Olá alunos,
A notícia de hoje busca suscitar uma reflexão acerca dos reais efeitos que a Olimpíada pode produzir no país que torna-se sede desse megaevento. Afinal, qual é o legado que os Jogos Olímpicos 2016 podem realmente deixar para o futuro do nosso país, sede do evento que ocorre em sua trigésima primeira edição?
Esperamos que gostem e participem.
Palloma Borges, monitora da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
Na prática, ao menos o efeito de curto prazo do evento parece ter sido o oposto (embora ainda haja quem defenda que o Brasil pode colher no longo prazo os frutos da exposição midiática conseguida com o Mundial).
Os feriados e paralisações
provocadas pelos Jogos tiveram um impacto negativo na produção industrial e na
economia como um todo, sendo responsabilizados pelo próprio governo pela queda
de 0,6% do PIB no segundo semestre de 2014.
O que esperar, então, da Olimpíada
- que, ao que tudo indica, ocorrerá em um momento ainda mais delicado para a
economia brasileira?
Os Jogos vão dificultar a retomada
do crescimento ou podem contribuir para criar um clima de otimismo - o que
alguns economistas chamam de feel good factor - que favoreça a volta dos
investimentos?
Estudos de impacto
Quando o Rio de Janeiro ainda
competia com Madri, Tóquio e Chicago para ser a sede dos Jogos Olímpicos, em
setembro de 2009, um estudo encomendado pelo Ministério dos Esportes à Fundação
Instituto de Administração (FIA) estimava que a competição poderia movimentar
US$ 51 bilhões em recursos e gerar 120 mil empregos.
O estudo defendia que os
investimentos feitos para o evento teriam um efeito multiplicador amplo e
diversificado sobre a economia, que duraria anos. O impacto também seria
positivo fora do Rio de Janeiro - cerca de metade desses postos de trabalho
beneficiariam moradores de outros Estados.
Em janeiro de 2014, um relatório
preliminar de outro estudo, encomendado pelo Comitê Organizador dos Jogos
Olímpicos à Universidade Federal do Rio de Janeiro, também defendia que o
evento pode proporcionar "benefícios para as economias local, regional e
nacional, ao estimular investimentos incrementais e estruturais."
E em dezembro, o prefeito do Rio de
Janeiro, Eduardo Paes, defendeu numa audiência pública que a Olimpíada será
marcada pela economia de recursos públicos, obras finalizadas no prazo e um
legado econômico e social significativo.
"Tenho muita convicção de que
a história da Olimpíada é bastante diferente do que foi a história confusa da
Copa do Mundo. O modelo construído e a maneira como está se fazendo, inclusive
do ponto de vista orçamentário, é algo bastante diferente", disse ele.
"(A Olimpíada) é uma
oportunidade de mostrar um Brasil diferente do país que atrasa licitações e
superfatura preços. (...) É uma enorme oportunidade de transformação",
completou, mencionando, em seguida, a expansão da rede hoteleira do Rio de
Janeiro.
Economistas e especialistas ouvidos
pela BBC Brasil, porém, têm uma visão mais cética sobre o possível impacto dos
Jogos na economia.
Juan Jensen, da Consultoria
Tendências, por exemplo, nota que, tanto em alcance geográfico quanto temporal,
a Olimpíada é um evento menor que a Copa. Por isso tende a ter um impacto ainda
menos relevante para a economia brasileira como um todo
Ceticismo
Para começar, os torneios duram
apenas duas semanas - não quatro, como no Mundial.
À exceção dos jogos de futebol,
todas as competições ocorrem no Rio de Janeiro, enquanto na Copa eram 12
cidades-sede.
Além disso, apesar de a primeira
vista parecer muito, os R$ 38 bilhões de investimentos ligados à Olimpíada são
pouco significativos em um país com um PIB de R$ 4 trilhões.
"No longo prazo de fato existe
a possibilidade de que a Olimpíada ajude a promover o Rio como destino
turístico mundo afora. Se tudo ocorrer como previsto, sem incidentes de
violência, podemos ter um ganho em termos de imagem", diz Jensen.
