Olá alunos,
A notícia de hoje mostra que pesquisas explicitam que a
desigualdade no Brasil é muito maior do que se imaginava, e embora a elite
tente velar essa realidade, a questão da desigualdade pesa muito menos para o
lado das classes mais abastadas.
Esperamos que gostem e participem.
Palloma Borges, monitora da disiciplina "Economia
Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
A ampliação da transparência das declarações de
imposto de renda à Receita Federal do Brasil facilitou a mensuração das
disparidades no rendimento e no patrimônio dos brasileiros. Anteriormente, os
dados disponíveis advinham de surveys como a Pesquisa Nacional de
Amostra por Domicílio (PNAD) ou a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF).
Sabidamente, a renda dos mais ricos está subestimada nessas pesquisas, uma vez
que esses tendem a omitir sua receita quando questionados.
Já
as declarações de imposto de renda são mais precisas. Há que ponderar que, em
muitos casos, os bens imóveis declarados possuem defasagem de avaliação. Além
disso, uma parcela do patrimônio está contabilizada em pessoas jurídicas. Por
fim, a renda e o patrimônio podem não ser plenamente declarados. De todo modo,
esses são os melhores dados disponíveis, mesmo que se restrinjam as 27 milhões
de pessoas que declaram imposto de renda.
A partir desses dados, foram estabelecidos intervalos decílicos e
centílicos. Ou seja, as análises abaixo utilizam o universo dos dados em
intervalos de cem partes iguais, fragmentação centílica, ou em dez partes
iguais, análise decílica. Isso quer dizer que o 1º centil se refere ao 1% com
menores dados e o 8º decil se refere ao intervalo entre os 70% inferiores e os
20% superiores.
Outro esclarecimento metodológico relevante, antes de observar os
resultados, se refere às tipificações de renda. Os rendimentos das pessoas
físicas recebem tratamentos tributários diferenciados. Os “rendimentos
tributáveis” são majoritariamente compostos por rendimentos do trabalho, embora
tenha também rendimento de propriedade, como por exemplo, alugueis. Já os
“rendimentos tributados exclusivamente na fonte” e “rendimentos isentos” são
compostos majoritariamente por rendimentos do capital, como aplicações
financeiras, lucros, dividendos, embora esteja incluso também rendimento do
trabalho, como o 13º salário. A soma desses três tratamentos tributários será
chamada de “rendimento total” neste texto.
No gráfico abaixo é possível observar que a média de rendimentos se
eleva de maneira expressiva nas últimas faixas, sobretudo a partir do 96º
centil, cuja taxa de variação do rendimento médio em relação ao imediatamente
anterior é de 11,12%, chegando a 20,69% no 98º centil e 148,87% no último
centil, enquanto nas faixas intermediárias a taxa de variação fica em torno de
4%. Cabe destacar que o último centil se refere aos mais ricos entre os
declarantes e não em relação à população total. Como o gráfico está em R$
1.000,00; a última faixa retrata renda média acima de R$ 1 milhão.
Gráfico 1 – Rendimento médio total dos declarantes por intervalos centílicos
– R$ mil – Brasil - 2014
Fonte: Receita Federal do Brasil
Assim como na segmentação centílica, a repartição decílica do 1% mais rico entre os declarantes passa a elevar de forma mais significativa a partir do 6º decil, com uma taxa de variação de 12,31%, chegando a 30,91% no 9º decil e a 226,63% no último decil, cujo rendimento médio de cada declarante chega a R$ 3.879.300,00. Embora os declarantes permaneçam anônimos, é possível identificar que o declarante que obteve o maior rendimento em 2014 informou ter recebido R$ 1.071.215.915,10 (um bilhão) entre rendimentos tributáveis, dividendos e rendimento sujeito à tributação exclusiva.
Assim como na segmentação centílica, a repartição decílica do 1% mais rico entre os declarantes passa a elevar de forma mais significativa a partir do 6º decil, com uma taxa de variação de 12,31%, chegando a 30,91% no 9º decil e a 226,63% no último decil, cujo rendimento médio de cada declarante chega a R$ 3.879.300,00. Embora os declarantes permaneçam anônimos, é possível identificar que o declarante que obteve o maior rendimento em 2014 informou ter recebido R$ 1.071.215.915,10 (um bilhão) entre rendimentos tributáveis, dividendos e rendimento sujeito à tributação exclusiva.
A exposição das declarações de bens e direitos é também importante para um
entendimento mais acurado do Brasil. Embora muitos desses bens não sofram
atualização na base de dados da Receita Federal, como os imóveis, outros são
atualizados anualmente, como as aplicações financeiras, por exemplo. Esses
dados podem servir como proxy de riqueza. Embora não haja apenas um
indicador de riqueza, a consideração do acúmulo pregresso de bens móveis e
imóveis, dinheiro, companhias entre outros bens declarados no imposto de renda
pessoa física conformam a estimativa mais exata que existe. No que concerne aos
bens e direitos, é possível observar uma elevação acentuada nos quatro últimos
centis. Na repartição decílica do último centil, a variação mais acentuada se
dá nos últimos dois: 54,12% e 241,14%, respectivamente.
Gráfico 3 - Média patrimonial dos declarantes de imposto de renda por centis - R$ milhões - Brasil - 2014
Gráfico 4 - Média patrimonial do último centil dos declarantes de imposto estratificada por decis- R$ milhões - Brasil - 2014
Antes de 1995, o País tributava os dividendos de
forma linear e exclusiva na fonte, com uma alíquota de 15%, independentemente
do seu volume. Em 1996, com a aprovação da Lei nº 9.249, os lucros ou
dividendos passaram a ser isentos. Na medida em que os dividendos são isentos
de impostos, os segmentos mais elevados da sociedade contribuem menos ao
erário. Os rendimentos isentos de 2014 alcançaram R$ 733,6 bilhões, enquanto o
imposto devido total de todos os declarantes foi de R$ 128,83 bilhões, ou seja,
bastante abaixo do valor dos rendimentos isentos. Cabe destacar que as isenções
de dividendos beneficiou 2,1 milhões de pessoas, dentre elas as 20,9 mil mais
ricas do Brasil (0,01%), as quais possuem patrimônio médio de R$ 40 milhões.
Chama atenção também, nas declarações de imposto
de renda, o volume de subsídio existente aos gastos privados em saúde e em
educação. No mesmo ano em análise, as despesas declaradas chegaram a R$ 76,78
bilhões, 59,6% do imposto devido total, ponderando-se que a dedução não é
integral. Adicionalmente, verifica-se que as alíquotas de imposto brasileiras
são relativamente menores, seja na comparação com os países desenvolvidos, seja
com os demais países da América Latina, conforme já exposto em textos
anteriores.
Os dados acima explicitam que a desigualdade no Brasil é maior do que se imaginava, com uma discrepância grande daqueles declarantes que figuram entre o 1%, o que corresponde a 0,13% mais ricos da população total. Ressalta-se ainda que esses declarantes possuem expressivos rendimentos isentos de impostos, ou seja, lucros e dividendos. Desde as primeiras sistematizações mais acuradas sobre o funcionamento da economia, ainda no século XVIII, se preconiza que os tributos devem ser proporcionais à renda dos indivíduos. No Brasil há muito a avançar nessa temática.
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