzir essa pesada carga
seria aumentar o ritmo de crescimento e, assim, reduzir o montante da dívida em
relação ao
PIB. Outra saída seria gerar inflação. No entanto, muitas das
inovações que estão sendo implantadas são altamente desinflacionárias. “Os
objetivos de preços se popularizaram nos anos setenta, depois da crise
petroleira, para dar aos agentes econômicos alguma certeza. Muitos bancos
centrais têm como meta situar a inflação em menos de 2%, mas devemos nos expor
se essas finalidades continuam a ser relevantes”, explicam fontes da Piooner.
Aqueles que sustentam a tese de que, depois da
crise financeira, a economia mundial entrou em uma fase de estancamento secular
- caracterizada pelos baixos níveis de crescimento e de incremento dos preços-,
defendem, também, que as inovações que estão sendo desenvolvidas não têm o
mesmo poder de gerar crescimento que os anteriores avanços tecnológicos, como a
máquina à vapor ou a automação. “O paradoxo dessa grande transformação é que
não parece que, de momento, haverá mudanças suficientes para falar de uma
revolução econômica clássica, com o aumento de ofertas de emprego e grandes
expansões. É, melhor dizendo, uma enorme mudança qualitativa que afetará cada
indústria conforme a tecnologia seja imposta ou adotada. Ao mesmo tempo, nas
economias avançadas, muitos cidadãos enfrentam uma perda de qualidade em seus
empregos e maiores desigualdades. O ajuste não vai ser singelo e muito menos
cômodo”, admite Santiago Carbó.
O emprego é, sem dúvidas, uma das variáveis mais
colocadas à prova com a concatenação dos avanços tecnológicos. É verdade que a
inovação gerará uma demanda de profissionais em novos campos, mas
desenvolvimentos como a robotização e a inteligência artificial têm um impacto
evidente nas indústrias mais intensivas no que diz respeito ao uso de mão de
obra. “A tecnologia deve ser entendida como um motor de crescimento. Em termos
de postos de trabalho, por exemplo, a inovação não pode ser concebida como uma
ameaça. De fato, em determinadas áreas, as novas ferramentas digitais podem
substituir funções mais mecânicas, mas essa transformação resultará na
necessidade de novos perfis profissionais, com outras qualificações”, conclui
Guillermo Padilla, da KPMG.
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