"Mas a essa altura não é uma
Olimpíada bem organizada que vai mudar o humor do empresário ou convencer
estrangeiros a investirem no Brasil. O que convence o investidor é ver que o
país está crescendo e que tem um ambiente institucional favorável, respeito às
regras e etc."
Otto Nogami, professor do Insper,
concorda - e acrescenta que, mesmo os efeitos positivos de longo prazo, não
estão garantidos.
"Sempre existe o risco de que,
se houver qualquer problema durante o evento, a imagem do Rio saia
enfraquecida", diz ele.
"Além disso, mesmo olhando
apenas para a economia do Estado que recebe os Jogos, é preciso considerar que
também haverá feriados e paralisações, que podem neutralizar os efeitos
positivos de gastos mais aquecidos em determinados setores."
Evidência empírica
Para Wolfgang Maennig, especialista
em economia do esporte da Universidade de Hamburgo, que vem estudando há anos
os impactos econômicos de grandes eventos esportivos, essas competições
"costumam ser um jogo de soma zero".
Segundo ele, estudos empíricos não
captaram nenhum efeito significativo dos Jogos na geração de emprego, renda e
arrecadação de impostos.
No que diz respeito ao fluxo de
turistas, muitas cidades-sede de Copas ou Olimpíadas teriam até registrado
quedas, uma vez que turistas tradicionais e corporativos costumam evitar esses
destinos durante as competições.
"Uma Olimpíada é, basicamente,
uma grande festa. As pessoas ficam mais felizes. É um momento de celebração do
esporte para ser lembrado por muitos anos - mas não mais que isso", diz
Maennig, que foi campeão olímpico de remo pela Alemanha Ocidental e esteve em
todas as Olimpíadas realizadas desde 1984.
"Mas por que uma cidade quer
ser sede dos Jogos Olímpicos? Para celebrar o esporte? Não, na grande maioria
dos casos é para conseguir maior poder de barganha na competição por recursos
federais para obras de infraestrutura."
Segundo Maennig, o problema é que,
para legitimar essas candidaturas, muitos governos acabam apresentando estudos
de impacto com estimativas infladas de geração de emprego e renda.
"Em quase todo país que
compete para sediar uma Copa ou Olimpíada é a mesma coisa. Por isso, a primeira
coisa que precisamos fazer para ajustar essas expectativas é acabar com esses
estudos de impacto prometendo milhares de emprego", opina.
Pedro Trengrouse, especialista em
Gestão, Marketing e Direito no Esporte da FGV, que foi consultor da ONU para a
Copa, ressalta que a Olimpíada deve deixar um legado de infraestrutura positivo
para o Rio de Janeiro em particular, na medida em que já contribuiu para
concentrar investimentos do governo federal na cidade.
"Mas não adianta colocar as
Copas ou Olimpíadas de verão ou inverno como solução de problemas econômicos
que não tem nada a ver com esses eventos esportivos", opina ele.
"No mundo inteiro já há um
debate amplo sobre os custos e benefícios de se receber essas competições
justamente porque se percebeu que, ao menos do ponto de vista econômico, nem
sempre a conta fecha. Não é a toa que em muitos lugares a questão já está sendo
levada a plebiscito."
O Ministério dos Esportes não
comenta sobre o impacto econômico da Olimpíada, mas ressalta que o evento
deixará um legado importante no campo social e esportivo que beneficiará todos
os Estados da federação, ao contribuir para colocar o Brasil no caminho de se
tornar "uma potência esportiva".
"Desde que o Brasil conquistou
o direito de sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, o governo
federal tem atuado para que o legado do maior evento esportivo do planeta
contemple todos os Estados e o Distrito Federal", diz uma nota do
Ministério.
A nota menciona a construção de 12
centros de treinamento de diversas modalidades, 261 Centros de Iniciação do
Esporte, 46 pistas oficiais de atletismo e dez instalações olímpicas no Rio de
Janeiro, além da compra de equipamentos de ponta em vários Estados.
"Os investimentos, superiores
a R$ 4 bilhões, têm proporcionado a construção e a consolidação de uma Rede
Nacional de Treinamento, com unidades que beneficiarão brasileiros em todas as
regiões, contribuindo para a formação de novas gerações de atletas."
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